24 Julho 2014      00:04

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Eu quero um “Obamacare” ou alguém que se "care"

O que vou contar não será novidade para a maioria, será, aliás quase que um “déjà vu” que já todos sentiram na pele. O funcionamento do Sistema Nacional de Saúde precisa de ajuda!

Nunca fui defensor do Estado-Pai (ou mãe). Defendo que o Estado tem responsabilidades, mas que não pode resolver todos os problemas dos seus cidadãos, e muito menos o devia fazer, aos seus bancos (dá-se o caso de o Estado parecer ter trocado estas prioridades). No entanto, na Saúde, na Educação e na Justiça (o Estado Social é transversal às três), o Estado não pode falhar e tem que fazer cumprir a sua responsabilidade, caso contrário, não serve para nada e não servir para nada pode ser muito mau…

Enquanto nos EUA, Obama e o seu “ObamaCare”, contra ventos e tempestades, procuram tornar mais universal o acesso à saúde, em Portugal, por via do mau serviço prestado, parece querer provocar-se nova corrida aos seguros de saúde. Algo do género: “aqui demora quatro meses, se tiver um seguro de saúde vai ali ao "Hospital do Salva Tudo", e demora três semanas.”.  Não crítico profissionais, pelo menos no seu todo (conheço muitos e bons médicos, enfermeiros e auxiliares que são um exemplo de profissionalismo e de ser humano), crítico o modo de funcionamento; e dou-vos dois exemplos próximos: ainda na terça-feira, dirigi-me a um hospital de Évora, com a minha filha, para um consulta que estava marcada há meses, às 10 horas da manhã. Entre a má informação das senhas e vai aqui e vai para ali, o péssimo sistema de som - de onde berrava uma senhora, muitas vezes impercetível, que chegou a acusar os pacientes na sala de espera geral (Não sei porquê, mas desta vez ouviu-se bem! Curioso!), essencialmente idosos, de fazerem muito barulho e serem os culpados de não ouvirem os seus nomes e estarem a atrasar as consultas-, eram 11:30 da manhã quando procurei mais informações, já um pouco aflito com o tempo. Foi-me dito que as consultas estavam todas atrasadas porque tinha havido um problema (obrigado pelo aviso; se não me tivesse rebelado ainda estava à espera de novidades!) e, a consulta da minha filha, marcada pelo hospital, há meses, para as 10 horas daquele dia, estava muito atrasada e não podia dar garantias se seria naquele dia! Acrescentou ainda que podíamos reagendar a consulta; e assim se fez; data da consulta: dezembro! Quer dizer: o sistema marca consulta com meses de antecedência, o utente está presente à hora marcada no local correto, o sistema atrasa e a consulta passa para cinco (exatamente, 5) meses depois! Convenhamos, dá vontade de largar um forte e expressivo: “- Vão pró…raio que os parta!” (como víria a ouvir umas horas depois, numa loja de telecomunicações, e também após umas horas de espera). E que seria legítimo, pois eles (tal como eu) são funcionários públicos, e eu, pagando impostos, sou utente público, ou seja, comparticipo os seus salários. Pagando impostos, exijo qualidade! Ou, permitam-me não os pagar!

Enfim, surreal! Mas nada disto é novo, há cerca de 8 anos, o meu avô, pessoa com setenta e tal anos, com cancro, foi chamado ao hospital para pôr um cateter para fazer quimioterapia. Foi-lhe marcada esta intervenção para as oito da manhã. Sendo de fora, lá teve que se levantar por volta das seis, para estar em Évora a horas, para o fazerem esperar até às 20, para um uma intervenção de 15 minutos!!!!

Com tudo isto a andar às voltas, tal como os ponteiros do relógio, comecei a magicar e apareceu um “brainstorming” mental que partilho, parcialmente, agora:

Para trás e para a frente andavam dois ou três delegados de informação médica. Quantos ocupam tempo e espaço do erário público de modo a promover iniciativas das “all mighty” farmacêuticas?

Há poucos dias, li aqui no Tribuna, que num concelho alentejano, tinham contratado médicos estrangeiros. Razão, segundo a lógica, os portugueses não são suficientes. Horas depois dou-me conta que a Ordem dos Médicos se insurgia contra “o número excessivo de vagas para medicina no Ensino Superior!” Qualquer coisa não bate certo…

Na televisão, a espaços, mostravam informações do exame de avaliação de professores contratados (nem falarei do exame e de como descredibiliza o sistema universitário, aliás, sugiro que, em vez de se fazer uma prova deste tipo, se unam em grupos de cinco e joguem trivial! O que que não conseguir “queijinhos” fica de fora) e viam-se imagens de escolas com dezenas de polícias do corpo de intervenção à porta, para evitar desacatos, presumo (a escola não os chama quando à sarilhos em tempo letivo, quando um professor é agredido ou vê o seu carro vandalizado…curioso, mais uma vez) e levou-me a outro pensamento, o de como o Estado utiliza os seus “peões” uns contra os outros de modo a fazer o que lhe dá na gana! Professores, médicos, enfermeiros, polícias deviam estar todos ao serviço do mesmo, do bem-estar comum do Estado que todos representam, ao qual todos devem, e têm, a receber! Mas não, enquanto os sistemas forem orquestrados de modo a beneficiar o bolso de uns quantos (quase sempre os mesmos), não passaremos de um país terceiro mundista com aspirações a ser um a sério. Tivemos sorte em estar na Europa, e, quiçá por pena, nos aceitarem no meio de países com “P” maiúsculo! Ainda assim, por culpa deste mau funcionamento e falta de ética e brio, seremos sempre o parente pobre (mais que pela falta de dinheiro, que, se pensarmos bem, até decorre dos fatores que enuncio).

Quando um país não cuida dos seus, que muitas vezes é desumano no trato, que gasta milhões em investimentos e projetos de cariz duvidoso e processos sombrios, salva corruptos e ladrões da banca e fecha escolas, centros de saúde e afins, serve para quê?

Ele há dias que se não fosse o sistema nacional de saúde ser o que é, e ia-me lá internar! Talvez seja por isso…

 

imagem de: Fibonacci Blue