18 Janeiro 2013      22:27

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A escola: reflexo da sociedade

“ Um país que destrói a Escola Pública não o faz nunca por falta de dinheiro, porque faltam recursos ou porque o seu custo é excessivo. Um país que desmantela a Educação, as Artes ou a Cultura, está já governado por aqueles que só têm a perder com a difusão do saber - Italo Calvino

Se é verdade que a sociedade é em grande parte fruto do sistema educativo, não o é menos que a escola tem sido o reflexo de tudo o que acontece na sociedade. Em consequência, na escola as alterações sociais significam automaticamente alterações comportamentais, às quais as estruturas educativas não têm sabido responder; pior, nem se têm preocupado em encontrar muitas soluções e muito menos se mostram capazes de prever as alterações. A crise económica - que é na minha opinião muito mais que isso - teria irrevogavelmente (na verdadeira aceção do termo) influência no dia-a-dia escolar. Ninguém quis saber e agora está aberto o caminho para o caos.

A pioria da condição económica familiar da maioria dos alunos tem logo efeito na alimentação dos mesmos. Estando este princípio básico de humanidade por preencher, tudo o resto dificilmente funcionará. Aqui, algumas escolas têm feito um esforço em suprimir este problema, mas tem sido em muitos casos, insuficiente.

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O ambiente familiar sofreu alterações; o estado de ânimo de quem estava habituado a um certo nível de vida e foi obrigado a alterá-lo, num curto espaço de tempo, não podia ser de felicidade e tranquilidade. Não existem sinais de esperança, há insegurança em relação ao posto de trabalho e existe, permanentemente, uma sensação de perda. O pior é que a sensação de perda é mais que isso, é uma perda real. Alguns pais tentarão suprimi-la com trabalho extra, outros não, mas de um modo ou outro, o ambiente familiar, quer em tempo dedicado à família, quer em disposição, mudou. Na escola, o filho que veste o papel de aluno leva com ele as angústias familiares. A desmotivação, a falta de algo, o cabiz baixo são um novo uniforme escolar transversal à maioria dos alunos.

Para os alunos mais atentos e preocupados, o estado atual não inspira confiança num futuro próspero e alguns automaticamente desinvestem da escola; afinal, se já há tantos desempregados em todas as áreas, para quê queimar pestanas a estudar? Não digo que seja uma ideia razoável, muito menos aceitável ou digna de desculpar a falta de empenho, no entanto, também não é plenamente desprovida de razão. Em consequência dessa desmotivação, as notas baixam, o pouco interesse desaparece e dá lugar à indisciplina, ao bullying e a mais uma série de outros comportamentos reprováveis, que têm vindo a crescer em número e gravidade, e que não têm recebido respostas adequadas das entidades competentes.

Na sala de aula tudo isto se cruza e se mistura. Às salas de aula, cada vez mais cheias e heterogéneas, chegam todos os problemas sociais. Mas há ainda a adicionar a este autêntico cocktail explosivo o facto de também a classe docente estar ela própria desmotivada, cansada e muitas vezes impreparada para gerir estes novos desafios que se lhe apresentam. Faltam psicólogos na escola; faltam atividades de team-building para a classe docente, falta uma relação mais harmoniosa e profícua entre todos os intervenientes do processo educativo. Solidariedade, respeito e entreajuda são bons caminhos a cultivar, mas são necessárias respostas ministeriais eficazes. O problema é que o ministério faz de conta que tudo está bem e parece mais preocupado em fazer implodir o sistema educativo, provavelmente (e especulando) para vender barato ao privado.

Se a escola fosse mais que uma mera formadora de profissionais e fosse tida e vista também como formadora de seres pensantes, de indivíduos membros de uma sociedade, quiçá esta desmotivação não acontecesse agora, pelo menos não de modo tão acentuado, mas infelizmente, e por culpa da falta de um Sistema Educativo estável, consensual e justo, há muito a escola vem descurando a formação pessoal. O sentimento foi preterido ao número, a Pessoa foi secundarizada e esquecida em função do Profissional; afinal é necessária mão-de-obra, que não questione e de baixo custo, para enviar para a diáspora.

(foto de Alex)