23 Agosto 2014      01:00

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Eleições primárias comportamentos primários

Muito se tem dito e escrito sobre a actual situação interna do PS. No entanto, ao contrário do que se podia esperar, as maiores polémicas e comentários inflamados surgem dos próprios militantes do PS, apoiantes de ambos os candidatos.

Uma das vantagens que muitos apontam nas eleições primárias: a proliferação do debate em torno do partido e da melhor estratégia para a sua gestão em face da situação actual do País, está a transformar-se num autêntico tiro no próprio pé.

Em vez do debate temos a ofensa. Em vez de apoio ás moções já apresentadas temos difamações e humilhações.

Em vez de um Partido aberto à participação política de simpatizantes, temos militantes a passar uma imagem do mais negativo que há.

Razões houve para que, em tempos, a actual direcção do partido rejeitasse a realização de eleitores primárias. Razões essas que sempre me pareceram acertadas pelo que me custa a crer que o actual Secretário Geral e a equipa que o apoia estejam a recorrer a estas eleições como estratégia de humilhação de António Costa, numa tentativa de vencê-lo pelo cansaço.

Custa-me a crer que António José Seguro se esteja a esquecer do seu papel enquanto secretário geral de um partido, para se deixar levar ou até mesmo liderar estratégias muitas vezes associadas a outras frentes partidárias nos seus tempos de Juventude.

Custa-me a crer que aquele Secretário Geral que nos últimos três anos pouco ou nada tem mostrado em termos da fibra exigida num líder do maior partido da oposição perante o actual estado do País, só agora tenha acordado e decidido começar a agir, embora com mais uma abstenção violenta registada há poucos dias.

Custa-me a crer que o actual Secretário-Geral afaste de forma completamente discriminatória os jovens da Juventude que em tempos liderou e que agora teima em renegar.

Resumindo, custa-me a crer que, num dos Partidos fundadores da democracia, se estejam a tomar atitudes anti-democráticas que fazem lembrar outros tempos.

Tudo em prol de ambições pessoais.

António Costa podia ter avançado antes? Talvez, mas ainda antes tentou um acordo com António José Seguro. Ainda antes conquistou a Câmara de Lisboa com maioria absoluta. Ainda antes conseguiu levantar e entusiamar uma sala repleta de militantes numa convenção nacional, trazendo o ânimo que os socialistas há muito esperavam.

António Costa podia ter esperado mais tempo após as eleições europeias com um resultado muito pouco histórico do PS? Não!

Uma maior diferença era exigida perante um Governo completamente descredibilizado.

As eleições europeias só vieram confirmar o que há muito já se sabia: António José Seguro está longe de ser o Primeiro Ministro que os portugueses querem e precisam.

Há já muito tempo que a direita em peso não tremia com o avançar de um nome para candidato a Primeiro Ministro.

Há já muito tempo que os portugueses não sentiam tanta esperança na Mudança.

António Costa poderá ter errado e certamente irá errar mais algumas vezes, mas uma coisa é certa, toda a sua experiência e percurso falam por si, passem os meses que passarem.

Ainda faltam algumas semanas para o fim deste Verão quente.

Até lá gostava de ver discussões sérias em torno das propostas apresentadas (independentemente do maior ou menor número de páginas da moção) em lugar de acusações e críticas apenas porque a outra pessoa não apoia o mesmo candidato que nós.

O PS não é isto. O PS não se pode tornar nisto.

Uma mudança é urgente pelo que venha daí o final do Verão.