18 Fevereiro 2014      00:00

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As Aventuras de Huckleberry Finn

Foi em 1876 que Sammuel L. Clemmens, conhecido para a literatura como Mark Twain, começou um esboço do que viriam a ser ““As Aventuras de Huckleberry Finn”, a obra que Ernest Hemmingway definiu como “a origem da literatura norte-americana”.

A obra chegou a estar proibida em algumas bibliotecas e escolas pela sua legada "subversão da moralidade"; era acusada de relatar mentiras, de dar destaque e relevância a maus costumes, a ladrões e de exaltar a degradação do respeito e da religião, além de utilizar uma linguagem imprópria e de conter erros gramaticais.

As Aventuras de Huckleberry Finn

O grande sucesso de “As Aventuras de Huckleberry Finn”, perfeito na sua forma e estilo, é que o romance se baseia em ser (aparentemente) um livro para crianças, isto apesar de ser um livro que, numa análise mais exaustiva, é profundamente filosófico e que tratará sobre justiça, poder e Deus; para muitos, um exemplo de moral genuína. Trata com figuras reais e humanas e debruça-se sobre problemas éticos, étnicos, sobre a estrutura social e a igualdade o que por si só demonstra o vanguardismo e coragem de Twain, já que, na sociedade americana de então muitos se negavam a ver a realidade. Era um país encenado, onde a fachada parecia perfeita, mas que por dentro estava cheia de problemas, sendo a existência de escravidão o maior de todos eles. Foi isto que Twain expôs em “Huckleberry Finn”.

Uma obra assim, onde a autenticidade está em todo o lado, com carácter crítico e que retrata a pureza do ser humano e a sua corrupção pela sociedade, dificilmente seria aceite sem contestação.

"foi como se tivesse nascido outra vez, estava tão contente por descobrir quem era..."

O crescimento e re-descobrimento do ser humano na passagem de adolescente a adulto é outro dos temas abordados nesta obra extraordinária.

Huck era um rapaz traquina, que não gostava da escola, indisciplinado e com uma tendência inata para agir livremente e para gerir as suas relações em função do que o fazia sentir melhor e não do socialmente correto. A história desenvolve-se em torno dele e da sua a educação e o progresso, deste seu re-descobrimento através da experiência vivencial. É um pleno de valores; a sua palavra tem valor contratual; é honesto, inteligente e amigo do seu amigo, leal. Adora estar no bosque e esse contacto com a natureza é a única forma de religião que reconhece, provém do amor ao rio; representa a verdade, a moral, a pureza.

Ao final de cada dia em sociedade, Huck voltava ao rio com sensação de alívio e agradecimento; cada regresso ao rio era um momento de prazer, de contemplação, de beleza e sentir o mistério a força de Deus pela natureza. Aliás, o rio como Huck, fazem o que querem, vão por onde querem, são gémeos livres e selvagens.

O rio Mississipi tem um papel de extrema relevância; muitas vezes é o decisor, é ele quem a caba por controlar a fuga de Huck e Jim.

Jim, um escravo com sem instrução, torna-se o companheiro de viagem de Huck. Ambos estão ligados pelo medo e por um interesse comum: a liberdade; o primeiro foge da escravidão, o segundo da sociedade, da suposta, civilização.

Para Huck, com base na sua pureza, Jim é um ser humano digno de respeito, apesar de negro, o que contrariava todos os pressupostos sociais e raciais da época, demonstrando assim a sua inocência e ingenuidade, próprias da idade. Por sua vez, Jim é corajoso e leal; juntos completam-se.

Uma fantástica aventura, por vezes cómica, onde a luta pela liberdade, a igualdade e amizade são mais fortes que a corrupção social.

(imagem de fnac.pt)