3 Outubro 2016      11:22

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VIDAS DESLOCADAS

O dia começa cedo. Há trânsito a evitar pelo que um minuto de preguiça equivale a vários minutos em filas intermináveis.

Da véspera o cansaço de mais uma viagem da primeira para a segunda casa. São poucas horas de caminho mas, por vezes, a distância quase equivale a um oceano.

A rotina diária começa a ser feita. Durante o dia um telefonema para contar as peripécias do membro mais recente da família e o coração apertado por, mais uma vez, não ter estado lá.

Mais uma peripécia da pequena perdida, mais um momento familiar perdido, o jantar que se anda a marcar há anos a continuar por marcar.

O trabalho continua a ter que ser feito pelo que não há tempo para paragens nem pensamentos de justiça ou injustiças. Mal ou bem é uma oportunidade dada e que tem que ser agarrada com as duas mãos e todo o empenho e dedicação.

A semana passa e o fim-de-semana terá que ser longe, provavelmente sozinho. A gasolina não para de aumentar e os impostos e despesas profissionais e domésticas não perdoam.

Valerá a pena? Poderá ou não valer, mas as alternativas ali são poucas e aqui, com mais ou menos reconhecimento, a vida independente começa a ser conquistada.

Este é o cenário de muitos jovens e menos jovens no nosso País em diversas áreas de trabalho.

Pessoas que todos os dias se levantam com o coração distante mas com o cérebro virado para a vida laboral e para a necessidade de sobrevivência.

A vontade de voltar e ser mais activo no sítio onde nascemos continua sempre lá mas a realidade puxa-nos.

É a crise, dizem uns, é a vida, dizem outros. Para todas estas pessoas é a realidade. Não é o caminho mais fácil. É o caminho possível e custe ou não, tem que ser percorrido.

Em diversas áreas laborais, a dicotomia litoral/interior continua a fazer-se sentir tendo este cenário como destino final.

Compete às Autarquias, criar e incentivar a criação de oportunidades nas diversas áreas laborais sob pena de, dentro de alguns anos, as caras que hoje exercem as profissões desaparecerem sem que tenha sido dada qualquer oportunidade aos mais jovens.

Na minha primeira aula da Faculdade, a assistente de História do Direito disse: aproveitem ao máximo, vocês aqui estão protegidos, lá fora acreditem, é uma selva!

Nunca como hoje tais palavras fizeram tanto sentido.

Imagem de capa daqui.