22 Abril 2016      16:36

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UM PÁTiO AZUL NO ALENTEJO

Paula Estorninho é arquiteta, natural de Moçambique e vive em Serpa. Em 2005 começou a fazer bonecas e em 2011 criou o projeto “No Pátio Azul”, fotografando as bonecas que cria e partilhando-as com o mundo no blogue http://nopatioazul.blogspot.pt/ Descreve as bonecas que cria como “figuras de aparência delicada, pequenas com um palmo, preciosas como jóias, simples como o gesto que as cria, sensíveis como tendo uma alma, são essencialmente muito femininas”. Conheça-as em https://www.facebook.com/NoPatioAzul/timeline

Tribuna Alentejo – Onde fica o Pátio Azul e como é este lugar?

Paula Estorninho – O Pátio Azul é o pátio da casa onde habito em Serpa. Um pátio resguardado de altos muros, caiado com pigmento azul, onde batizo as bonecas.

Tribuna Alentejo – Quando começou a criar estas figuras? Quem são elas?

Paula Estorninho – Comecei a criar estas figuras em 2005. São figuras essencialmente femininas, embora por vezes surjam alguns seres estranhos no meio delas: homens pássaros, homens lobo, entre outros. As bonecas são o que quisermos que elas sejam, refletem os nossos desejos, os nossos sonhos, as nossas forças e fragilidades, as nossas emoções e, por isso, são um pouco de mim e de todos os que as adquirem.

Tribuna Alentejo – Como surgiu a ideia de fotografar as figuras e de partilhá-las num blogue?

Paula Estorninho – Elas eram oferecidas aos amigos que me incentivaram a fazer exposições, nessa altura surgiu a ideia do blogue como forma de partilha e divulgação.

Tribuna Alentejo – Nessa altura as suas bonecas ainda não conheciam novos horizontes. Por que decidiu deixá-las ir?

Paula Estorninho – Elas queriam conhecer novos mundos. As fotografias No Pátio Azul são o início. Aí adquirem o nome e é feito o primeiro registo que dá origem ao bilhete de identidade que as acompanha. As fotografias fora do Pátio são fotografias artísticas, encenadas em ambientes naturais onde as bonecas adquirem vida através do olhar de Rui Cambraia.

Tribuna Alentejo – Como é feita cada uma destas bonecas? Em média quanto tempo demora a fazer e como é o processo criativo?

Paula Estorninho – Cada boneca é feita com muita inspiração. Levam algum tempo a nascer pois o processo tem diversas fases: modelagem, secagem, pintura, aplicação do verniz, escolha de tecidos, montagem e, por fim, a fotografia. A cabeça, braços e pernas são executadas em massa de modelar acrílica e o torso é constituído por pequena almofada de tecido recheada com algodão, ficando a boneca com a dimensão aproximada de 22cm. As suas cabeças são coroadas com caracóis, conchas, chapéus de bolota, flores, rolos de linha… Cada uma esconde os seus segredos que é preciso saber descobrir… Têm assistência vitalícia e podem ser personalizadas.

Tribuna Alentejo – O que herdaram elas do Alentejo?

Paula Estorninho – O horizonte a perder de vista… São absolutamente contemplativas e sonhadoras…

Tribuna Alentejo – E a Paula? Qual a sua relação com o Alentejo?

Paula Estorninho – Estudei em Lisboa e vim para o Alentejo trabalhar assim que me formei. Fui ficando e criando raízes… Tenho um filho nascido em Serpa que vai fazer 18 anos. Ao longo destes vinte e seis anos criei fortes amizades e através delas, mas também pela natureza do meu próprio trabalho, não pude deixar de absorver a cultura alentejana na sua globalidade, da arquitetura ao cante, passando um pouco por todos os outros aspetos que caracterizam o dia-a-dia da vida no baixo Alentejo.

Tribuna Alentejo – Se um dos nossos leitores quiser adquirir uma boneca, como poderá fazê-lo?

Paula Estorninho – O mais fácil é consultar o blogue e entrar em contacto através do endereço estorninho.serpa@gmail.com ou do facebook.

Tribuna Alentejo – Como surgiu a oportunidade de ver o “Pátio Azul” na capa da Revista Evasões?

Paula Estorninho – Os jornalistas da revista obtiveram uma informação sobre o meu blogue, que visitaram e gostaram. Entraram em contacto comigo e quando passaram por Serpa apanharam as bonecas em plena sessão fotográfica no Pátio Azul e descobriram as mais recentes ceifeiras. As honras de capa na revista “Evasões” foi uma agradável surpresa.

Tribuna Alentejo – Até onde gostava que o seu “Pátio Azul” viajasse?

Paula Estorninho – Gostava que continuasse a crescer, com mais exposições, com trabalhos em publicações, que desse o salto para a internacionalização, que desse a volta ao mundo…