27 Maio 2020      10:08

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Tapetes de Arraiolos, um tesouro artístico do Alentejo

De entre profusas manifestações artísticas do Alentejo, os Tapetes de Arraiolos são uma conhecida arte de manufatura própria e imagem de marca da Vila que os baptizou. Pese embora a sua notoriedade em território nacional, esta verdadeira jóia da tapeçaria é também ela de amplo reconhecimento mundial.

Do território de Arraiolos sabemos que, toda a zona tinha uma grande abundancia de lã, uma matéria prima essencial para o seu desenvolvimento. Da sua origem, ainda que dúbia, emergem duas correntes de investigação[1]: uma com embrião nos conventos da Região, constatáveis nos inventários conventuais, e outra, referindo a sua génese nas comunidades judias e mouriscas que, migrando para Sul após a sua expulsão por D. Manuel I em 1496, encontraram em Arraiolos um espaço de tolerância religiosa, fixando-se e dando continuidade aos seus ofícios.

Todavia e documentalmente, a primeira referência escrita (1598) surge no inventário de Catarina Rodrigues, mulher de João Lourenço, lavrador e morador na herdade de Bolelos, termo de Arraiolos: “Hum tapete da tera novo avalliado em dous mil Reis.[2]”. Já no ano de 1608, no inventário de Juliana Dordio, mulher de Belchior Meirinho, moradora em Arraiolos, entre os bens do casal consta a referência a “hum tapete por acabar avaliado em mil Reis[3]”. Ao consultar 462 documentos de inventários pessoais entre o ano de 1573 e 1700, o historiador Jorge Fonseca encontrou 148 referências a alcatifas e tapetes, demonstrando assim que esta arte tinha grande importância na vila[4]. Por outro lado, e em pleno século XIX, a tapeçaria de Arraiolos atravessa o seu período mais decadente. Uma das prováveis causas advém da crise de fornecimento e encarecimento do pau-brasil, levando a mudanças na policromia e consequente decréscimo qualitativo dos tapetes (MENDONÇA, 1951). Sobre a gravidade da situação, a autora descreve ainda que, no ano de 1816 a vila tinha cerca de metade dos fabricantes existentes em 1807. Já nos finais do mesmo século, e na tentativa de inverter a tendência decrépita, cresce um movimento apelidado de ressurgimento do tapete de Arraiolos sendo mesmo criada uma oficina na Casa Pia de Évora. Mas só em 1917, através de uma exposição realizada no Convento do Carmo em Lisboa, surge o maior impulso deste movimento, onde pela primeira vez o público português teve acesso a uma grande mostra de tapetes de Arraiolos (LOBO, 2011).Nos tempos vindouros a indústria prosperou e o surgimento de novas fábricas foi uma realidade, dando um novo furor a esta atividade.

São os Tapetes de Arraiolos, uma peça genuína que, com a sua influência decorativa oriental e o uso do ponto cruzado oblíquo (ponto de arraiolos), oriundo da mestria e saber das suas bordadeiras locais, lhes dão um caracter único e sem repetição em todo o mundo.

 Numa missão de salvaguarda, preservação e divulgação, o Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos (CITA), situado na dita vila, proporcionando condições para o desenvolvimento de projectos de investigação, edição de publicações técnicas e científicas, tem sabido manter vivo um património de vital importância história e económica para a Região. Nas suas instalações, ao transeunte, será possível a visita do espaço museológico, encontrando um conjunto de exposições temporária e permanentes, das quais se destacam a mostra de tapetes datados do séc. XVII até ao séc. XXI. E como as crianças são um importante veículo de transmissão cultural, o CITA, desenvolve também um excelente serviço educativo, promovendo uma abrangente e enriquecedora  variedade de iniciativas lúdico-pedagógicas.

Não terminaria o artigo sem, naturalmente, ter uma palavra de grande apreço e satisfação, pela forma exemplar como o município local, através do certame “O Tapete está na Rua” tem conseguido promover e proteger um património que tantas gerações de arraiolenses souberem preservar.

Por fim e, para os mais curiosos, incipientes e estimados leitores, deixo as grandes referencias bibliográficas sobre o tema pela mão de: Ramalho Ortigão; Fialho de Almeida; Sousa Viterbo; José e Sebastião Pessanha; Maria José Mendonça e Fernando Batista de Oliveira, entre outros.

Imagem de capa de turistaprofissional.com

 

[1]Lobo, Rui Miguel B.A (2011). Origens e influências orientais no tapete de Arraiolos: contributo para a sua musealização(Dissertação de mestrado). Universidade de Évora

[2] Arquivo Municipal de Arraiolos

[3] Idem

[4]Jorge Fonseca, Tapetes de Arraiolos: novos elementos para a sua história In Almansor, n.º 13, 1995- 1996