3 Abril 2016      11:46

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SOBREVIVENTE

"PALAVRAS SOLTAS"

De súbito ele chega e agarra cada pedaço teu! Rouba-te o chão, espalha nele os poucos pedaços de carne que ainda te cobriam a alma e queima-os na frente dos teus olhos sem vida. É aí que entras numa nova fase da tua existência…

Agora quando choras, as tuas lágrimas são a cama em que novas lágrimas se derramam. Agora o que para ti é estar tudo bem, é semelhante à morte para outro alguém. Mas tu não és qualquer outra pessoa e agora, amanhã ou depois… A verdade é que tu já não és tu, mas sim uma sombra, um retalho… daquilo que foste. Será que ainda te lembras? Daquela menina-mulher que um dia tinha sonhos e vontades e desejos e acima de tudo, daquela rapariga que ainda sentia alguma coisa e que se ia agarrando a uma esperança, que hoje morrias para puder ter de novo.

Tu até sabes que vão dizer que está tudo bem, mas também sabes que jamais voltará a estar tudo bem. Sabes miúda? Tu no fundo sabes que aqueles que eram teus amigos vão relativizar o que sentes, vão tentar dizer-te que tudo vai passar, mas que ao fim de algum tempo, vão simplesmente parar de tentar fazer-te acreditar que tu tens de tentar estar ou ao menos aparentar estar bem.

Os outros não têm tempo nem poderes para te curar, mas tu também não os tens e tens de te aguentar. Tens ser forte miúda! Mesmo naqueles dias em que atravessas a estrada com passos lentos, com o desejo secreto de que algum condutor seja como as pessoas que te rodeiam no dia-a-dia e não te veja, não note que tu existes e simplesmente, se torne no teu herói, ao acabar com a tua dor ou naqueles dias em que os comprimidos para dormir são apenas um bilhete, carregado de sorte ou azar, para a terra dos sonhos eternos.

Porque é que isso ainda não aconteceu? Porque tu, tu apesar de adormeceres a chorar, de o veres nos teus sonhos a vir novamente atrás de ti, apesar de saberes que ele anda por aí e de seres incapaz de apagar a luz sempre que entras em casa… Tu és forte. Tu ainda respiras, tu ainda caminhas, tu ainda existes. Mas tu agora já não és uma adolescente inocente. Tu agora trazes contigo uma carga maior do que o teu metro e cinquenta e sete mas tu és capaz porque tu és uma grande mulher! És uma sobrevivente e tens de o continuar a ser! Tu já não és tu, lembras-te? Tu agora és uma batalhadora e acredita que se conhecesses outras miúdas como tu, juntas podiam criar um exército maior do que o teu sofrimento!

 

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