1 Dezembro 2020      07:13

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Restauração da independência teve "mão alentejana"

Em Portugal, a dinastia castelhana dos Filipes governou de 1580 a 1640.

Ao longo destes anos, o reino de Portugal foi espoliado e soterrado em impostos para financiar as guerras e caprichos castelhanos, levando o povo português a uma situação de quase desespero. Com fome e com o mal-estar instalado, começaram a surgir revoltas contra a situação e o Alentejo, em vários momentos, e de várias formas, teve um papel central na Restauração.

Um dos momentos mais marcantes, e que antecedeu a Restauração da Independência que hoje se celebra, terá sido a Revolta do Manuelinho ou Altercações de Évora, a 21 de Agosto de 1637, quando um movimento popular se revoltou – com protestos e violência - contra o domínio filipino devido aumento de impostos e às difíceis condições de vida a que a população foi sujeita, deixando o povo de Évora de obedecer aos fidalgos e até desrespeitando o Arcebispo.

As ordens para a revolta foram assinadas com o nome “Manuelinho", o nome de um tolo conhecido da cidade, e durante a revolta foram queimados os livros dos assentos das contribuições reais e assaltos algumas casas, sem que nobre e defensores de Castela tivessem tido a coragem de enfrentar a população alentejana revoltada.

Sabendo dos acontecimentos de Évora, já se pedia o fim do domínio filipino e a cena alastrou e repetiu-se noutras localidades alentejanas e pelo país: Portel, Sousel, Vila Viçosa, Campo de Ourique, Faro, Loulé, Tavira, Albufeira, Coruche, Montargil, Abrantes, Sardoal, Setúbal, Porto, Vila Real e Viana do Castelo.

Estas insurreições não tiveram poder suficiente para que o Governo de Lisboa, símbolo do domínio castelhano, caísse, e bastou reforçar o contingente de tropas castelhanas para acabar com a revolução popular.

Mas o rastilho tinha pegado e, no secretismo necessário para uma revolução, a revolta dos Conjurados já estava em marcha.

Eram cerca de quarenta os conjurados, nobres, que vieram a Vila Viçosa buscar João, o oitavo Duque de Bragança, e que viria a ser coroado como rei D. João IV, na manhã de 1 de Dezembro de 1640, há 380 anos.

No Paço da Ribeira, em Lisboa, Miguel de Vasconcelos, representante dos interesses castelhanos, foi morto a tiro e atirado pela janela, sendo o alentejano D. João IV, duque de Bragança, proclamado como rei de Portugal numa janela desse mesmo paço.

Mas a Restauração da Independência não ficou terminada aqui, foi um processo lento e com muitos episódios, até porque espanhóis só viriam a reconhecer a independência 27 anos depois, com a assinatura do Tratado de Lisboa.

Após a o 1º de dezembro de 1640, seguiu-se a Guerra da Aclamação, uma guerra pela efetivação da Restauração da Independência, com confrontos periódicos entre Portugal e Espanha fossem eles pequenos enfrentamentos regulares ao longo da raia ou mesmo com conflitos armados de maior dimensão, algumas delas, em terreno alentejano, como as batalhas de Arronches (1653), das Linhas de Elvas (1659) de Santa Vitória do Ameixial (1663) ou a de Montes Claros (1665), além das batalhas que se deram no restante território nacional, ilhas incluídas: Cerco de São Filipe (1641-1642), Montijo (1644), Castelo Rodrigo (1664) e Berlengas (1666).

Mas nas pequenas batalhas que foram sendo mantidas, há outra terra alentejana a destacar, então pelo nome de Santo Aleixo, no atual concelho de Moura, e onde o povo teve um papel crucial durante as batalhas contra os espanhóis, tendo defendido a sua terra com bravura.

Reza a lenda que Santo Aleixo foi palco de grandes combates, nomeadamente o de 6 de outubro de 1641 e o de 12 de agosto de 1644.

Ambos causaram muitas baixas, mas a bravura da população e a importância da resistência foi tal que valeu à aldeia de Santo Aleixo a designação de aldeia heroica e a alteração da sua toponímia, em 1957, para Santo Aleixo da Restauração.

Para relembrar o facto, o ano passado foi até lançado um livro ilustrado: “Uma aldeia, mil heróis...”, de Marisa Bacalhau e Carlos Rico.

Este ano, devido à pandemia, as comemorações serão diferentes, mas a Câmara Municipal de Moura e a União de Freguesias de Safara e Santo Aleixo da Restauração não quiseram deixar de comemorar esta data e relembrar a heroicidade dos santoaleixenses nas batalhas contra os espanhóis e procederá ao habitual Içar da Bandeira, às 11h, com as presenças de Álvaro Azedo, Presidente da Câmara Municipal de Moura, de Paula Ramos, Presidente da Assembleia Municipal de Moura, e de Francisco Candeias, Presidente da União de Freguesias de Safara e Santo Aleixo da Restauração, uma cerimónia com transmissão em direto na página do Facebook da Câmara de Moura para evitar ajuntamentos.