12 Fevereiro 2016      15:36

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RAQUEL PINA: O ALENTEJO FAZ PARTE DE MIM

Raquel Pina é natural de Beja mas reside em Lisboa desde que escolheu a Faculdade de Belas Artes para estudar Design de Comunicação. Criou uma marca própria, registada, a Raquel Pina Design & Illustration, com uma linha gráfica muito pessoal, em que desenvolve ilustrações personalizadas com o objetivo de as aplicar em objetos de uso quotidiano como marcadores de livros, sacos de ginásio, crachás, entre outros. Fique a conhecer as suas ilustrações inconfundíveis em https://www.facebook.com/RaquelPinaDesignIllustration/?fref=ts

Tribuna Alentejo – Como se evolui da fase de “rabiscar” até fazer ilustrações? Desenhar fez sempre parte da sua vida?

Raquel Pina - Sempre gostei de desenhar. É claro que a coisa se foi tornando mais séria com o passar do tempo, e ao aperceber-me que, de facto, através do desenho eu conseguia transmitir melhor, muitas da coisas que me iam na alma. Sempre gostei muito de observar e como nem sempre era oportuno intervir oralmente, encontrei no desenho uma maneira de marcar a minha presença e fazer alguma diferença. Claro que quanto mais gostamos e nos interessamos por uma coisa qualquer, mais vontade temos de saber mais e ir mais longe. Isso aconteceu com as minhas ilustrações; fui crescendo, desenvolvendo e experimentando técnicas, até encontrar o meu próprio estilo.

Tribuna Alentejo – Ser ilustradora fazia parte do seu sonho de infância ou foi uma possibilidade que surgiu mais tarde?

Raquel Pina - O gosto pela ilustração, propriamente dita, ou seja, a vontade de pegar em imagens e de as criar ou transformar à minha maneira, surgiu com mais intensidade a partir da faculdade. Por diversas vezes, era necessário encontrar imagens para ilustrar os projectos que nos eram dados, e por isso, fui-me tornando mais sensível (e a ter um olhar mais atento e cuidadoso) à importância das imagens como complementos dos textos. Penso que foi a partir daí que comecei a perceber realmente a importância das ilustrações como prolongamento da mensagem escrita. As cores, as formas e os traços começaram a ganhar um papel determinante, e a influenciar o meu trabalho como ainda “aspirante” a Designer de Comunicação.

Tribuna Alentejo – De que forma a Faculdade de Belas Artes influenciou o desenvolvimento da linha gráfica que apresenta nas suas ilustrações?

Raquel Pina - Influenciou, claro! Por tudo o que disse anteriormente, mas também muito pelas pessoas que conheci e que passaram a fazer parte do meu dia a dia. As Belas Artes eram um mundo. Um mundo relativamente pequeno em número de pessoas, mas enorme em potencialidades. Poder acompanhar de perto o trabalho de amigos das mais diversas áreas (desde a pintura, à escultura, ao design e até mesmo à música e fotografia, etc) é extraordinário e enriquecedor. As aulas eram “apenas” um complemento ao que vivemos/aprendemos neste contacto humano e troca de experiências. Os cinco anos de faculdade, foram um privilégio que nunca deixei de valorizar.

Tribuna Alentejo – Para além das personagens que cria no âmbito do projeto Raquel Pina Design & Illustration, está envolvida noutros projetos?

Raquel Pina - Depois de vários anos a trabalhar em ateliers como designer de comunicação, resolvi assumir-me, efetivamente, como ilustradora e criei uma marca registada. Esse passo aconteceu pela necessidade de proteger as imagens que ia colocando no facebook, como “montra” do meu trabalho. Devo muito às redes sociais, no que diz respeito a esta parte de fazer chegar a mensagem (divulgação). É quase assustador perceber a rapidez com que um trabalho nosso é partilhado por milhares de pessoas. Mas ao mesmo tempo, dá-nos uma satisfação sem limites. Apesar da aparente facilidade da partilha, acredito que quem usa uma ilustração minha para assinalar um dia comemorativo ou passar uma mensagem pessoal, é porque se revê e identifica com o meu trabalho. E é muito bom aperceber-me disso. Esta minha “montra” de ilustrações, baseia-se sobretudo, na criação de personagens. Transformar pessoas em bonecos, é um desafio que encaro, personagem a personagem. Traduzir características físicas e intelectuais através de uma ilustração que tem de parecer simples. É quase um jogo, que me dá um prazer enorme. É claro que nem sempre chego ao objectivo final com a mesma “facilidade”; há uns que são muito intuitivos e outros que me dão uma grande luta. É sabido que, trabalho gera trabalho, e a ilustração abre possibilidades infinitas para outros projectos, desde a aplicação dessas imagens em objectos de uso quotidiano, como para uma vertente mais gráfica e de comunicação, como cartazes, flyers, convites, logotipos; tudo isso são projectos presentes do meu dia a dia.

Tribuna Alentejo – Que relação têm estas personagens com o Alentejo?

Raquel Pina - O Alentejo faz parte de mim e está cheio de personagens que me inspiram e influenciam. Obviamente, que o meu trabalho reflecte muito dessa minha base estrutural.

Tribuna Alentejo – Em que materiais são aplicados e em que locais podemos comprá-los?

Raquel Pina - De momento, é sobretudo através da minha página de facebook que podem acompanhar e encomendar o meu trabalho, apesar de também ter alguns objectos expostos e para venda numa loja situada no Parque das Nações, em Lisboa (Presspot). As minhas ilustrações podem ser aplicadas nos mais variados objectos; desde os tradicionais quadros ou telas, até aos objectos que nos acompanham no nosso dia a dia, desde canecas a individuais de mesa, porta chaves e crachás, marcadores de livros ou capas de telemóvel, sacos e guarda chuvas, t-shirts ou tapetes de rato, etc. A possibilidade de termos objectos só nossos, diferentes e originais, tem muita influência na maneira como nos assumimos perante o mundo. A questão da identidade e individualidade, é comprovadamente um factor de aumento da auto estima e consequentemente de uma vida mais feliz. Se me disserem que o meu trabalho faz as pessoas mais felizes, eu sinto a minha missão cumprida!

Tribuna Alentejo – O trabalho de ilustração surge muitas das vezes associado a livros infantis. Tem algum projeto nesta área?

Raquel Pina - Ilustrar um livro infantil é, de facto, uma vontade que tenho, apesar de nunca ter sido um objectivo, propriamente dito. Aliás, como tenho 2 filhos, senti muitas vezes vontade de recriar as ilustrações das histórias tradicionais, apenas para lhes contar essas mesmas histórias de uma maneira mais minha. E cheguei a fazer algumas, mas nunca as mostrei sem ser no seio familiar.

Tribuna Alentejo – Costuma ir ao Alentejo?

Raquel Pina - Sim, sempre que me é possível, até porque tenho em Beja uma parte muito importante da minha família.

Tribuna Alentejo – Que sonhos tem para si e para a sua ilustração? Até onde gostaria que chegasse?

Raquel Pina - Sou uma sonhadora por natureza, por isso, não encontro limites quando penso nas coisas que gostaria de fazer em termos de ilustração. Quero chegar até onde o meu trabalho me levar, mas sinceramente, sempre com o mesmo objectivo: ser feliz enquanto o faço e sentir que faço as pessoas um pouco mais felizes por ele existir. Haverá compensação maior?