26 Fevereiro 2016      17:33

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A PROPÓSITO DO ALENTEJO: NÃO HÁ REGIÃO MAIS BONITA QUE ESTA.

É a partir de Beja que Inês de Castro Vargas, licenciada em Ciências da Comunicação, vertente de Comunicação Empresarial/RP, gere a Pura, uma marca de vestuário e acessórios feitos por quem costura desde sempre, com amor e muita dedicação. Falámos com esta empreendedora criativa sobre o que a motiva, sobre o Alentejo e por este projeto que faz parte da sua vida. Fique a conhecer mais em https://www.facebook.com/Pura.pt/

Tribuna Alentejo – Como nasceu a ideia de criar a Pura?

Inês de Castro Vargas – A Pura nasceu da minha paixão pela moda, por um estilo muito próprio e pela grande vontade de ter peças originais e únicas. Queria muito brincar com gangas e foi assim que comecei, com peças minhas que fui transformando, sempre com a ajuda de costureiras pois, como trabalho, além da Pura, não tenho tempo para me dedicar à aprendizagem de costura. Quando percebi que o produto final ficava fantástico fui desenvolvendo mais ideias e defini uma colecção de lançamento, a “Pattern On Denim”. Depois, foi automático e foram surgindo ideias atrás de ideias. Brincar com tecidos, cores, padrões é super divertido e, quando o produto final me chega às mãos tal e qual como o imaginei, é uma sensação fantástica. Eu queria lançar algo com o meu estilo e a Pura é isso mesmo.

 

Tribuna Alentejo – Na tua opinião, o que diferencia esta marca de todas as outras?

Inês de Castro Vargas – Penso que a principal característica na Pura que a diferencia de todas as outras, é o facto de ser feita com amor, sempre em busca de um produto final que seja único, feito à medida de quem o compra e com o meu cunho pessoal. Tenho uma regra: não faço nada que eu não usasse, para mim só faz sentido que seja assim. Não quer dizer que não esteja atenta às tendências, porque estou e sempre estive, mas adapto-as ao meu estilo pessoal. Nem tudo o que é moda me cativa, mas a verdade é que quem gosta de mundo acaba sempre por seguir algumas das tendências que este dita.

Tribuna Alentejo – Sempre gostaste de criar?

Inês de Castro Vargas – Sempre! Em miúda criava roupas para as Barbies, feitas a partir de meias que ia tirar da gaveta da minha avó e de restos de tecidos que uma vizinha costureira me dava. Levava horas naquilo e adorava. Mais tarde tive um projecto virado para o design, com peças também personalizadas, mas neste caso jogava com fotografias e padrões, aplicados depois a várias peças como telas, posters, tapetes de rato, t-shirts, etc. Mas a minha paixão é a moda: as roupas, os acessórios…os sapatos. Sou louca por sapatos!

 

Tribuna Alentejo – De que forma a tua formação em Ciências da Comunicação contribuiu para a consolidação deste projeto?

Inês de Castro Vargas – Foi muito importante pois, por trás de toda a parte de criar, imaginar, lançar uma marca, está todo um trabalho gigantesco de marketing e promoção. O curso deu-me as bases, o meu trabalho na JV ajudou-me a aplica-las e, claro, a aprender imenso. Quando lancei a Pura sabia perfeitamente e, com todo o desenvolvimento em termos de internet, redes sociais, lojas online, que por muito que o produto seja bom se não for bem promovido e divulgado pode nunca passar só de uma ideia. A minha formação foi específica em comunicação empresarial, logo só tive de aplicar (mais uma vez) o que aprendi.

Tribuna Alentejo – O que te inspira quando crias as coleções? De que forma o Alentejo está presente nesse processo criativo?

Inês de Castro Vargas – Como já disse, inspiro-me no meu estilo pessoal e nas tendências aplicadas a este. A ideia é: eu quero uma peça assim, feita com este padrão e aquele pormenor. Vai vender? Nunca tenho a certeza, mas desconfio que sim. A partir daqui é pôr em prática e ver como fica a peça, o que, até agora, acabou por ser sempre um sucesso. Eu sou alentejana, nascida e criada, vivi 5 anos em Faro, onde estudei, e mais alguns meses em Lisboa, onde estagiei, mas o Alentejo é um dos meus amores. É nele que vou buscar inspiração para a parte da imagem principalmente, mas também para algumas peças em termos de cores e tecidos que fazem lembrar a região. Costumo dizer que o Alentejo tem aquele toquezinho de deserto misturado com um ar de Wild Wild West. Neste sentido, decidi que o LookBook da primeira colecção deveria ser fotografado cá, e assim foi. Escolhi a Herdade da Diabrória, à saída de Beja, com toda uma envolvente típica da região, claro, mas que ajudou a ir buscar aqueles ares estrangeiros que falei em cima. Na verdade, não há região mais bonita que esta e, se eu sou de cá, faz sentido promove-la ao mesmo tempo que promovo as peças e a marca.

Tribuna Alentejo – Que peças podemos encontrar? Que tipo de acessórios e peças de vestuário?

Inês de Castro Vargas – Neste momento, em termos de vestuário, existe a colecção “Pattern On Denim”, onde existem peças de ganga, como blusões e calções, com aplicação de tecidos e a colecção “Since”, onde a ideia é personalizar com o ano de nascimento, daí o nome: Since, desde em Português, 1982, por exemplo. É uma vertente mais desportiva, com sweatshirts totalmente personalizáveis, onde a pessoa pode escolher desde o modelo da sweat, à sua cor, a cor do “since” e finalmente o tecido em que o ano de nascimento é aplicado. Em relação aos acessórios, existe a colecção Bags, onde por enquanto só existem as clutches, malas de mão, com vários modelos e, também estas, totalmente personalizáveis. Estou já a criar a colecção Primavera/verão de 2016, onde existirão peças de vestuário totalmente feitas de raiz.

Tribuna Alentejo – Quem mais integra a equipa da Pura? Como é um dia de trabalho “normal”?

Inês de Castro Vargas – Como já disse, recorro aos serviços de duas costureiras para a parte da costura dos tecidos, mas tudo o resto sou só eu que faço. Como eu costumo dizer, a Pura é um “One Woman Show”. Desde a criação, à promoção, venda, entrega, envio, é tudo feito por mim. Um dia de trabalho normal… pois, não existe. Eu sou RP & Gestora da Qualidade na JV, concessionário Xerox nos distritos de Beja e Évora, logo só me posso dedicar à Pura no tempo que me resta, ou seja, os fins-de-semana e os finais de dia. Portanto, tanto posso ter encomendas de materiais para fazer, receber, organizar e preparar encomendas de clientes, planear a semana de publicações nas redes sociais, promoções que vá lançar, alterações ou novidades no site, etc. Não é fácil, mas quem corre por gosto não cansa.

Tribuna Alentejo – Como se podem adquirir as peças que crias?

Inês de Castro Vargas – A Pura tem site com loja online, em www.purapt.com , página de facebook e instagram. As peças podem ser adquiridas na loja online, com vários meios de pagamento, ou através de qualquer destas redes mas, neste caso, a encomenda terá sempre de ser feita via email, mesmo que o contacto inicial seja feito através de uma das redes. Pontualmente estou presente em alguns mercados, onde as pessoas podem ver, experimentar e adquirir as peças. Também podem encontrar algumas peças no EstoriasTantas, em Beja e, se tudo correr bem, a partir de Março, haverá um ponto de venda onde a Pura estará presente, mas ainda é precoce revelar.

Tribuna Alentejo – Consideras um desafio maior gerires este negócio a partir de Beja ou há vantagens?

Inês de Castro Vargas – Muito maior! Vantagens? Infelizmente, Beja não ajuda em nada. Tecidos? Muito pouco por onde escolher e todos iguais e muito pouco originais. Em relação a outros matérias é igual, os que existem são muito mais caros do que se os comprar fora daqui e a oferta é muito limitada. Os mercados que se realizam são raros e muitas vezes mais dedicados a vendas em segunda mão e coisas do género. Acredito que se vivesse em Lisboa haveriam muitos aspectos que seriam facilitados, uma vez que existe muito mais oferta ao nível de materiais e de mercados do género daqueles que procuro. Mas eu nasci aqui e é aqui que a Pura também nasceu. Será a partir de Beja que a Pura se lançará no mundo. É complicado? É… mas eu gosto de desafios.

Tribuna Alentejo – Que mensagem deixarias a outros jovens criativos da região Alentejo?

Inês de Castro Vargas – Vão atrás do vosso sonho, não se fiquem pelo sonhar. Mexam-se, peçam ajuda se for necessário, mas vão à luta. Há imensos apoios para jovens empresários, não foi o meu caso, pelos vistos já não sou assim tão jovem. Apesar das limitações que a região oferece, se todos desistíssemos e fugíssemos daqui para outro sitio, então aí é que o Alentejo morreria. Claro que há coisas que não acontecem aqui e temos de as ir buscar fora, mas é aqui que estamos a começar. Então, a melhor decisão é dar continuidade a esse projecto numa região que precisa de desenvolvimento, de ideias, de jovens, de criações, mesmo que muitas vezes tenhamos de recorrer a recursos fora daqui. Quem sabe se daqui a alguns anos a produção da Pura não é feita numa fábrica em Beja, que exporta para vários países, que emprega algumas dezenas (ou centenas) de pessoas e ajuda numa maior taxa de empregabilidade? É um sonho? Até pode ser, mas eu gosto de acreditar que todos podemos realizar os nossos sonhos.