30 Novembro 2016      15:44

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PORTEL TEM O MELHOR DO ALENTEJO E A FEIRA DO MONTADO PROVA-O

Começa hoje a XVII Feira do Montado, em Portel. Mas para este começo foram muitos meses de trabalho que tiveram início mal se deu por encerrada a edição do ano passado. Um trabalho que envolve centenas de pessoas e que mobiliza praticamente toda a comunidade local. A convite do município participámos num encontro de orgãos de comunicação social com o presidente da Câmara.

Apesar do dia chuvoso a recepção no restaurante da marina da Amieira, em Portel não podia ter sido mais calorosa. O anfitrião, José Manuel Grilo, o economista de 56 anos que preside à Câmara de Portel, que nos recebeu de sorriso rasgado e com umas entradas de produtos locais, mudou num piscar de olhos o estado de espírito que trazíamos com o frio.

O encontro fez-se com tempo, como se faz sempre no Alentejo, e, enquanto íamos degustando o queijo, o mel, os enchidos, e o vinho, enfim o que nos era colocado na mesa, trocavamos umas impressões com José Manuel Grilo, o autarca que toca saxofone e prefere a informalidade de uma conversa à formalidade de uma conferência de imprensa. Foi como se estivessemos em casa.

A Feira do Montado, que já vai na 17.ª edição, oferece 5 dias de um programa tão variado e completo que permite ficar com uma ideia objectiva da riqueza que representa a floresta de azinheiras e sobreiros para aquele concelho do distrito de Évora, banhado pelo grande lago de Alqueva, com pouco mais de 6 000 habitantes.

Atendendo talvez ao tempo que se via pelas grandes janelas daquele restaurante com uma vista magnífica sobre Alqueva, José Manuel Grilo começou logo por lembrar que a Feira do Montado faz-se em novembro e que é natural que faça frio mas o calor que existe no espaço interior da feira cria um conforto semelhante ao que sentiam as gentes da terra abrigadas das intempéries em frente a um "lume de chão". E descreveu aquele grande certame como o evento que "veste" a vila de cortiça e montado.

De tal maneira que os números de visitantes recebidos anualmente não param de aumentar, tanto quanto o número de expositores, que já vai em 250 e a oferta de iniciativas complementares tão abrangentes como um passeio pedestre que permite acompanhar o processo de transformação do medronho desde a colheita até à aguardente ou uma montaria ao javali, organizada por uma associação de caçadores locais.

As perguntas que iam sendo feitas ao presidente da Câmara recaiam, talvez por defeito profissional, sobre o impacto da legislação europeia, "castradora" de tradições antigas na arte de produzir delícias regionais. Mas José Manuel Grilo lembrava que a feira do Montado não é só comercial e que a preocupação com o futuro do montado e da sua riqueza também mobilizavam a organização com uma parte dedicada à investigação e à inovação ligada à floresta de azinheiras e sobreiros. "Se há riscos, que há, e se há soluções, que também as há, teremos oportunidade para as discutir nos fóruns que decorrem dentro da feira e que envolvem investigadores e técnicos conhecedores", concluiu.

Com efeito o programa está repleto de encontros de trabalho e incluem também umas jornadas ibéricas do Montado, a apresentação da Reforma da Floresta, pelo próprio ministro da Agricultura, Capoulas Santos, também ele alentejano, e a assinatura de um protocolo que levará à criação de um Centro de Competências dos Recursos Silvestres e que está a mobilizar  "vários municípios alentejanos, centros de investigação e associações de desenvolvimento local".

Há ambição, vontade e capacidade, defende José Manuel Grilo. Tanta que trabalhamos em várias frentes e com um objectivo comum,  que é transformar em riqueza aquilo que a natureza e o passado nos foi legando, e acrescentar futuro, conclui. E dá um exemplo: uma Rota do Montado que vai ser apresentada na Feira, que envolve 14 municípios e que criará um percurso "magnífico" pelas margens do imponente Lago de Alqueva.

Antes de passarmos a umas migas de espargos selvagens com carne de porco e enquanto lançávamos uma olhadela a uma mesa repleta de enchidos, queijos, mel e outros doces locais, o anfitrião avisava que dali não saia ninguém sem levar um pouco do melhor que se faz em Portel.

Poderíamos resumir assim o próprio espírito da Feira, que quem a visita leva o melhor da região e sobretudo a simpatia genuína dos locais, que sabem receber como ninguém. Ficámos convencidos.

O programa pode ser visto aqui.