18 Janeiro 2017      16:36

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A "PEGADA" DE MÁRIO SOARES

7 de janeiro de 2017: o momento... o momento em que o facebook, as redes sociais e os meios de comunicação se tornaram repletos de publicações e textos sobre o falecimento do Dr. Mário Soares. Uns num registo de fanatismo ideológico, idolatrando a figura. Outros despidos de qualquer tipo de moderação ou bom senso. Quanto a mim, resta-me dizer que a morte será, para a minha pessoa, sempre um momento de respeito e de reflexão. Um momento em que não resta espaço para a verborreia mental, nem tão pouco para o desrespeito pela simplicidade da vida humana. Mário Soares poderia ter muitos defeitos e pode ter tomado muitas decisões menos adequadas, mas em nenhum lado constava o estatuto de ditador, nem de extremista radical. Soares era na sua génese um simples amante da democracia. Admito que não sou um adepto aguerrido da ala ideológica de Soares, mas também serei incapaz de celebrar, em algum momento, a sua morte.

De todos os momentos em que se poderia ter escrito sobre Soares, ponderei que o momento do seu falecimento não traria a lucidez, nem tão pouco o distanciamento necessário para que fosse feita uma justa e adequada reflexão daquela que é a importância de Mário Soares ao serviço de Portugal e, ainda mais importante, como ser político. Muito menos seria um momento adequado para aqueles que à partida nunca demonstrariam uma grande empatia com a personagem em questão.  Mais de uma semana volvida desde a notícia da partida de Mário Soares, este é um momento indicado para se escrever acerca do mesmo, num pensamento livre de ressacas ideológicas e de costas voltadas com qualquer tipo de cegueira fanática.

Ouvir o poema citado por Maria Barroso nas cerimónias fúnebres de Mário Soares, e ver a grande homenagem a si prestada, visível nas paredes da sede do PS no largo do Rato, fazem-nos, inconscientemente e de forma involuntária, como se de um espasmo muscular se tratasse, refletir sobre aquele que possa ter sido o peso de Soares. E importa refletir não só o que foi como pessoa, mas também o que foi como “animal político” (como alguns o foram batizando).

Após breves momentos de reflexão, teremos de ser intelectualmente honestos a fim de assumir que é quase incompatível ser amante de política e não ter a capacidade de perceber algumas das virtudes de Mário Soares possa ter tido no exercício do seu percurso político. Por outras palavras, Soares era um político profissional…Um dos que maior robustez possuiu desde o pós-25 de Abril até então. Não o único como será óbvio, mas um dos...

Analisando o percurso pessoal de Soares entende-se que: dedicou cerca de 70 anos da sua vida à causa pública; foi preso mais de 10 vezes, acumulando assim um total de cerca de 3 anos de prisão (local até onde se casou com a sua esposa); foi deportado sem julgamento para a ilha de São Tomé por representar uma força de oposição ao regime; foi um dos principais responsáveis pela restituição de um regime democrático não-comunista no famoso 25 de Novembro; foi ministro dos negócios estrangeiros; colaborou no processo de adesão de Portugal à então CEE, subscrevendo o tratado de adesão à mesma; foi 3 vezes Primeiro-Ministro de Portugal;  ganhou, em 1986, a corrida a Belém numas eleições em que à primeira vista pareciam perdidas; foi Presidente da República durante 10 anos; foi ainda deputado europeu entre o período de 1999 a 2004 e possuiu ainda outros cargos de elevada importância em ONG internacionais. Com 92 anos de vida, o “currículo” Mário Soares ultrapassa, em muito, a sua longevidade. É de facto um percurso invejável para todos aqueles que ambicionam desempenhar funções na ordem pública.

É caso para dizer que Soares soube conquistar, independentemente da sua ideologia; soube lutar, independentemente das suas forças; soube cativar, independentemente da manutenção dos cargos que ia assumindo.

É caso para dizer…Soares até foi fixe!

Esta é a minha homenagem a Mário Soares, que em nada se assemelha ao seu grande legado.

Que descanse em paz.