6 Junho 2016      15:02

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PCP E HISTÓRIA, COISA QUE NÃO COMBINA

"VISÃO PERIFÉRICA"

Adquirir a auto-perceção, num determinado momento, daquilo que gostamos ou repudiamos, não é de todo um processo fácil, nem tampouco que se tome de ânimo leve. Pior ainda, durante a infância, numa convulsão de informações e emoções que têm que ser assimiladas, quando tudo aquilo que mais desejamos é estar com os amigos e adiar os trabalhos de casa que deveriam ser entregues no dia seguinte.

Quando em Março do presente ano foi lançado um estudo pela Organização Mundial da Saúde que refletia sobre os hábitos das crianças em idade escolar, não foi grande o espanto pela prevalência do gosto escolar nas dimensões do convívio social, em detrimento da componente académica, no caso da amostra portuguesa.

Estranho, consideraria eu, era se as crianças não fossem altamente motivadas a ir para a sua rotina diária, com aquela desforra no ringue de futebol no seu pensamento. Ou então, preocupadas em recuperar aquele berlinde precioso, naquilo que no meu tempo se chamava – “Perde, Paga”.

Porém, entre todas estas desventuras, e a título pessoal, porque era exatamente daquele tipo que estava mais preocupado com os intervalos do que com aquilo que ia ser dito numa sala de aula, durante hora e meia, houve coisa que sempre me segurou o imaginário - as aulas de história.

Não sei se essa preferência desabrochou pela quantidade inestimável de vezes que revia o Indiana Jones, ou por ser apenas uma área na qual tinha uma relativa facilidade em encaixar os diversos conteúdos programáticos. Certo é que entre algumas disciplinas ditas “chatas”, sempre considerei que a história seria aquela que maior utilidade prática teria para a minha vida.

Retive algo nessa altura que curiosamente nunca mais esqueci, vinda do multifacetado romano Cícero, que afirmava que a história era a “mestra da vida”. Que se pretendia interpretar dessa pequena passagem? Simplesmente, que por meio do passado, podemos extrair lições para nos guiarmos no presente, diante dos problemas atuais.

Para aqueles que julgavam que este artigo ia apenas fecundar memórias e saudosismo, permitam-me que desmistifique o prólogo que serviu de enquadramento ao tema que será abordado: - Quando é que o PCP aprende com a história?

1985, presidenciais, com Freitas do Amaral a vencer, no entanto sem maioria absoluta, indo à segunda volta com Mário Soares. Bateu-se pelo seu candidato Cunhal, mas teve que fazer o óbvio: anunciar aos eleitores comunistas o voto em Soares porque era entre, engolir uma seca ou deixar a direita chegar a Belém.

2015, Jerónimo decide apoiar o PS que inflama a opinião pública com uma retórica retorcida, apregoando que vai pôr fim à austeridade. Não passou muito e em Fevereiro do presente ano o PCP engole a primeira seca – Bruxelas rejeita a primeira proposta de OE.

Mas como a mesa é longa e o banquete ainda vai no inicio, em Abril, Bruxelas exige um plano B, e o PCP engole mais outra. Vota a favor do Programa de Estabilidade, ainda que, com toda a moral lógica de coerência, diga que está contra. Dou por mim a interrogar se o Jerónimo não conseguiria ingressar nas peças de Filipe La Feria...

Por fim, o último “tabefe”, com o Ministro das Finanças a declarar que Portugal não vai acompanhar a Grécia no pedido de reestruturação da divida. Não era o Santo Graal do acordo da “geringonça”?

Então e quando é que o PCP aprende com a história? É quando perder eleitorado? É quando decidir ser coerente? Ou é quando assumir que o sentido de nação deveria ser mais importante que uma mera disputa ideológica entre esquerda e direita, algo que é cada vez menos sentido e relevante? A ver vamos...

 

Imagem © Octávio Passos/Lusa.