19 Janeiro 2021      13:06

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Pandemia coloca imigrantes trabalhadores no Alentejo na mendicidade

A antecipação do fim da campanha da azeitona e a pandemia deixaram muitos estrangeiros no Alentejo “numa situação aflitiva”, adianta o jornal Público.

Em meados de setembro, milhares de cidadãos estrangeiros de países do subcontinente indiano (como Nepal, Índia, Paquistão ou Bangladesh), ou da África subsariana (como Senegal, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Gâmbia e Gana), chegam a Beja para trabalhar na campanha da azeitona, que termina, em anos normais, no início de fevereiro.

Contudo, neste ano atípico, a safra sofreu uma quebra que ronda os 40%. Menos produção significa uma redução na mão-de-obra necessária, acrescido do encurtamento do tempo da campanha que, desta vez, no final de dezembro, estava praticamente concluída.

Entretanto, a pandemia agravou a situação. Isaurindo de Oliveira, presidente da Cáritas Diocesana de Beja, afirma que houve mais instabilidade laboral, “com mais paragens nos trabalhos agrícolas”. Além disso, a maior parte destes migrantes trabalha na agricultura com contratos sazonais, e muitos são sujeitos a condições de vida degradantes, como se pode testemunhar em sucessivas sentenças judiciais. Isaurindo de Oliveira acrescenta: “se chove ou ficam doentes não recebem”.

Um empresário divulga ainda ao Público que “são cada vez mais os que não tem nada para comer”.

Com o fim da campanha de recolha de azeitona, “o número de pessoas que nos apareceram de repente com problemas alimentares é muito grande”, diz Isaurindo de Oliveira. Só no Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) foram realizados, no último ano, 243 atendimentos.

De acordo com Isaurindo Oliveira, a realidade ainda está longe de ser a de um acolhimento eficiente e humanizado dos cidadãos estrangeiros que procuram trabalho nos campos do Alentejo: “apenas conseguimos fazer cócegas nalguns pelos da pele”.

Note-se que, atualmente, a Cáritas Diocesana de Beja presta atendimento a imigrantes oriundos de 27 países, que vêm suprir as carências de mão-de-obra na apanha da azeitona, da amêndoa, da uva e de frutos vermelhos. A Associação Solidariedade Imigrante (Solim), que presta apoio a cidadãos estrangeiros, admite que possam chegar aos 30 mil, mas ninguém sabe quantos serão. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) adianta que no distrito de Beja residem cerca de 12 mil imigrantes. No entanto, o número dos que chegam ilegalmente ao sul do país para trabalhar está por quantificar.

Os imigrantes que vêm trabalhar no Alentejo e na nova agricultura não são contratados diretamente pelos proprietários ou rendeiros das explorações agrícolas. Segundo o jornal, a legislação em vigor permite que fiquem à disposição de empresas prestadoras de serviços, constituídas por angariadores de mão-de-obra, muitos deles de outras nacionalidades. Enquanto isso, os empresários agrícolas são acusados de serem coniventes e pactuarem com a exploração laboral dos imigrantes ou de aceitarem trabalhadores ilegais nas suas explorações.

 

Fotografia de radiopax.com