31 Março 2020      11:34

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O novo Coronavírus e as lições da História

E subitamente, a vida fica em suspenso. A quantos de nós nos passaria pela cabeça que um fenómeno ocorrido na tão distante China pudesse em tão pouco tempo alterar completamente os hábitos de vida do mundo ocidental. O fenómeno da globalização, em poucas semanas, fez alastrar de forma assustadora o desconhecido e temível inimigo.

Temos escutado agora as mais bizarras teorias da conspiração sobre eventuais motivações políticas ou económicas associadas ao Coronavírus.

Confesso que nenhuma delas me parece plausível. Na minha opinião, trata-se somente de uma resposta da Natureza, que ciclicamente e ao longo da História, nos tem dado exemplos de epidemias e pandemias de diferente tipologia.  

Por outro lado, será justo acusar a China da prática de hábitos alimentares, em termos de consumo de animais selvagens, como a responsável por tudo o que estamos a viver? Seguramente, no futuro, teremos uma resposta, assim como um julgamento em relação a tudo o que foi feito, ou não, para combater esta catástrofe. Líderes mundiais, governos e políticos dos diferentes países, OMS, FMI e União Europeia serão seguramente escrutinados sobre tudo o que infelizmente está a acontecer.

Era sabido que, a dado momento, uma nova pandemia iria surgir para colocar em risco a humanidade. A questão que se irá colocar é a seguinte: será que tudo foi feito, em termos de prevenção? Ou outros investimentos em distintos sectores se tornaram prioritários? Deveriam as entidades com competência na matéria ter preparado os sistemas de saúde para algo que iria seguramente ocorrer, mais tarde ou mais cedo?

Uma reflexão sobre o tema será inevitável. Ainda é cedo para isso. Importa agora salvar vidas.

No que toca ao Alentejo, fomos muitas vezes atingidos por pestes, cóleras, tifos, varíolas e, no início do século XX, pela “Gripe Espanhola”, cujo primeiro caso foi registado em Vila Viçosa em Maio de 1918. A Pneumónica, como também ficou conhecida, foi trazida por um calipolense que trabalhava nos campos de Badajoz e de Olivença. A partir daqui, espalhou-se por todo o país, com uma taxa de mortalidade bastante significativa.

À semelhança do que acontece com o Coronavírus, a ciência desconhecia a Gripe Espanhola. O sistema de saúde pública não estava minimamente preparado para enfrentar esta ameaça. O impacto foi devastador. Utilizaram-se as mais variadas e ineficazes mezinhas, fizeram-se fogueiras públicas para purificar o ar e colocava-se o gado pelas ruas das aldeias alentejanas para retemperar o ambiente empestado. Nada resultou e a pandemia grassou sem controlo, até à descoberta da vacina, que só ocorreu em 1944.

Ao consultar a documentação, podemos constatar que muitas das medidas implementadas para enfrentar os problemas em termos de prevenção foram muito semelhantes às recomendações hoje defendidas pelos especialistas, apesar dos vírus serem diferentes: isolamento social, cuidados higiénicos mais efetivos e a proteção aos mais idosos.

Para além desse facto, o que mais se destacou no combate aos diferentes flagelos no caso de algumas localidades alentejanas ao longo do tempo, foi a solidariedade e a união, fundamentais para resolver os problemas. As crónicas revelam que as instituições locais, os médicos, os políticos e as comunidades se envolveram com uma dedicação total para apoiar os enfermos, os mais necessitados e os que ficaram privados do seu trabalho. Talvez fosse este o exemplo a ser seguido por alguns países que neste momento, esquecem os laços fraternais e a mensagem que está na génese da União Europeia e olham somente para o seu próprio umbigo.

A ciência terá que percorrer um caminho até encontrar um tratamento eficaz. Até lá, só a solidariedade nos poderá salvar!

Vale a pena aprender com a História.