O Medo viaja sem passaporte

Medo de mim. Medo que a minha mente viaje sem a minha autorização.

As minhas veias estão preenchidas de lágrimas zangadas. O meu coração está deprimido, colorido com a cor mais melancólica que alguma vez conhecera.

Os meus ouvidos estão esgotados dos pensamentos que berram uma sinfonia infeliz. Segurando a minha cabeça inquieta entre as duas mãos, grito sussurrando,

"-Ajuda".

Mas é em vão. Não será tudo?

Ao lado do sofá verde pardo há um espelho. Serei corajosa o suficiente para encarar o meu monstro?

Olho para a direita, sem nunca antes verificar se existe alguém de facto atrás de mim, e dou um passo para o lado do objeto.

Esta sou eu.

Esta também representa o meu maior medo, certo?

Levo agora, sem forças nos meus braços magros, a mão até ao cabelo, apanhando-o em algo. Não me esforço. Tento arrumar as lágrimas ou o suor, perdi-me na minha face e não me lembro do trajeto de cada um.

- Será que deva começar tudo de novo? Valerá a pena? Valerei eu a pena?

Estou desassossega e não consigo decifrar as perguntas. São demasiado complexas e, para ser honesta, não sei se as fiz em voz alta. Tomo a decisão mais fácil que conheço, escondo-me atrás da alma mais rasgada que conheço e não dou respostas, ficando a mergulhar metaforicamente nestas.

De repente, há uma voz nova em mim. Não parece uma voz humana, mas sim a de um instrumento. Um piano. Nele é tocado a melodia da minha vida que sinto até às pontas dos meus dedos.

Fecho os olhos.

Como é que me deixei perder de novo?

Porque é que cheguei aqui de novo?

Estas tenho a certeza que não disse em voz alta, o espelho embaciou com o meu choro inconstante. Contudo, os meus lábios estão secos. Não me questionando sobre isso, passo instintivamente a minha língua sob estes, sem deixar de os morder: se dói, é porque estou viva, certo?

Com os dedos ainda a tapar mais lágrimas sujas, concluo que perdê-la foi como perder uma parte de mim. Que essa parte estará sempre junto ao seu coração. Esteja ele onde estiver.