25 Novembro 2016      13:36

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O BALANÇO DE OBAMA

Numa altura em que Obama começa a fazer as malas para sair da Casa Branca, os seus níveis de popularidade alcançam recordes só vistos durante a sua campanha inicial. É quase certo que Obama será lembrado pelos historiadores como um grande presidente, apenas com o inconveniente de poder ser “ensandwichado” por 2 maus presidentes, um confirmado e outro que provavelmente o poderá ser.

Assim sendo, que ilações podemos tirar dos quase 8 anos do primeiro Presidente negro dos Estados Unidos da América? Podemos avalia-lo em 2 partes: domesticamente e em política externa.

Em política doméstica, Obama será sem dúvida lembrado pela sua reforma na saúde, proporcionando cuidados médicos a mais de 20 milhões de americanos que antes não tinha condições para pagar. A herança de Bush não foi fácil de gerir, mas a verdade é que Obama resolveu uma das maiores crises financeiras de sempre, e hoje, os EUA têm um crescimento económico considerável e uma baixa taxa de desemprego. A nível social destaque para o aumento de tolerância perante minorias, nomeadamente com a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Estes não foram objetivos fáceis de alcançar, pois a juntar o cenário negro de 2009, há uma oposição tóxica dos Republicanos que em nada teve a ver com o que era melhor para o país, mas apenas a constituição de uma postura ideológica extrema que quase fechou por completo o governo federal.

Sem dúvida que Obama impulsionou uma agenda progressista que proporcionou melhoras palpáveis a nível económico, social, ambiental e científico, que ao mesmo tempo, irritou facções mais conservadoras, o que permitiu em certa medida o fenómeno Trump.

O grande calcanhar de Aquiles na presidência Obama foram algumas decisões duvidosas na política externa. Começando pelas suas vitórias, ficará na memória o acordo nuclear com o Irão e o fim do conflito com Cuba. A imagem dos EUA no mundo está em níveis muito mais altos do que antes da administração Obama. Adicionalmente, as relações com a China continuam estáveis, apesar do aumento da presença dos americanos na Ásia. A nível ambiental, os esforços feitos na questão das alterações climáticas, com o Acordo de Paris e as tentativas de limitar o uso das energias fosseis. Os EUA tornaram-se líderes no combate a este flagelo, que foi denominado por Obama como o problema mais grave que a humanidade terá de resolver.  

Infelizmente, uma série de erros e más decisões assombram o resto das relações internacionais dos EUA sob administração Obama. Começando pelo Afeganistão, onde durante o primeiro ano da sua presidência enviou 60 mil tropas adicionais, prometendo ser uma decisão temporária contra a ameaça dos talibans. A verdade é que agora os talibans controlam a maior área de território desde 2001, numa guerra que não tem fim à vista, a qual os americanos já se deveriam ter retirado à muito. 

Em semelhança, os esforços para alcançar a paz entre palestinianos e israelitas foram em vão. Israel continua a expandir sobre os territórios da Palestina, Gaza está sob imensa pressão e muita da sua população em condições subhumanas, os palestinianos moderados são constantemente descreditados e os Hamas continuam a crescer. Em suma, a solução “2 Estados” proposta pelos antecessores de Obama e pelo próprio parece estar morta. 

Infelizmente, os EUA continuaram a praticar engenharia social com péssimos resultados (alguma vez foram bons?), desta vez durante a “Primavera Árabe”, particularmente no Egito, onde os americanos empurraram Mubarak para fora do país e ajudaram a eleger o governo de Mohamed Morsi. Mais uma vez, a democracia forçada teve sol de pouca dura, com um golpe militar a tirar Morsi do poder e a implementar novamente uma ditadura.

O poder militar americano (neste caso aéreo) eliminou Muammar al-Qaddafi da face da Líbia e o resultado foi um Estado falhado que agora é ocupado na sua maioria pelo Estado Islâmico. Semelhantemente, na Síria, mais engenharia social com a tentativa de implementação da “good old american democracy” em substituição da ditadura de Assad, mesmo sabendo de antemão que não haveriam bons candidatos ou sistema para o substituir. Atualmente a Síria encontra-se em ruinas, Assad ainda controla as principais zonas do território do país e uma guerra civil sem presentes acontece, entre rebeldes “moderados” apoiados pelos EUA e aliados, Assad pela Rússia e o Estado Islâmico, criando uma das piores crises humanitárias de que há memória. É incrível de dizer, mas o Médio Oriente encontra-se em pior situação agora do que antes de Obama, sendo que o Presidente americano desconsiderou ao inicio a emergência do Estado Islâmico e a rebelião Houthi no Yemen.

Por ultimo, as relações com a Rússia não foram de todo bem geridas, ao apoiar abertamente o Presidente ucraniano Yanukovych e falhando na antecipação ao que Rússia provavelmente iria fazer em relação à Crimeia. O resultado foi uma humilhação para os EUA e uma situação mais precária na Europa.

Imagem de capa da CNN.com