23 Fevereiro 2021      12:41

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Morreram mais de 1000 pessoas no Alentejo em janeiro

Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa

Em janeiro de 2021 morreram 1321 pessoas no Alentejo, mais do dobro que o número de óbitos registados no ano passado (648), revelam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com estes dados, citados pela Rádio Pax, há registo de mais 673 mortes, 587 das quais em pessoas com mais de 74 anos de idade. O Baixo Alentejo não foge à tendência e regista, também, um aumento no número de óbitos. Este ano já perderam a vida 263 pessoas com mais de 74 anos de idade, enquanto que no ano passado tinham sido 130.

Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e antigo diretor-geral de Saúde, explica ao Diário do Alentejo que estes números são facilmente explicáveis devido à atual situação da pandemia da covid-19, uma vez que, “como se sabe, as complicações mais graves ocorrem em doentes com mais de 75 anos. Progressivamente, a gravidade tem uma relação direta com os grupos de idades mais idosos. Quanto maior é a idade, maior o risco”.

“O envelhecimento da população explica, também, em parte este fenómeno de maior mortalidade geral. Não se pode ignorar, igualmente, que as doenças crónicas agudizadas (descompensadas), se não forem tratadas rapidamente poderão precipitar o final da vida. Pelo que admite-se que o aumento da mortalidade possa refletir atrasos no tratamento dessas situações”, refere o responsável.

Já Conceição Margalha, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA), diz não conseguir fazer, para já, “uma análise da situação, porque não tem conhecimento dos números”.

Por outro lado, Pedro Vasconcelos, presidente do conselho sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos, refere que “a pandemia teve um contributo significativo para o aumento da mortalidade no país, e o Alentejo não é exceção”.

Para a dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, Tânia Russo, “o que verificamos é que facto há um excesso de mortalidade relativamente à média dos anos anteriores. Esse excesso é em grande parte explicado pela covid-19, mas há 20 por cento da mortalidade que não se deve à pandemia, e, portanto, em concreto no Alentejo – que foi a região onde houve uma maior moralidade com 140 óbitos por 100 mil habitantes” – existe um número de óbitos “superior a todo o território nacional”.

A sindicalista explica que esta realidade está “em grande parte relacionada com o envelhecimento da população: Nós sabemos que a população no Alentejo é bastante envelhecida, mas, certamente haverão outros fatores, como as condições de vida na região, que são um pouco mais desfavorecidas. É necessário olhar para estas desigualdades territoriais e criar mecanismos que possam amenizar esta solidão e este isolamento dos idosos”. Além disso, “é necessária uma maior atenção no que diz respeito ao plano de vacinação”.

Tânia Russo chama ainda a atenção para a “carência de médicos e enfermeiros” no Alentejo, uma situação que “precisa de ser combatida, por exemplo, através de carreiras e salários atrativos”.

Maria Filomena Mendes, demógrafa, entende que “a pandemia ajuda a explicar o aumento do número de óbitos que se verificaram na região: temos efetivamente um número mais significativo de óbitos em idades mais avançadas, eventualmente pelo facto de o Alentejo ser constituído por uma população mais envelhecida”.

“Nós já tínhamos verificado que os meses de julho e outubro de 2020 tinham registado uma maior mortalidade, quando comparados com 2019. Eventualmente estão associados ao aumento do número de óbitos provocados pela covid-19. Mas, efetivamente os meses de dezembro e janeiro foram aqueles em que houve um maior aumento de mortes, não só em termos absolutos, como também populacionais (estamos a falar do número de mortes por cada 100 mil habitantes)”.

 

Fotografia de jornalmedico.pt