8 Janeiro 2016      15:55

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MATEMÁTICA, AMOR E JÓIAS NO ALENTEJO

Carla Santana e Telémaco conheceram-se em Mértola e do seu amor acabou por nascer também a marca Santanajewelry, uma marca de acessórios de vestuário bordados artesanalmente que está localizada no Centro de Ideias e Negócios In Castro, em Castro Verde. Falámos com a Carla e ficámos a conhecê-la um pouco melhor e a este projeto também. https://www.facebook.com/santanajewelry

Tribuna Alentejo – Como é que a Carla veio parar a Castro Verde?

Carla Santana – Eu e o meu marido Telémaco conhecemo-nos em Mértola, em 2002, e o amor que nasceu desse encontro misturou-se com os cheiros, com os sons e as cores do Alentejo. Por questões profissionais e familiares voltámos à margem sul, onde vivemos durante dez anos, mas o apelo das enormes planícies amareladas e dos céus trémulos de labaredas foi mais forte, por isso, regressámos, desta vez definitivamente. A escolha, em particular, de Castro Verde foi feita tendo em conta três questões: por estar situada geograficamente no Baixo Alentejo, que adoramos; por constituir, em termos estratégicos, um excelente local de acesso a locais para onde gostamos de ir, nos momentos de lazer; e, finalmente, por oferecer excelentes condições ao nível do parque de campismo, sítio onde vivemos, na nossa maravilhosa autocaravana.

Tribuna Alentejo – Qual a sua formação? Sempre se dedicou a criar este tipo de peças que podemos encontrar na Santanajewelry?

Carla Santana – Quero começar por esclarecer que o projeto Santanajewelry é feito por Carla Santana e Telémaco Santana, O Telémaco afirma ter unicamente um papel de consultor, conselheiro e ajudante, é professor de Português na Escola Secundária de Castro Verde.

Sem o Telémaco este trabalho não era possível. O Telémaco está sempre presente em cada peça, onde expressa a sua opinião e ajuda na conceptualização. Apoia e incentiva o desenvolvimento do projeto.

Sempre mostrei interesse pelos trabalhos manuais e pelas artes decorativas. Ainda adolescente dominava as técnicas dos tapetes de Arraiolos, do ponto cruz e do crochet, mostrando grande destreza manual e criativa. A pintura a óleo, o pastel e o desenho a carvão fizeram parte das minhas experiências de vida e deram-me uma nova visão do mundo. No entanto, por imposição familiar, acabei por me matricular na Universidade de Coimbra, no curso de Matemática, terminando a licenciatura em 2002. Cansada da instabilidade da vida de professora, deixei o ensino e dediquei-me apaixonadamente à criação e confeção de vestuário. No entanto, desiludi-me com o mundo da moda e abandonei, também, este projeto. Um dia tropecei num livro sobre a história do Beadwork ao longo dos tempos. Fiquei fascinada com os trabalhos dos índios norte-americanos e senti vontade de aprender algumas técnicas e fazer alguns objetos. Julgo ter, finalmente, encontrado um material e uma forma de expressão que se identifica comigo e com o qual adoro trabalhar.

Tribuna Alentejo – Em que circunstâncias criou a marca Santanajewelry?

Carla Santana – Santanajewelry nasceu dos nossos apelidos, sendo, como já esclareci, um trabalho feito em conjunto e que se juntou a jewelry, joalharia de autor. O facto de ser uma palavra inglesa justifica-se pela dimensão internacional que pretendemos alcançar.

Tribuna Alentejo – De que forma ter este projeto associado a um Centro de Ideias e Negócios têm ajudado a expandir este negócio?

Carla Santana – O acolhimento no INCASTRO é muito recente. A existência de um espaço de apoio para desenvolver a conceção do trabalho artesanal e promover a imagem do produto é fundamental. Para além disto, o INCASTRO é um espaço de partilha de conhecimentos e aprendizagens entre os vários ramos de atividades que estão aí presentes.

Tribuna Alentejo – Que peças produz e que relação têm elas com a vivência alentejana?

Carla Santana – Tudo começa numa ideia ou imagem bastante geral e abrangente. Seguidamente, há uma fase de pesquisa e informação que depois passa por um processo de síntese e se concretiza numa peça, através da conjunção de diversas técnicas criativas, análogas às usadas nas tapeçarias e nos bordados. Em todo este processo há também influências vindas de outras experiências e áreas, como pintura, a escultura, a fotografia, etc., onde questões como luz, cor, textura, ritmo e poesia, até, são muito importantes. O Alentejo, a sua paisagem, os seus costumes, tradições e cultura, é fonte de inspiração de alguns dos trabalhos.

Tribuna Alentejo – Ainda no que respeita as peças, por exemplo uma flor que podemos ver nas fotos da página do facebook... Quanto tempo demora em média a fazer?

Carla Santana – É difícil dar uma resposta em termos quantitativos, porque o projeto de uma peça passa por várias etapas antes do trabalho de bordado em si. Por exemplo, a conceção do colar baseado na esteva começa com uma ida ao campo para colher a flor, colocá-la numa jarra para a ver florescer. Analisei a cor e textura da flor e folhas, bem como a posição das folhas no caule (e aqui existe sempre matemática!). Vi o botão a abrir até se tornar flor. Depois conceptualizei um colar onde sintetizei o que observei. Depois de várias experiências, escolhendo cores, avaliando brilhos, experimentando técnicas, desmanchando e refazendo de novo, cheguei à forma da flor e das folhas.

Para terem uma pequena ideia, depois de todo aquele processo ultrapassado, faço hoje, apenas a for, em 4 horas e 30 minutos.

Tribuna Alentejo – Se um/a dos/as nossos/as leitores/as quiser comprar uma peça com a assinatura Santanajewelry, como poderá fazê-lo?

Carla Santana – Tenho o meu portfólio no facebook, onde, depois do contacto feito, envio a peça por correio. Estou representada no Posto de Turismo de Castro Verde, mas aqui as pessoas só encontram peças alusivas à região. Estou representada na plataforma on-line aBOUT aLENTEJO com algumas peças minhas.

Se for uma peça personalizada, diferente das que encontra no facebook, pode entrar em contacto comigo telefonando para o INCASTRO, para posteriormente reunirmos e conceptualizarmos o trabalho.

Pretendo, num futuro próximo, abrir uma loja on-line.

Tribuna Alentejo – Atuamente a Santanajewelry absorve todo o seu tempo ou sobra algum para se dedicar a outras atividades?

Carla Santana – Pouco tempo me sobra, mas não deixo as minhas leituras, pois elas também servem de inspiração. Neste momento também estou a desenvolver um projeto sobre os contos tradicionais, onde se vão concretizar em peças como pregadeiras e colares.

Estou a aprender a tocar viola campaniça, que adoro! Todas as artes estão presentes na minha vida. Reservo sempre partes do ano para viajar na nossa autocaravana, dentro de Portugal ou pela Europa, bebendo todas as experiências, no sentido de me influenciarem posteriormente.

Tribuna Alentejo – Há muitos jovens em lançarem-se nos seus projetos, à semelhança da Carla, em Castro Verde?

Carla Santana – Não sou a pessoa mais habilitada para falar desse assunto, o que lhe posso dizer é que, dentro da realidade que conheço, a maior parte dos jovens empreendedores situa-se na faixa etária entre os trinta e os cinquenta anos. De facto, estas pessoas não são propriamente jovens que acabam de sair da universidade e/ou que procuram um primeiro emprego. Relativamente àquilo que faço, em Castro Verde há várias pessoas a trabalharem em artesanato de autor, onde a faixa etária corresponde à que já referi.

 

Tribuna Alentejo – Há alguma dica que queira deixar a outras empreendedoras deste nosso Alentejo?

Carla Santana – Entre várias funções, o INCASTRO facilita, incentiva e apoia projetos em fase de crescimento. A partilha de conhecimentos entre diferentes áreas é essencial ao desenvolvimento de projetos e ideias.