23 Março 2021      12:39

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Investigador de Évora alerta para o perigo do caranguejo-peludo-chinês

Pedro Anastácio, investigador do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente na Universidade de Évora, alerta para os perigos do caranguejo-peludo-chinês, uma espécie aquática invasora presente na bacia hidrográfica do Tejo, avança a revista Wilder.

O investigador, ligado ao projeto LIFE Invasaqua, cofinanciado por fundos comunitários que divulga informação acerca da ocorrência e combate a espécies invasoras, explica que o caranguejo-peludo-chinês é um caranguejo fortemente invasor e relativamente grande, tendo pinças muito “peludas” e que parecem luvas, que tornam a sua identificação inequívoca.

Além disso, em Portugal, este é o único caranguejo que pode ser encontrado em água doce, estando estabelecido na bacia do rio Tejo, apesar de se ter registos noutras bacias, por exemplo a do rio Minho. A sua presença está limitada a jusante de grandes barragens intransponíveis, como acontece na barragem de Belver, na bacia hidrográfica do Tejo, distrito de Santarém.

Pedro Anastácio explica ainda que o problema com o caranguejo-peludo-chinês passa pela sua atividade escavadora, que afeta a estabilidade de margens e taludes. Adicionalmente, consome plantas aquáticas e nalguns países afeta a produção de arroz. Em território nacional, foram referidos danos em redes de pesca e consumo de peixe ou de isco em redes e armadilhas.

Por outro lado, este caranguejo consegue ultrapassar barreiras, como em pequenos diques e barragens, nas suas migrações em massa ao longo dos rios, podendo tornar-se um problema local, frequentemente trepando e caminhando fora de água.

Apesar de em Portugal não haver ainda qualquer plano oficial para o controlo desta espécie, sendo a sua erradicação impossível na prática, é importante minimizar o risco de transmissão para outros rios, que pode acontecer através de introduções intencionais de adultos ou pelo transporte acidental de larvas em tanques de lastro.

De acordo com o investigador, se se encontrar um caranguejo-peludo-chinês, não se deve devolvê-lo à água ou libertá-lo noutro local. Pode-se registar a ocorrência através da aplicação “Invasive Alien Species in Europe”, que tem uma versão portuguesa e conta com a colaboração do Projeto LIFE Invasaqua, sendo igualmente importante avisar diretamente as autoridades competentes se a espécie for encontrada fora da Bacia do Tejo.

Recorde-se que o projeto LIFE Invasaqua está a difundir o conhecimento de que esta espécie é fortemente invasora, e que se encontra na Lista de Espécies Invasoras Preocupantes para a União Europeia, além de transmitir o conhecimento que este caranguejo não se deverá de modo algum levar para outras bacias hidrográficas.

Estão ainda previstas ações específicas em cada zona do país, para formação das autoridades, pescadores e outras partes envolvidas, sensibilizando-os para o problema e distribuindo gratuitamente o guia de espécies exóticas e invasoras aquáticas. O projeto contempla ainda o cumprimento das normas e recomendações internacionais respeitantes às águas de lastro, que são o principal meio de dispersão acidental da espécie.

 

Fotografia de wilder.pt