14 Agosto 2020      10:57

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Interior do Alentejo encontra-se “cheio”, contrariando a sua tendência de verão

O interior do Alentejo, que costuma ter pouca gente no verão, este ano está “cheio” com os turistas nacionais que visitam a região, garantem os autarcas e responsáveis de entidades alentejanas à agência Lusa.

Devido à pandemia do novo coronavírus, “as pessoas acabaram por escolher zonas livres de covid-19 ou, pelo menos, em que os casos tenham sido poucos”, argumenta Francisco Ramos, presidente da Câmara Municipal de Estremoz, um dos poucos concelhos do distrito de Évora sem registo de “qualquer caso” da doença.

O autarca adiantou ainda que os turistas querem “estar em zonas isoladas”, no interior, e que os turismos rurais ou alojamentos locais do concelho estão “praticamente ou mesmo cheios”. “Esse terá sido o princípio que terá trazido mais gente do que aquilo que era normal nesta altura do ano aqui a Estremoz”, sublinhou Francisco Ramos, lembrando que, “o que acontecia normalmente era o contrário. As pessoas rumavam para o litoral, para o Algarve ou costa vicentina, outros para o estrangeiro”, mas, este ano, “nota-se que os residentes não saíram” e “muita gente veio de outas partes, principalmente de Portugal, e estão alojados nos turismos rurais”.

Para esta procura “muito grande”, o presidente do município de Estremoz aponta como indicadores o mercado da cidade, onde se encontra “muita gente que não é de cá”, e o Museu Berardo Estremoz, aberto desde 25 de julho e que já teve quase 3.000 entradas, das quais “95% foram portugueses que não são de cá”.

No entanto, a situação em Estremoz não é a única realidade nesta região. O presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva, confirmou, mesmo sem estatísticas atuais, que o verão está a ser “ótimo”.

“Uma região com as nossas características, horizonte, espaço, tranquilidade, paz, é uma zona toda ela ‘anti-covid’, independentemente dos surtos. É uma zona que claramente os turistas, nomeadamente os turistas com poder de compra, procuram nestas alturas, como sucedeu com esta pandemia”, argumentou o responsável.

Ceia da Silva realçou também que “muitas zonas do Alentejo estão com as taxas de ocupação máxima”, insistindo que os visitantes querem “zonas mais isoladas, com menos aglomerados humanos e mais espaço”. Contudo, “isto não quer dizer que não haja unidades que não estejam a passar por dificuldades, nomeadamente micro e pequenos empresários”, acrescentou, apontando para a “grande incógnita” que espera o setor “a partir de outubro”, quando o turista nacional voltar ao trabalho e os filhos à escola.

O responsável reconhece que “o setor do turismo vai precisar do turista estrangeiro como teve durante os últimos anos”, e que “a grande questão” é saber se “vamos ou não conseguir obter mercados internacionais suscetíveis de poderem substituir o crescimento do turismo interno”.

Esta preocupação também é partilhada por Mónica McGuill da rede Casas Brancas, uma entidade que agrega associados no litoral alentejano e costa vicentina, com 35 unidades de alojamento rural, 12 restaurantes e oito empresas de animação turística. “A perspetiva é que o verão corra bem, talvez até meio de setembro”, mas “nota-se uma quebra” a partir dessa altura e “não sabemos bem [como vai ser]. É uma incógnita completa. Poderá haver mais ocupação aos fins de semana, mas, durante a semana, se não houver turistas estrangeiros, isso vai-se refletir”, argumentou.