24 Maio 2017      12:12

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A INDÚSTRIA DA CORRUPÇÃO

A prática da corrupção conduz a sociedades mais desiguais, perverte a distribuição de riqueza e de oportunidades, aprofunda injustiças sociais e coloca em risco a dignidade humana.

Se fosse uma indústria, a corrupção seria a terceira maior do mundo, correspondendo a cerca de 5% da economia mundial. Na União Europeia (UE) estima-se perdas anuais entre os 179 e os 990 biliões de euros devido à corrupção, o que equivale a um valor entre os 4,9% e 6,3% do PIB da UE-28. Para Portugal a UE estima perdas anuais entre 13,5 e os 21,6 biliões de euros, o que equivale respetivamente a 5,9% e 9,7% do PIB português.

Globalmente, o modelo de negócio desta indústria assenta no funcionamento de um sistema interligado e organizado de redes sofisticadas de poder transnacionais que se movimentam nos mais variados sectores públicos e privados, tendo como único objetivo capturar receitas destinadas ao enriquecimento crescente dos elementos que as incorporam.

Todavia, um dos aspetos mais interessantes a considerar é o modo como esta indústria bem-sucedida coopera e trabalha interligada com outras redes de poder estrategicamente erguidas no tecido social, gerando assim uma forte dependência nociva e perigosa para a sociedade. O seu funcionamento não só cria castas sociais bem evidentes, como dita regras de mercado e desejos de consumo.

Os esquemas de corrupção ultrapassam fronteiras físicas e morais e constituem uma das ameaças ao desenvolvimento económico e social das nações. O combate eficaz contra este fenómeno exige uma abordagem internacional de cooperação, integrada e multifacetada, que congregue organismos governamentais e não governamentais especializados na matéria.

Contudo, é igualmente importante reconhecer que é necessária uma mudança no comportamento e no sistema de valores básicos da sociedade, uma vez que a maior dificuldade encontrada na implementação das políticas de combate à corrupção é, justamente, a resistência social daqueles que vêem na corrupção o caminho mais curto para o enriquecimento repentino.

Com base neste entendimento, um dos fatores que pode ser apontado para explicar o aumento deste fenómeno é a crise de valores que se instalou nas democracias, cuja desilusão com a classe política levou a uma sociedade menos reativa relativamente à corrupção.

Atualmente, parece não existir a vontade e o incentivo necessário para superar esta problemática social. Geralmente, a percepção que fica sobre o assunto é que os governos não fazem muito para combater a corrupção, porque os políticos são os que mais se esforçam para manter tudo tal como está. E, é assim com esta leveza blasé que o povo aceita e justifica a dificuldade e/ou a impossibilidade na adoção de medidas e reformas por parte dos seus representantes.

Por último e a talhe de foice: se após a revolução dos cravos os sucessivos governos tivessem sido assertivos o suficiente e combatido eficazmente a corrupção será que, neste dado momento, estaríamos em processo de saída do Procedimento por Défice Excessivo (PDE)? Fica a questão.

Imagem de capa de integritas360.org