9 Julho 2017      01:45

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A IMPONDERABILIDADE EM OZU E SYD BARRET

"DESVIOS E RESPECTIVOS ATALHOS: FILMES, LIVROS E DISCOS"

Frases avulsas escutadas nos meandros nocturnos do pós-cinema ou nos intervalos festivaleiros com nomes de pequenas vilórias em tons garridos e narcotizados. Convencidos, claro está, nem tanto de si próprios, e mais pelas academias jornaleiras dos suplementos de fim-de-semana (cada vez com menos páginas, até que insiste-se, insistem, insistimos desaparecerão, como refluxos de tempos que já não voltam).

Frases que remetem a Yasujiro Ozu (o maior de todos os tempos) e a Barret (génio louco, verdadeiramente louco, e não apenas louco para dar uma imagem de louco de si mesmo), frases imediatamente apetecíveis de contestar por serem ditas no local e momento e da forma mais impróprias. Frases tornadas medíocres e imperdoáveis por serem, não há por onde fugir, terrivelmente verdadeiras. Frases com destinos dolorosamente vulgares, pois são para serem ditas pela voz interior, vividas para além das respectivas linguagens – nestes filmes não assistimos a histórias e nestas músicas não ouvimos melodias. Não em stricto sensu. Não são para serem vistos e ouvidas em salas de cinema cheias ou concertos hiperbólicos. O sacrilégio, a existir, não é o sacrifício ao insucesso que o dito anteriormente na aparência implica, é justamente sugerir tal hipótese daquilo que foi dito. E raios laser e phaser para esses belos sucessos que tanto amamos. Todavia aqui o sucesso é outro. Não a explosão de uma linguagem, mas o sublime através de um mecanismo que se suporta numa linguagem. A transcendência Zen, a sublimação formal como meio para algo superior: a aceitação, o indivíduo atomizado, a pausa, a calma, a viagem fantástica, o riacho estreito que corre durante as estações húmidas e no tempo que resta ainda se faz ouvir como um jorrar dos primórdios, enfim, a aceitação.

 

Imagens de acculturated.com e ibtimes.com.cn