24 Março 2021      13:50

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História de um tempo em que se era feliz em Serpa e o desejo de voltar à rua

Gente daqui©FabriceZiegler_22 março 2018

Podem ser feitas várias abordagens, mas qualquer uma delas tem como objetivo principal a valorização da experiência e o carácter único do “fato social total”, que representa o Cortejo Histórico e Etnográfico de Serpa.

A exposição “Gente daqui” tem como objeto as pessoas que fazem o Cortejo Histórico e Etnográfico de Serpa — organizadores, construtores, figurantes e público — e traduz o olhar de Fabrice Ziegler, um dos muitos olhares possíveis, sobre este acontecimento riquíssimo em que praticamente toda a comunidade se revê.

Ao centrar-se nas pessoas, o autor vê o Cortejo da Páscoa essencialmente como uma comunhão coletiva onde toda a gente coopera. É uma manifestação transversal que a todos inclui: não distingue idades, simpatias partidárias, condições sociais, etnias nem profissões. O cortejo é feito por homens e mulheres que trabalham durante meses para o organizar e construir, que emprestam as suas alfaias, colaboram com os seus animais, participam com o seu próprio corpo ou com a sua voz, materializando um desfile que, ano após ano, entusiasma os naturais de Serpa — residentes ou ausentes — e os visitantes. Contudo, o que definitivamente marca o Cortejo Histórico e Etnográfico é a sua dimensão coletiva e democrática, corporificada através da cooperação.

Neste ano de 2021, o segundo consecutivo em que o cortejo é cancelado por causa da pandemia mundial de covid 19, é fundamental manter viva a memória deste trabalho coletivo que, anteriormente, só por uma vez (1990) não se havia realizado. Lembrá-lo hoje é assegurar que ele regressará às ruas de Serpa, assim que os serpenses tiverem condições para voltarem a fazer o tanto que gostam: dar total liberdade à sua imensa e criativa forma de celebrar a vida.

Este texto é de João Matias e explica a exposição constituída por fotografias tiradas pelo autor durante os meses de construção dos cortejos e desfile dos cortejos de 2017, 2018 e 2019; e por imagens de desfiles anteriores que pertencem ao acervo municipal. O eixo central é dedicado à participação popular. São fotografias dos figurantes e do público, que enchem as ruas de Serpa no domingo de Páscoa para ver o cortejo passar.

Há, também, fotografias de anos anteriores, que Fabrice Ziegler seleccionou para transmitir a dimensão histórica do cortejo. Pertencem ao arquivo municipal e muitas são de autoria desconhecida. Não podiam deixar de ser retratados os construtores do cortejo. É a parte não visível para o público, constituída, na quase totalidade, por operários e outros trabalhadores da câmara municipal. A exposição será dividida em dois lugares de apresentação: ao ar livre, na Praça da República, lugar central da cidade de Serpa; e no interior, na Casa do Cante, outro lugar emblemático de Serpa.

A exposição está patente de 2 a 30 de abril de 2021, ao ar livre, na Praça da República, e em interior, na Casa do Cante.