11 Novembro 2019      11:13

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Há 101 anos assinavam o fim da Guerra

Às 11 horas de hoje, 11 do 11, há 101 anos, entrava oficialmente em vigor o armistício que punha um fim formal à Primeira Grande Guerra.

Celebram-se hoje 101 anos do Dia do Armistício (1918), o dia em que, num vagão-restaurante, na floresta de Compiègne, na França, franceses, britânicos e alemães, assinaram o documento que punha fim à Primeira Grande Guerra.

O armistício viria a ser ratificado, posteriormente, no Tratado de Versalhes a 28 de junho de 1919 – e que acabaria por marcar também o início das Nações Unidas - e em que o Império Alemão viria a assumir as culpas pelo conflito.

O conflito teve início a 28 de julho de 1914 – numa história cheia de coincidências e acasos - e teve como palco principal a Europa, estando estiveram envolvidas as grandes potencias mundiais, divididas em dois grandes blocos: os Aliados – que tiveram por base a Tríplice Entente entre Reino Unido, França e o Império Russo-  e os Impérios Centrais europeus - Império Alemão, Austro-Húngaro e Itália (apesar de esta última acabar por não entrar na Guerra e de vir, mais tarde, a aliar-se no bloco oposto).

Também Portugal esteve representado na guerra, tomando parte pelos Aliados, e esta guerra teve um impacto enorme na História nacional e sobretudo no que concerne ao então império colonial português, mas também na manutenção e garante daquela que era então uma recém- criada República.

A entrada de Portugal na guerra deu-se a 7 de agosto de 1914, quando Bernardino Machado, presidente do Ministério, submeteu ao Congresso da República, uma declaração de princípios sobre a condução da política externa portuguesa, já pressionada por alianças históricas com Inglaterra. Portugal entraria nesta guerra em duas frentes, em dois continentes: África – nas colónias Angola e Moçambique – e Europa – essencialmente na Flandres e na França.

O contingente era curto e mal preparado, cerca de 100 mil homens, formado em três meses, e divididos em dois grupos: um que apoiaria o exército britânico e outro o francês.

Muitos soldados portugueses despareceram, muitos morreram; sobretudo na Batalha de La Lys – também conhecida como Quarta Batalha de Ypres ou a Batalha de Estaires – uma ofensiva das tropas alemãs na Flandres e que durou 20 dias em abril de 1918.

Nessa batalha, a segunda divisão portuguesa, comandada pelo General Gomes da Costa – que viria, mais tarde, a ser Presidente da República - com cerca de 20 000 homens, perdeu cerca de 300 oficiais e 7 000 homens face aos 50 000 alemães.

Esta batalha assistiu a um dos maiores bombardeamentos que há relato e, em poucas horas, morreram cerca de 7500 homens, como contanm relatos de Jaime Cortesão, nas “Memórias da Grande Guerra”:

“… Ao atravessar os campos as granadas caíam aos milhares! Alevantavam o chão todo! A terra fervia em cachão! (…) As aldeias ardiam como archotes alumiando a noite! (…) Lembrava o Inferno, a terra toda a arder!” 

Na Primeira Grande Guerra, estima-se que tenham estado envolvidos cerca de 70 milhões de militares; perto de 10 milhões de combatentes perderam a vida e perto de 20 milhões ficaram mutilados. Estes dados colocaram esta Guerra como o sexto conflito mais mortal da História da Humanidade e foi uma guerra com sérias implicações e revoluções políticas em muitos países.

O incrível, é que não fosse uma série de acasos furtuitos, meras casualidades, e ela podia nem ter acontecido. Dois disparos pela mão de Gavrilo Princip, numa esquina de Sarajevo, sobre o arquiduque Francisco Fernando - herdeiro do trono austro-húngaro - foi quanto bastou.    Pode parecer excessivo, por si só, mas ainda lhe parecerá mais quando terminarmos de lhe revelar todas as coincidências e causalidades que levaram a este assassinato.

De acordo com Tim Butcher, escritor de viagens britânico, Princip era um ”zé-ninguém”, sérvio da Bósnia, com 19 anos e era um atirador sem experiência e tornou-se, de acordo com a maioria dos historiadores, o grande responsável pela Primeira Grande Guerra e das catástrofes que se lhe seguiram no séc. XX.

Princip matou a esposa e o herdeiro do Império Austro-húngaro, do qual a Bósnia fazia parte, depois de os ter encontrado por acaso, numa esquina de Sarajevo. Exato, encontrou-os por acaso, pois nem ele, nem a família real, era suposto estarem àquela hora, naquele local de Sarajevo, em frente à pastelaria “Moritz Schiller”, e onde dois tiros mudaram a face do mundo.

O escritor bósnio Velibor Colic disse que “ o atentado de Sarajevo foi acontecimento de consequências mundiais, uma espécie de ponto zero. (…) Foi um “complot” muito bem organizado mas também muito caótico, e o acaso teve o papel principal. (…) Foi uma “vaudeville”, uma tragicomédia, cujas consequências, infelizmente, todos conhecemos.”

Diz a lenda que o assassino estava a comer uma sandes, mas, como tantas outras informações, não está confirmado, pois, com a guerra perderam-se inúmeros documentos e registos históricos. O que se sabe com certeza é que formava parte de um “complot” para matar o arquiduque, e que esse “complot” já havia falhado um atentado à bomba naquele mesmo dia e que três, dos sete jovens terroristas, se recusaram a utilizar as bombas e as pistolas que levavam. Por acaso, depois do referido, Princip e a comitiva real cruzaram-se e o assassinato foi cometido.

Contra a lógica e o bom senso, apesar de ter sofrido um atentado falhado quando a bomba atirada não acertou no carro onde seguia, Francisco Fernando decidiu continuar a visita a Sarajevo com normalidade. O atentado não fora casual e a sua interpretação era fácil: decorria a 28 de junho, celebrava-se o dia de S. Vito, o dia da nacionalidade na Sérvia, celebração levada a efeito após terem perdido a independência para os turcos, em 1389.

Após a receção na Câmara Municipal, o governador da Bósnia, Oskar Potiorek, convenceu o arquiduque a encurtar e alterar o itinerário, evitando o centro de Sarajevo, mas esqueceram-se de avisar o motorista. Ao aperceberem-se, já a meio caminho, tiveram que empurrar o carro à mão, pois não tinha marcha atrás. Essa paragem aconteceu em frente à pastelaria Moritz Schiller, mas podia ter acontecido em qualquer outro ponto do itinerário. Era precisamente ali que estava Princip que, enquanto comia uma sandes, viu surgir uma oportunidade clara para concretizar a missão que lhe dera uma organização nacionalista e misteriosa de Belgrado, a “Mão-Negra”, estando ainda por aferir o grau de participação do governo sérvio nesta organização. A princesa morreu de imediato e o arquiduque meia hora depois, às 11 da manhã de há cem anos. Trinta e sete dias depois começava a 1ª Guerra Mundial.

A guerra provocou a transformação mundial com o desaparecimento de quatro impérios, a revolução russa, a reorganização das fronteiras mundiais e o nascimento do fascismo e do nazismo, a 2ª Guerra Mundial, o Holocausto etc. e é quase inevitável perguntar: E se Gavrilo Princip tivesse falhado os disparos? Sabendo-se que Francisco Fernando era um pacifista e contra as guerras, ter-se-ia evitado a mesma?

O já citado Butcher acha que não, que a guerra era mesmo inevitável, mesmo sem este acontecimento, pois Princip era só dos jovens que queriam a mudança nesta fase do séc. XX: a era dos jovens, a era dos que não tinham voz, e que ali a começaram a ganhar, incutidos pelo espírito do forte nacionalismo que marcava a época (Irlanda, Palestina e futura Jugoslávia são alguns exemplos).

Depois desta Grande Guerra, já aconteceu mais uma. Já aconteceram mais centenas, senão milhares, de outras mais pequenas. A Humanidade não aprende?

 

Na imagem de portugal1914.org, tropas portugueses desfilam junto ao Arco do Triunfo, em Paris.