27 Outubro 2016      12:13

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A FOME

A pobreza extrema possui distintos significados mas resulta invariavelmente de processos de exclusão social e revela-se tanto no contexto mais amplo da sociedade como no universo particular dos indivíduos afetados, independentemente da situação política e económica de cada sociedade.

Se é verdade que as necessidades alimentares da humanidade jamais foram satisfeitas de um modo permanente, também é verdade que apenas uma mera fração é inteiramente saciada, sendo que a maioria da população mundial tem sempre subsistido de maneira precária, à margem da subnutrição.

Estima-se que no espaço europeu 79 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar de pobreza e 43 milhões estão em risco de carência alimentar e não têm meios próprios para pagar uma refeição completa, dados divulgados pelo Programa Europeu de Apoio Alimentar.

Todavia, a pobreza concentra-se em pessoas condenadas à incerteza de sobreviver desde a mais tenra idade. Na União Europeia, uma em cada quatro crianças estão em risco de pobreza ou exclusão social. No total, são 25 milhões de crianças, sendo que a maioria cresceu em famílias com parcos recursos, que lutam cada vez mais para que lhes seja proporcionada uma vida digna.

Independentemente do acervo de responsabilidades e de culpas, a condição de pobreza infantil confere um sentido repugnante à palavra fome que é difícil de ser descrita e compreendida pelos que não a vivenciam.

Para uma União Europeia que tanto se orgulha do seu modelo social, estes números são devastadores, confrangedores e deveriam configurar um crime contra a humanidade. Estes números comprovam, justamente, um ataque aos direitos fundamentais e um fracasso no investimento no futuro dos cidadãos.

No fundo, abordar esta temática é dissertar sobre uma modalidade de genocídio e o que mais arrepia é saber que a miséria e a fome subsistem, silenciosamente, tão perto de nós, não há como negar, e todos temos uma quota parte de culpa enquanto cidadãos que permanecem impassíveis e indiferentes diante dessa tragédia insidiosa.

A Indignação, a revolta, a culpa, a vergonha, a tristeza e a raiva não impedem que a fome se assuma como uma arma de destruição massiva dos povos.

​Na capa Lo sguazzetto o La sopa de los pobres, de Reynaldo Giudici.