4 Agosto 2019      18:26

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Eis os heróis que salvaram um casal italiano numa praia alentejana

Um casal italiano contatou-nos em julho por mail porque queria muito encontrar dois nadadores salvadores que lhes salvaram a vida este ano, na praia do Malhão, Odemira. Deram com o nosso jornal através de uma peça que coincidentemente havíamos publicado nesse dia, duas horas antes, a propósito da Praia do Malhão, onde se passou toda esta história.

Ele, Giuseppe Steffenino, médico cardiologista e ela, Manuela Dalbesio, enfermeira em Cuneo, noroeste da Itália. Após uma troca de mails e a nossa sugestão para que contactasse o município de Odemira para que os ajudasse, resolvemos preparar esta peça com um texto do próprio Giuseppe, que quer a todo o custo contactar os nadadores salvadores, que salvaram a sua vida e a da sua companheira, a 27 de junho, por volta do meio-dia, na praia do Malhão. Por isso pedimos então a ajuda aos leitores para encontrar os dois heróis anónimos. E foram os leitores que, através da imensa partilha da notícia nas redes sociais, o conseguiram.

André Pardal, scalabitano, 29 anos, nadador salvador há 9 anos e Ruben Cardoso, tomarense, 22 anos, no primeiro ano como nadador salvador, são os dois heróis que salvaram Giuseppe e Manuela, que não têm dúvidas: "teríamos acabado afogados, se dois nadadores salvadores não estivessem lá, muito atentos e prontos para nos salvar". 

André e Ruben, que já contataram os italianos, descrevem que na semana de 24 a 30 de junho estavam escalados para prestar serviço nas praias do Malhão, concelho de Odemira. A meio da semana, dia 27 de Junho, na praia do Malhão (Norte) estava um dia com boas condições meteorológicas, a afluência de pessoas era na ordem das duas centenas, o mar com tamanho considerável mas normal para a média do verão e maré vazante a partir das 11 horas. 

André lembra-se bem desse dia. "Por volta das 14h00 vimos um casal entrar no limite esquerdo da praia, mas ainda dentro da zona de banhos. Pareciam estar à vontade com o mar, no entanto a natação era apenas razoável. Olhámos para o outro lado da praia. Quando voltámos a olhar novamente para o par, verificámos que já estavam a dirigir-se para uma zona de corrente forte denominada de "agueiro".

O agueiro em questão localiza-se junto de uma rocha do lado esquerdo da praia.

André lembra-se que as coisas ficaram mais agitadas e o à vontade do casal transformou-se em "natação descontrolada em direcção à rocha". "Perguntei ao meu colega de trabalho: "Estás pronto para o teu baptismo de salvamento? Ao que ele questionou: "levo a bóia ou cinto de salvamento?"

André disse-lhe para pegar na bóia torpedo e pés de pato e dirigir-se com calma para a zona do agueiro e seguiu atrás.

O Ruben tirou a t-shirt e entrou no agueiro para chegar mais depressa aos náufragos. Entretanto Maria subiu à rocha e sinalizou que precisava de ajuda. André entrou na água no mesmo local, aproximou-se dela após percorrer a distância de quase 50 metros que os separava, e pediu-lhe que saísse devagarinho da rocha e agarrasse o cinto de salvamento.

"Fechei o cinto de salvamento, deixámos-nos levar pelo agueiro, sinalizei ao Ruben, que já estava com o senhor, para fazer o mesmo. De seguida deslocámo-nos paralelamente à praia até deixarmos de sentir a força do agueiro e rebocámos o casal para terra com a ajuda das ondas. Quando chegámos os quatro ao areal, verificou-se ainda mais o cansaço e o pânico que rapidamente se instalou no casal". Lembra André.

"Ambos lívidos, a senhora a tremer, ele exausto e deitado na areia. Vimos sangue no peito e pernas de ambos, calçámos luvas e apurámos que tipo de cortes tinham. Tudo superficial. O senhor, aparentava os seus 65 anos e estava exausto. Esclarecemos se tinha problemas cardíacos e ele referiu que era cardiologista. Aí ficámos mais descansados pois um médico com essa especialidade sabe bem os sintomas e sinais de uma crise cardíaca! Vários  banhistas aperceberam-se do que se estava a suceder e prestaram ajuda na forma de sombra e toalhas".

 "Após 10 minutos, passado o susto e o cansaço, falámos melhor com os náufragos e preenchemos um relatório do sucedido", com o casal Italiano, Giuseppe e Manuela, a desdobrarem-se em agradecimentos.

"Felizmente correu tudo bem, não só graças à preparação física e mental individual , mas também à preparação física, orientação e excelente formação providenciada pela Seagull Rescue - Associação de Nadadores Salvadores de Grândola à qual pertencemos", diz André, nitidamente orgulhoso.

Os dois heróis dizem terem recebido de amigos nota da notícia que os procurava. "Ficámos muito contentes por saber que o casal estava à nossa procura e é extremamente gratificante quando alguém nos diz um simples obrigado".