19 Março 2021      08:55

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Culturas de regadio utilizam 75% da água em Portugal

O setor agrícola é responsável por 75% do total de água utilizada em Portugal, acima da média da União Europeia (24%) e mundial (69%), devido às culturas de regadio, segundo um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian.

De acordo com agência Lusa, o estudo “O uso da água em Portugal – olhar, compreender e atuar com os protagonistas chave”, encomendado pela fundação ao C-Lab – The Consumer Intelligence Lab, revelou que esta percentagem está em linha com o que se verifica nos países mediterrâneos, como Espanha (79%) e Grécia (81%), o que acontece devido à existência de regadio.

O estudo adianta ainda que as barragens públicas servem um terço da área regada, porém, “a barragem do Alqueva constituiu um grande contributo para a evolução do regadio nos últimos anos, correspondendo o Alentejo a cerca de metade da área regada do país”.

Contudo, baseando-se no “Water Exploitation Index” da ONU, a investigação revela também que, de um modo geral, a situação em Portugal “não é problemática”, embora este indicador não incorpore o impacto das alterações climáticas e as projeções de consumo.

No sentido oposto, a análise do World Resources Institute para 2040 aponta que 33 países vão enfrentar “riscos extremamente elevados de stress hídrico”, que ocorrem quando a captação de água para consumo é superior a 80% das disponibilidades médias anuais do país. Neste alerta, destacam-se o Norte de África e o Médio Oriente.

Em Portugal, por região, a zona abaixo do Tejo apresenta o nível máximo de risco “e é precisamente no Alentejo e no Algarve onde se registaram mais secas de maior dimensão e gravidade ao longo de todo o século XX”.

Quanto à transição para uma agricultura mais sustentável ao nível da poupança de água, 65% dos agricultores inquiridos referiram utilizar um sistema de rega gota-a-gota, mas só 3% dos inquiridos adotaram medidas mais avançadas para a gestão da água. Dos que adotaram novas tecnologias, mais de 85% garantiu poupar água, “uma evidência que se torna ainda mais significativa para quem usa aspersores”.

No mesmo sentido, também 85% dos agricultores afirmaram gastar menor energia pela otimização da rega, enquanto 66% gastam menos fertilizantes e 77% ganham tempo utilizando o controlo pelo computador ou telemóvel.

Note-se que, em Portugal, o número de explorações agrícolas passou de 416 mil em 1999 para 259 mil em 2016, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados no estudo.

Por sua vez, a dimensão média das explorações fixava-se em 9,3 hectares em 1999, número que passou a 14,1 hectares em 2016.

Para a elaboração deste estudo foram realizadas 52 entrevistas, que resultaram em mais de 100 horas de conversas. O estudo qualitativo contou ainda com uma amostra de 15 agricultores a residir em Portugal continental, que regam as suas culturas e vendem a produção no mercado nacional ou internacional.

Já o estudo quantitativo abrangeu uma amostra de 335 indivíduos (amostra nacional) e mais 155 para garantir “relevância estatística e uma análise ais aprofundada das regiões Centro, Alentejo e Algarve”.