3 Novembro 2020      14:41

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Confiem no Teletrabalho!

Aos portugueses sempre causou alguma perplexidade e admiração, observar trabalhadores independentes a desempenhar as suas funções a partir de casa, em cafés, restaurantes, jardins, ou em qualquer outro lugar longe do rebuliço do escritório. O que tomava as atenções era a informalidade da situação, a despreocupação com que se iniciava o dia de trabalho, a postura leve que estas pessoas assumiam e a flexibilidade que aparentavam ter. Talvez por não terem a perspetiva de o fazerem também, muitos trabalhadores dependentes habituaram-se a olhar para o teletrabalho como uma alternativa pouco provável às suas rotinas diárias, que apenas em caso de doença lhes estaria acessível. O conservadorismo e alguma desconfiança relativamente aos trabalhadores em teletrabalho impediram que esta forma de trabalho se disseminasse e evoluísse de forma natural.

Talvez por isso, a adaptação por parte das empresas e trabalhadores a esta realidade nos primeiros meses da pandemia foi mais progressiva do que imediata. Com a chegada de uma nuvem negra em relação a um novo confinamento a pairar sobre empresas e famílias, volta a discutir-se o teletrabalho como alternativa a uma presença física no escritório.

Não existem dúvidas de que o teletrabalho veio alterar significativamente a dinâmica familiar e empresarial, e ainda que nem sempre para melhor, é indiscutível que existem lições muito positivas desta metodologia. Em primeiro lugar, é aplicado pela primeira vez no mercado de trabalho, o verdadeiro conceito de flexibilidade. Assenta no novo paradigma do trabalho ir ao encontro do trabalhador, o que dá a possibilidade de se realizar em qualquer ambiente. Este conceito, outrora inserido na rúbrica do salário emocional, tenderá a fazer parte do imaginário das empresas e trabalhadores com mais regularidade, dados os benefícios gozados por ambos. Devido à significativa redução de custos com deslocações e alimentação, o poder económico dos trabalhadores em teletrabalho aumentou de forma muito evidente, o que aumentou igualmente a perceção de satisfação destes para com esta forma de trabalho. Também as empresas beneficiam desta política de trabalho, uma vez que reduzem drasticamente os custos operacionais, pelo simples facto de não terem a necessidade de utilização do escritório físico.

A eficiência do Teletrabalho

Tendo em conta que o teletrabalho é uma nova disciplina na forma de relacionamento entre trabalhadores e empresas, é comum encontrarmos gestores muito céticos à sua utilização. Pode afirmar-se que uma grande fatia do tecido empresarial em Portugal, tendencialmente mais conservador relativamente a estes temas, não via qualquer vantagem no teletrabalho. O receio da quebra de produtividade e a falta de interesse seriam os fatores mais evidentes, mas o fator psicológico dos colaboradores começou a ser tido em conta quando foi percetível que grande parte das famílias não estava preparada para, de uma forma tão abrupta, fazer da sua casa o escritório.

Não obstante ser um reconhecido avanço para as empresas, é um facto que o teletrabalho, assim como os seus utilizadores, necessitam de ganhar alguma maturidade por forma a conquistar mais adeptos e assim fazer parte do léxico e da forma de trabalhar de todos os gestores. A única forma conhecida para conquistar essa maturidade é… confiarem no Teletrabalho, eliminando os erros do passado. Torna-se assim essencial encontrar um espaço de trabalho adequado, definição clara de objetivos, criar rotinas de trabalho e manter o contacto regular com os colegas. É em tempo de guerra que se fazem grandes conquistas, e o Teletrabalho terá forçosamente de ser uma delas.

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Sobre o autor: Duarte Meneses é natural de Lisboa mas cedo se apaixonou por Évora e é lá que hoje reside. Licenciado em Psicologia com especialização em Psicologia do Trabalho, é atualmente aluno de Mestrado em Gestão na Universidade de Évora. Trabalhou como Consultor de Recursos Humanos em Portugal e Angola, e atualmente é Gestor de Recursos Humanos em empresas agrícolas da região.