2 Abril 2021      11:24

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Central fotovoltaica em Santiago do Cacém é contestada por população

O projeto que prevê uma central solar fotovoltaica no concelho de Santiago do Cacém, num investimento de mil milhões de euros, está a ser contestado pela população, através de uma petição pública.

Segundo a agência Lusa, a empresa Prosolia Energy quer construir a central solar “The Happy Sun is Shining” (THSiS) na freguesia de São Domingos e Vale de Água, e o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projeto esteve em consulta pública até dia 18 de março.

O resumo não técnico deste estudo indica que o terreno onde o projeto vai “nascer” tem uma área total de 1.262 hectares, que inclui “mais de um milhão de eucaliptos” e zonas de montado, mas para a ocupação da central estão destinados 535 hectares. É esta a área onde vão ser montados mais de 2,2 milhões de módulos solares dupla face, “com uma potência combinada de 1.143 MW (megawatts)”, com a qual se estima produzir cerca de 1.761 GWh/ano, com o objetivo de escoar energia para o Sistema Elétrico Nacional.

Contudo, o projeto, apresentado como o maior parque solar da Europa, e a sua construção, prevista para 2025, estão a gerar críticas junto de moradores da freguesia, e até já circula uma petição pública, através da Internet, que contabilizava mais de 1.250 assinaturas.

Esta petição contesta a central, argumentando que vai surgir “em área rural de Reserva Ecológica Nacional (REN) e Reserva Agrícola Nacional (RAN)” e alegadamente envolver “o abate de milhares de árvores”.

Em declarações à Lusa, Paulo Quintos, residente local, diz estar contra a instalação de “um monstro às portas” da freguesia – a povoação de Vale de Água fica a menos de um quilómetro da área da central – e revelou preocupações em relação a um projeto que diz ter sido “mantido em segredo em tempo de pandemia de covid-19”.

“Além da dimensão, grande parte dos terrenos está em REN”, refere o também subscritor da petição, discordando do que considera que vai ser o abate de “1.262 hectares de mata. O morador acrescenta ainda que o projeto vai dar lugar a “um deserto tapado por painéis solares, por vidro e metal, fazendo desaparecer a biodiversidade”, acrescentou.

Além disso, com o abate de árvores, Paulo Quintos receia o “aumento das temperaturas”, principalmente no verão, e argumentou não ver “mais-valias” na instalação do parque solar “neste canto do Alentejo”.

“Os painéis também produzem resíduos tóxicos, um deles o silício, que é um dos componentes que vai ser infiltrado nos aquíferos. Há cerca de 60 habitações naquela zona que não têm água canalizada, utilizam furos e bebem desses furos, cujas águas serão contaminadas”, alegou.

Na petição, que será enviada à Agência Portuguesa do Ambiente e à câmara municipal, consta ainda outra preocupação: a proximidade do projeto à barragem de Fonte Serne e a “vários aquíferos essenciais à população”, assim como o impacto nas atividades ligadas ao turismo da freguesia.

O estudo refere que está previsto “que sejam preservados os montados, os exemplares identificados isolados, assim como a vegetação ribeirinha”.

Por seu lado, a empresa promotora da central limitou-se a esclarecer que a população será ouvida neste processo, estimando que a construção da central solar não arranque “antes de 2025”.

Fonte da empresa revelou ainda que “vai haver oportunidade para dar resposta a todas as questões legítimas que sejam levantadas. Para isso, vamos começar por analisar, com a maior das atenções, todos os comentários que foram, entretanto, submetidos no EIA”.

De acordo com o EIA, a central terá uma vida útil de 30 anos e contribuirá anualmente para evitar a emissão de cerca de 595 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono) para a atmosfera, quando comparado com a produção de energia equivalente utilizando gás natural, ou a não emissão de cerca de 1.408 toneladas de CO2, por ano, se o combustível utilizado fosse o carvão.

 

Fotografia de sulinformacao.pt