25 Fevereiro 2021      18:41

Está aqui

Banhos de São Romão, uma tradição do Litoral Alentejano

Continuando o roteiro pela riqueza cultural da nossa região, seguimos até ao esplendor da costa alentejana. Lugar calmo e fascinante, pela sua paisagem, esta faixa litoral tem sido considerada nos últimos tempos como um dos últimos redutos das costas selvagens na europa.  As suas praias, de características naturais e selvagens, dão-lhe também o estatuto das mais belas e puras do mundo.

E é precisamente num dos paraísos do litoral alentejano (Lagoa de Santo André), que relembramos a tradição dos banhos de São Romão.

Até meados do século passado e no final da faina agrícola (trabalhos agrícolas), o dia 9 de agosto, era o único dia do ano em que as gentes do interior do município de Santiago do Cacém iam à praia. Vindos da Serra, em carroças ou a pé, assim seguia o cortejo em direção à costa de Santo André. De véspera, preparava-se o “farnel” onde os comes e bebes eram meticulosamente aprontados pelas mulheres, para que nada faltasse. Nessa noite de azáfama, mal “pregavam olho”! De vestes tradicionais e em clima de comunhão, assim era a chegada das gentes do interior à Romaria. Já no areal e depois de transportados em cestas pelas senhoras, rapidamente se partilhavam os manjares entre famílias. De forma espontânea e sem grande pompa, assim se pode descrever o acontecimento: “Carros ao alto, bestas atrás à cevadeira, improvisavam uns toldos feitos com colchas de cama, que haviam de servir para resguardar o Sol o lauto almoço, bem regado a vinho tinto, com sobremesa de melancia. Integralmente vestidos, eles de calça preta e camisa branca, elas de saia rodada escura e blusa clara de mangas compridas(…) (Pereira, 2003)[1].

Naturalmente que depois de faustosa refeição, a boa da sesta não poderia faltar! E entre tamanha folia, quando o calor apertava, era hora de “calças e saias arregaçadas” e ir a banhos. No meio de tanta agitação e regozijo, “eles de cuecas até aos joelhos e camisola interior, elas de combinação de estemunhita que faziam balão quando se acocoravam na água da rebentação das ondas, refrescavam-se no mar.(Pereira, 2003)[2]. Às celebrações, não poderiam faltar os bailaricos, onde inclusive se arranjavam os namoricos. Por fim, já noite dentro e à luz de candeeiros a petróleo, continuavam as danças e os cantes pelos inconfundíveis sons dos tradicionais acordeões e gaitas-de-beiços[3]. Era este, um dia bem diferente da sua vida fatigante nos campos. Assim era a tradição que durante décadas, levava até à Costa de Santo André as gentes do mundo rural.

Cientes da sua importância e numa tentativa de recuperar esta tradição, o Município de Santiago do Cacém e a Junta de Freguesia de Santo André, recriam anualmente os tradicionais banhos de São Romão. Com trajes a rigor, nesta viagem ao passado com a Costa de Santo André como palco, podemos reviver o que em tempos foi uma das grandes tradições do litoral alentejano[4]

 

[1] Pereira, F. M. (2003), Cadernos do Património - O Homem a Terra e a Lagoa, p., 8-10, Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

[2] Idem