25 Outubro 2017      11:09

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ASSAZ ATROZ

Que exemplo se presta à comunidade quando numa cantina escolar se permite servir às crianças frango cru à refeição? Ou viveremos num País disfuncional onde a “barbárie” impera e ganha força perante o indecente fracasso do papel social do estado, onde uns tudo têm e outros não têm nada?

Relata a comunicação social que, na data em que se celebrava o Dia Mundial da Alimentação, muitas crianças do segundo e terceiro ciclos foram brindadas à refeição com frango cru e arroz banhado em sangue.

Mas há mais! Não se trata apenas de um acaso de uma refeição (mal) servida.

Nas redes sociais, pais e estudantes publicaram uma vaga de fotografias que exibem a comida servida nas cantinas escolares por todo o país. E, para além do testemunho da má qualidade das refeições, também, há queixas da pouca quantidade que é servida.

A fazer jus na informação publicada por pais e alunos e difundida por órgãos de comunicação social e redes sociais, é inacreditável o que é servido nas cantinas escolares. O que revela, desde logo, uma falha tremenda não só de quem confeciona, mas também de quem supervisiona as refeições. A respeito da má qualidade deixo a questão: o que é feito da ASAE?

Perante tais factos, não podemos ser acríticos. Trata-se, nada mais nada menos, de um atentado à nutrição! E, dá que pensar como é que uma criança que passa o dia inteiro na escola se alimenta. O mais grave é saber que, infelizmente, para muitas dessas crianças a melhor refeição que podem ter é a que lhes é servida na cantina escolar.

Será que os responsáveis envolvidos perderam a capacidade de raciocinar, questionar e denunciar? Será que perderam a capacidade de entender o contexto de tudo o que os cerca? Será que perderam a capacidade para compreender o alcance das implicações das suas ações e/ou inações?

Terão que ser retiradas as devidas ilações de tudo o que aconteceu e apurar responsabilidades para que situações como estas não voltem a ocorrer.

Apesar de ser revoltante assistir ao silêncio a que os principais responsáveis se remeteram, temos o dever de exigir ao poder político que assegure, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à saúde alimentar nas cantinas dos estabelecimentos públicos escolares, bem como à dignidade e ao respeito pela alimentação dos alunos.

Por último e para reflexão, deixo uma pequena história do escritor e jornalista brasileiro Gilberto Dimenstein:

“Dois pescadores seguravam suas varas à espera de um peixe. De repente, gritos de crianças trincaram o silêncio. Assustados, os pescadores procuraram e nada encontraram. Os berros continuaram. A correnteza do rio trazia duas crianças quase afogadas, pedindo socorro. Os pescadores pularam na água. Mal conseguiram salvá-las, quando escutaram mais gritos: outras quatro crianças se debatiam. Novos gritos: são mais oito crianças vindo correnteza abaixo. Um dos pescadores virou as costas e começou a ir embora. Seu amigo não entendeu seu comportamento: - Você̂ está louco, não vai salvá-las? E ele respondeu: - Acho que está na hora de descobrir quem está jogando as crianças no rio."

Imagem de capa de clicrbs.com.br