10 Outubro 2017      11:42

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AFINAL, AS AZINHEIRAS NÃO DERAM CORTIÇA!

Apesar da abstenção ter permanecido extremamente elevada, os resultados provisórios das eleições autárquicas de 2017 sugerem que quem votou, não só, não se deixou seduzir pelo canto das sereias como, ainda, penalizou fortemente os erros de “casting”.

Da esquerda à direita, durante a noite eleitoral, fizeram-se sentir diversos abalos políticos de diferentes graus de intensidade. O PCP tremeu, estremeceu e abanou, nunca como agora teve tão poucas câmaras. O PSD foi amarfanhado, sacudido e brindado com o pior resultado de sempre. O BE oscilou e permaneceu, uma vez mais, irrelevante no contexto autárquico.

Melhor sorte tiveram o PS, alguns Independentes e o CDS. O PS registou o melhor resultado de sempre, alguns dos independentes não pararam de crescer e o CDS não vacilou e, à sua dimensão, manteve relevância política no contexto autárquico.

Face aos resultados obtidos, poder-se-á dizer que a pedalada do PS foi tal que até a geringonça abanou. De tal modo que o PS disparou, o BE não aguentou e o PCP estoirou.

Embora muitas vezes se diga que não são os desafiadores que ganham as eleições, mas sim os desafiados que as perdem, estas eleições ficam fortemente marcadas por alguns equívocos cometidos tanto à direita como à esquerda.

Primeiro equívoco: As azinheiras dão cortiça. Como do montado provém a cortiça e como os montados são constituídos por povoamentos de sobreiros e azinheiras, há quem plante, regue e cuide de azinheiras com a esperança de obter cortiça. Penso que esta ideia ilustra bem e traduz o desfasamento existente entre as expectativas dos munícipes e as estruturas partidárias.

Segundo equívoco: O canto das sereias é suficiente para caçar votos. Subestimar a capacidade intelectual dos munícipes é meio caminho andado para o naufrágio eleitoral e tal como observa um ditado do Congo “um tronco pode ficar por mais de dez anos na água e nem por isso será um crocodilo”.

Terceiro equívoco: A raposa condena a armadilha, não a si própria. A frase é de William Blake e traduz a ideia de refutação da culpa. Dificilmente se ganham eleições a menosprezar o adversário e a fazer em 15 dias o que teria de ser feito em 4 anos.

Todavia, a realidade política é demasiado complexa para se reduzir a três equívocos e, tanto nas vitórias como nas derrotas, há muito mais além do que o desempenho dos candidatos e a sedução dos eleitores.

No entanto, para quem detinha o poder e o perdeu teria sido fundamental ter estabelecido uma relação de confiança e proximidade com os eleitores. Em boa parte a chave do sucesso reside na mestria de ouvir regularmente os munícipes, as suas queixas, opiniões e sugestões, bem como procurar saber a avaliação que fazem do trabalho desenvolvido.

Do mesmo modo, para quem estava na oposição e voltou a perder teria sido igualmente fundamental se tivesse conseguido estabelecer essa mesma relação, reunindo-se, regularmente, com os munícipes e discutindo abertamente todos os assuntos autárquicos, de modo a construir uma relação de confiança e a inspirar credibilidade.

Contudo, se a construção desta relação de proximidade e confiança for feita apenas nas vésperas das eleições será vista como caça ao voto e entendida como falta de respeito pelos eleitores.

Ora, entre o canto das sereias e as azinheiras que não deram cortiça, os eleitores sabiamente fizeram a sua escolha e não terão caído na armadilha da raposa.

Imagem de capa de nanquimaquarela.blogspot.pt