9 Janeiro 2017      14:30

Está aqui

7 DE JANEIRO DE 2017

"Quando chego a uma sala destas, cheia de gente jovem, numa situação em que o país está de cócoras, em que tudo foi destruído, em que não há nada (…) e em que tanta gente, por medo ou por qualquer outra razão, não é capaz de lutar, estar aqui e ver-vos a vocês todos aqui aos berros pela liberdade e pela democracia, para mim é o melhor que me poderiam ter feito"

Mário Soares, 06 de Dezembro de 2014

 

Hoje perdi a minha referência política. Hoje morreu Mário Soares. Porque da pessoa em si já muito se escreveu, prefiro partilhar um dos momentos mais marcantes da minha ainda curta vida política.

A 06 de Dezembro de 2014, no XIX Congresso Nacional da Juventude Socialista, reunido em Tróia, Mário Soares foi distinguido como militante honorário da instituição. Tive o privilégio de ter podido estar presente nesse momento e de vivenciar algo que jamais esquecerei.

Não foi a ovação que Mário Soares recebeu à entrada da Sala em que se reunia o Congresso. Não foram apenas as palavras que proferiu (essas marcam e marcarão para sempre). Foi sim o silêncio. Ele mesmo, o silêncio.

Durante toda a intervenção de Mário Soares, o silêncio que imperou na sala foi ensurdecedor.

Foi de facto arrepiante ver como uma só pessoa consegue reunir uma sala com centenas de pessoas em silêncio total para ouvirem as palavras que Mário Soares nos deu a honra de partilhar connosco.

Atrevo-me mesmo a afirmar que nunca mais voltei a assistir a um momento de tão grande respeito e consideração por alguém como o que assisti naquele dia.

A Soares devemos a democracia e a liberdade de podermos elogiar ou criticar alguém sem sofrer qualquer tipo de represálias.

Devemos, inclusivamente, a liberdade de, embora de forma incompreensível, se poder celebrar a morte de alguém, num claro sinal de desrespeito não apenas pela pessoa em causa mas, principalmente, pela sua família, num momento de dor que deve ser respeitado.

Ninguém é perfeito e, certamente, Soares terá alguns erros no seu percurso. Sempre chocou pela sua forma de ser e de se afirmar, como que se marimbando para o politicamente correcto. No entanto, como hoje tive oportunidade de partilhar com alguns amigos, talvez todos nós devêssemos olhar e colocar em prática esta capacidade.

Andamos tão preocupados com o que os outros dizem ou pensam, que nos esquecemos de olhar para as atitudes que tomamos enquanto tentamos ser aquilo que os outros querem que sejamos.

Hoje perdi a minha referência política mas ganhei e sei que vou continuar a ganhar e aprender, com o muito que Mário Soares nos deixou.

Mais que o nosso eterno Presidente, Soares será sempre (como fez questão de nos pedir) o nosso eterno Camarada que, tal como tenho ouvido dizer ao longo do dia de hoje, provou estar sempre do lado certo da história.

Obrigada Camarada! Até Sempre!