29 Novembro 2020      11:24

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25 crianças mutiladas por dia e a sua preocupação é ofender?

Haver 25 crianças mutiladas por dia, durante os últimos dez anos, não é uma notícia má: é péssima. As diferentes guerras e conflitos, existentes por todo o mundo, foram responsáveis por 93 mil mortes ou mutilações infantis, desde 2010.

"Imagine viver com o medo constante de que hoje pode ser o dia que seu filho será morto em um ataque suicida ou num ataque aéreo. Essa é a cruel realidade de dezenas de milhares de pais afegãos que têm filhos que foram mortos ou feridos", palavras de Chris Nyamandi, diretora do “Save the Children” no Afeganistão.

A “Save the Children” é uma organização não-governamental (ONG), criada em 1919, com sede em Londres, e os dados do relatório “Killed and Maimed: A Generation Of Violations Against Children In Conflict” (“Mortos e Mutilados: Uma Geração de Violações Contra Crianças em Conflitos”) revelam que as guerras no Afeganistão, Iraque, Síria, Iémen, entre outras, acabaram por resultar na morte ou mutilação de 93.236 crianças ao longo dos últimos dez anos.

Afeganistão, Iraque, Síria e Iémen estão entre os países mais perigosos do mundo para as crianças, onde são vítimas de ataques aéreos, bombardeamentos, minas terrestres e outras armas. À “Save the Chlidren”, uma menina de nove anos da província de Faryab, no Afeganistão, gravemente ferida na sua casa por um ataque com um míssil, disse: “A nossa casa foi destruída. Os meus três irmãos morreram e minha mãe ficou ferida. Eu chorava e chorava. Agora, vivemos numa tenda, espero que haja paz e que possamos voltar para casa.”

Esta semana chegou-nos a notícia de que uma granada perdida numa horta, em Zimpinga, Moçambique, matou duas crianças. Se neste caso foi um acidente, muitas situações há em que o objetivo é mesmo atingir escolas e zonas residenciais, como lhes recordará a história da Prémio Nobel da Paz em 2014, Malala Yousafzai.

Inger Ashing, diretora-executiva da ONG, disse que “Nunca houve, na História, tantas violações comprovadas e perpetradas contra as crianças”, e que “os seus direitos são um pilar da nossa humanidade coletiva e uma prova de fogo ao estado da nossa civilização”.

Toda esta guerra, toda esta situação, faz com que famílias em desespero larguem tudo o que conheceram como vida, tudo o que têm de seu, para procurar uma oportunidade de viver. Atravessar um mar em embarcações com condições de segurança duvidosas, rumo ao desconhecido, à dúvida, sem saber se chegam, com crianças e família, sem comida, sem nada, não tem justificação plausível a não ser fugir da morte.

Portugal já acolheu 530 pessoas no âmbito do Programa Voluntário de Reinstalação do ACNUR e da Comissão Europeia (ver peça à parte). Posto isto, foi com total espanto e algum sentimento de desilusão que li os comentários e reações de alguns leitores à notícia, da semana passada, de que uma família síria seria acolhida no Alentejo.

O estatuto editorial do Tribuna Alentejo refere que nos identificamos com “o modelo  de  sociedade  democrática  preconizado  pela União Europeia, respeitando não só a livre concorrência como também os direitos do Homem e as conquistas civilizacionais da vida em democracia.” e que rejeitamos “a  informação  normalizada  por  correntes  de  opinião  e  interesses dominantes, sejam eles religiosos, económicos, políticos ou mediáticos.” Procuramos a diversidade de opinião dos nossos colunistas, não só aceitamos como promovemos e defendemos até à última instância a liberdade de expressão, no entanto, não seremos nunca veículo para comentários xenófobos, racistas e insultuosos e incitadores de ódio, pelo que todos os comentários deste género serão banidos.

A empatia - a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivida - não será uma certamente uma característica ao alcance de todos o seres humanos, mas da próxima vez que decidir criticar os outros, porque são diferentes, estranhos, porque que vêm de fora… pare dois segundos, veja-se ao espelho, e tente colocar-se na posição do outro. O único risco que corre será o se tornar melhor pessoa e isso nunca fez mal a ninguém.