12 Setembro 2015      11:20

Está aqui

UM SÍRIO AQUI AO LADO

À medida que refugiados sírios estão mais próximos de Portugal, mais têm sido as vozes contra que se têm levantado contra esta vinda.

Ao seu lado já vivem sírios; mais que o que possam imaginar, mas hoje falámos de dois casos específicos. Um, Mohammed Al-Wattar, que vive em Badajoz (Espanha) a escassos quilómetros da fronteira portuguesa. E mais, tem 50 anos e já lá vive desde os 18 anos, e é médico em Portugal, sendo inclusive diretor do Centro de Saúde de Estremoz (Évora).

Mohammed é sírio e muçulmano. Cresceu em Damasco, capital da Síria e aos 18 anos veio para Espanha onde estudou medicina na Universidade da Extremadura. Desde então, ficou a viver em Badajoz até aos dias de hoje, relata o diário espanhol “Hoy”.

 Já há cinco anos que não visita a sua terra Natal, mas neste período de tempo já conseguiu trazer o seu pai, os seus irmãos e os sobrinhos – cinco menores entre os 4 e os 13 e que vieram em 2012.

“Fugiam da guerra e agora aqui em Badajoz estão perfeitamente integrados” – diz Mohammed – “Mas ainda tenho lá tios, primos e amigos, alguns já fugiram para a Turquia ou viajaram de barco até à Grécia. Ligo-lhes todos os dias para saber como estão.”

A guerra na Síria começou já há cinco anos e quando confrontado com a questão se este seria o pior momento da guerra, Mohammed diz que as fotos que se veem agora, com crianças, são chocantes, mas que na Síria já se convive com esta realidade desde o início da guerra.

Fala ainda sobre a origem da guerra e porque dura há tanto tempo: “Mesmo que cá fora possa parecer uma guerra civil, o que se passa é muito mais que isso. É uma guerra com muita influência internacional e durante este tempo (5 anos) já desapareceu um terço da população síria que era de 33 milhões. Há mais mortos que os que constam dos dados oficiais.” (…) A guerra está a durar mais que o que devia devido ao apoio de países estrangeiros que querem controlar as riquezas do país.”

Mas ainda mais perto está Nour Machlah. Nour é estudante da Universidade de Évora e chegou a Portugal por mão da Plataforma Global para Estudantes da Síria, apadrinhada por Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, enquanto Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Como Nour, vieram para Portugal mais 45 estudantes- espalhados por diversas instituições do Ensino Superior, quase 20, de norte a sul - numa operação que envolveu militares portugueses que foram buscar os alunos ao Líbano, num avião da Força Aérea Nacional.

O ex-presidente Jorge Sampaio revelou, em 2014, que foi uma operação complexa trazer estes jovens para Portugal - só devido à colaboração de muitas entidades foi possível – e que difícil foi também a seleção dos jovens que beneficiariam deste auxílio, pois chegaram cerca de 2500 candidaturas à plataforma.

Ricardo Araújo Pereira e o britânico Richard Branson, fundador do grupo Virgin e ativista social, são dois dos embaixadores da iniciativa.

Quanto a Nour – tem agora 24 anos - como muitos outros refugiados, também perdeu familiares e só encontrou alguma paz já no Alentejo.

Licenciou-se em Arquitetura, é atualmente estudante de mestrado na Universidade alentejana e, o sírio natural de Aleppo – uma cidade histórica e das que mais tem sofrido com a guerra – só deseja terminar os estudos, prosseguir uma carreira profissional e ter uma vida normal, pois sair da Síria não foi uma alternativa, foi o único caminho que garantia estar vivo.

Nour – que sofre ao ler as notícias que vão chegando – tem vontade de regressar à Síria e ajudar na reconstrução do país. Após terem morrido diversos familiares e amigos, o jovem sírio diz ainda que há memórias muito pesadas que não se apagarão.

Acha que os povos árabes podiam estar a ajudar muito mais e compreende o receio dos povos europeus em receber tantos refugiados e que no meio deles venham terroristas, mas que os terroristas virão na mesma e que isso não é desculpa para não auxiliar as pessoas em necessidade. Recusa a ideia de generalizar e relacionar automaticamente muçulmanos com terroristas e diz que estar em Portugal foi o melhor que lhe podia ter acontecido.

 

(ATUALIZADO)

 

Imagem de capa de Hosam Katan/Reuters daqui

Imagens daqui e daqui