Era uma vez um Natal igual a tantos outros. E como noutros, não muito distantes, sempre se insistia em abrir corações, em unir a famílias, em relembrar os nossos valores imbuídos pelo espírito natalício.
Porém, como este Natal não era diferente e haveria, pois, quem o tivesse repleto de agruras e sofrimento, houve quem quisesse parar o tempo. Parar o tempo por tempo indeterminado. Ou melhor, interromper apenas o suficiente para que a humanidade pudesse estabelecer um pacto de justiça social para todos, para que pudesse criar condições duradouras de trabalho, para que pudesse reafirmar valores morais e éticos, para que pudesse desarmar os corações sem amor ofuscados pela ganância, para que pudesse conjugar atitudes e propósitos para construção de um mundo melhor, mais justo e mais solidário.
Foi então que irrompeu o silêncio e se instalou alguma intranquilidade e inquietude entre a humanidade.
Mas, se se parasse o tempo por tempo indeterminado, então, quanto tempo seria necessário que o tempo parasse?
Este plano de suspender indefinidamente o tempo revelava-se, afinal, como um desígnio perturbador entre aqueles que têm avidez por ganhos lucrativos, lícitos ou ilícitos, e que se caracterizam pela vontade de possuir somente para si próprio tudo aquilo que os sentidos percepcionam existir, numa atitude voraz, pulsional e sem limites. Quem suportaria os custos desta interrupção temporal? É impensável que uns não possam multiplicar, a qualquer custo, o seu património apenas para favorecimento de outros.
Instalada a discórdia, mais uma vez, não se fez anunciar ao mundo o fim de todas as discriminações e injustiças sociais, praticadas gratuitamente e sem pudor contra os mais frágeis, em nome da arrogância e do poder.
Foi então que a humanidade reconheceu o mal de todos os males, o sentimento negativo da ganância humana. É, justamente, esse sentimento o principal responsável pela discórdia, causa de dúvidas, insatisfações e violências, que continuamente fez, faz e fará grandes estragos na vida de todas as pessoas.
Como que impelidos por uma força misteriosa, pronunciaram-se, finalmente, palavras audíveis de encorajamento a quem ousa proporcionar aos outros um Natal diferente.
Apesar de nada ter mudado nesse dia, o Mistério do Natal fez-se sentir.
E não há nada mais gratificante, perfeito e compensador que é o Natal dos justos de consciência tranquila.
Imagem Reuters daqui