8 Setembro 2015      21:05

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PORQUÊ É QUE OS SÍRIOS NÃO FICAM NA ARÁBIA?

Muitos se têm manifestado quer em críticas à Europa por não receber mais e melhor os intérpretes desta crise migratória, e outros, em posição oposta, e que contrapõem com a vinda de terroristas nestas vagas, fazem ressurgir a intenção real do Estado Islâmico em conquistar a Península Ibéria (o “Al-Andaluz”) e questionam: porque é que os sírios não procuram ajuda nos países árabes vizinhos do Golfo Pérsico?

Geográfica e culturalmente a Europa fica mais distante e é diferente da sua cultura, quer quotidiana, quer religiosa. Então o que faz com que se atravesse o mediterrâneo ou se percorram milhares de quilómetros para chegar à Europa em vez de procurar ajudam por exemplo no Dubai?

Amira Fathalla, para a BBC, dá uma explicação; desde 2011 – quando iniciou a revolução na Síria – que dezenas de cidadãos viajaram rumo à Europa atravessando o Líbano, a Jordânia e a Turquia, e acabam por chegar à Europa, mas entrar nos países árabes do Golfo Pérsico não é tão fácil. Porquê?

Para entrar em países como o Irão, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos ou Omã, os sírios podem pedir um visto de turista ou uma autorização de trabalho, mas o processo é caro e é senso comum que os países árabes têm restrições “não-oficiais” que tornam muito difícil que os sírios consigam vistos.

A maior parte dos países do Golfo Pérsico empregam sobretudo mão-de-obra vinda do sudeste asiático e do subcontinente indiano e os poucos sírios que conseguem os vistos de residência são pessoas que já estavam nesses países e alargaram a sua estadia ou que têm familiares lá.

 

São bem-vindos ou não?

Na Europa, esta pergunta tem sido levantada pelo mais comum cidadão e, essencialmente nas redes sociais, mas também na imprensa, é comum verem-se várias posições sobre o assunto; se por um lado devemos responder ao auxílio de outro ser humano com necessidades, o medo do terrorismo fundamentalista do Estado Islâmico também está presente; outros têm posto em causa a ajuda ao povo sírio quando também há muitos europeus e portugueses com necessidades. Questiona-se ainda a responsabilidade da Europa ou dos países árabes em receber os sírios.

No Golfo Pérsico, a pergunta também tem sido colocada. Desde a semana passada, a “hashtag” (identificação nas redes sociais) que se traduz do árabe como #acolher_os_refugiados_sírios_é_um_dever_do_Golfo já foi utilizada 33 mil vezes só no Twitter.

Normalmente, as publicações com esta identificação são de imagens fortes da situação e necessidades dos refugiados sírios, como as que temos visto nas últimas semanas, com crianças a chorar, ao colo de pais, ou mortos numa qualquer costa do Mediterrâneo.

No Facebook a página “The Sirian Community in Denmark” – a comunidade síria na Dinamarca – tem partilhado vídeos com sírios que já conseguiram entrar na Áustria, vindos da Hungria, e entre eles surge o comentário: “Como é que fugimos da região da nossa irmandade muçulmana, aquela que deveria assumir a maior responsabilidade para connosco que um país que acusam de infiel? (referindo-se ao modo como os fundamentalista classificam a Dinamarca)” e outro escreveu mesmo que jurava "por Deus (Alá) todo poderoso que são os árabes os que são infiéis.”

 

“Deixem-nos entrar!”

Mas além das redes sociais, também na imprensa árabe e no meio político do Médio Oriente o tema tem estado na berlinda e atraindo atenções.

O diário saudita Makkah publicou uma caricatura com duas portas; uma estava protegida por arame farpado e espreitava um árabe que reclama porque é que a outra porta – pintada a cores da União Europeia- não deixa entrar os refugiados.

Riyad al-Asaad, comandante do Exército Livre Sírio Libre – o principal grupo de oposição armada no país – partilhou una imagem de refugiados que tinha sido primeiramente colocada na rede pelo deputado do Kuwait Faisal al-Muslin. A fotografia estava acompanhada do comentário “Oh, países do Conselho de Cooperação do Golfo, estas são pessoas inocentes e juro que são os mais merecedores dos milhares de milhões em ajudas e doações.”

Ainda assim, e apesar da pressão crescente, parece de momento pouco provável que os países árabes mudem as suas posições e alguns países estão mesmo a desenvolver programas de emprego exclusivamente para cidadãos nacionais, como o governo do Kuwait, que pretende até reduzir o número de estrangeiros em cerca de 1 milhão de pessoas em 10 anos.

Os países árabes estão logo ali ao lado da Síria, mas as restrições "não-oficiais” que que levantam são mais elevadas que os muros europeus; daí que quem procura uma nova vida se vire para a Europa e para um percurso mais longo e perigoso.

 

Fonte BBC

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