31 Julho 2015      15:25

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MINT HANDICRAFTS MADE IN ALENTEJO

Mint Handicrafts é muito mais que um conjunto de peças feitas em algodão, linho ou em lã pelas mãos de Cristina Alves, natural de Estremoz. Mint Handicrafts é um “estado de espírito, um momento no tempo”, que pode tocar e contagiar quem visita o blogue, em que a criadora insere cada uma das suas peças num contexto muito próprio. Lenços, toalhas, passarinhos, cogumelos, corações, gatos que “caçam sonhos”, diários, estojos, xailes… por trás de cada uma destas peças há uma história ou um sonho…

Fomos conversar com a Cristina Alves, a criadora que deseja um Alentejo moderno mas não descaracterizado.

Conheça mais em https://www.facebook.com/MintHandicrafts/info?tab=page_info e no blogue http://minthandicrafts.com/blog/

 

Tribuna Alentejo: Cristina, antes de mais por quê Mint Handicrafts?

Cristina Alves: A escolha do nome tem que ver com uma expressão utilizada em vendas de artigos - quando as mercadorias se encontram em perfeitas condições, antes de serem adquiridas, diz-se que estão em “mint condition”. Pois é assim que eu desejo que as peças cheguem aos seus destinatários - em condições perfeitas!
A acrescentar a este motivo, gosto muito da frescura e suavidade da cor menta.

 

Tribuna Alentejo: Em que circunstâncias surgiu a ideia de criar este projeto? A costura, os bordados… este é um gosto antigo? Onde aprendeu a fazer estas peças?

Cristina Alves: Eu sou uma orgulhosa descendente de uma família com aptidão para “as artes”. Sempre existiu uma certa pressão pessoal para ter e pôr em prática um “saber fazer” que levasse comigo para onde quer que fosse. Criar com as mãos foi algo que sempre me acompanhou, mas este projecto em concreto, só surgiu quando fui mãe e comecei a fazer peças para a minha filha, que continua a ser responsável por grande parte da minha inspiração. O trabalho com agulhas (o qual a minha filha baptizou como “agulhar” – termo que utilizo vulgarmente) foi uma forma de materializar a vontade de pôr em prática o tal “saber fazer”. Os conhecimentos de costura, o bordado e o crochet foram adquiridos de forma autodidacta e aperfeiçoados com conhecimentos transmitidos por familiares próximos ao longo do tempo. Felizmente, tenho uma família alargada onde, para além da minha mãe e avós, tenho uma série de tias avós com quem sabe muito bem partilhar tardadas de braseira a aprender e a melhorar pontos.
Agrada-me a criação inovadora através de técnicas antigas e tradicionais e gosto de acreditar que a Mint Handicrafts segue esse caminho.

 

Tribuna Alentejo: Qual a sua formação? É nesta área?

Cristina Alves: Toda a minha formação académica foi relacionada com arte, à excepção da licenciatura que escolhi. Fiz Serviço Social, mas não exerço a profissão há cerca de 4 anos. A partir de então passei a ser artesã, profissão de que me orgulho! Digamos que ambas respondem a diferentes características de uma mesma Cristina – uma prende-se com os valores que me foram transmitidos desde a infância e a outra é a minha forma de comunicar.

 

Tribuna Alentejo: Mantém simultaneamente um blogue, onde escreve histórias associadas às peças que cria mas algumas também suas, encaixando estes objetos na sua vida. Sente que cria uma relação de afetividade com estas peças?

Cristina Alves: Sem dúvida que existe essa afectividade com as peças que faço. Existe uma reciprocidade enorme entre a Mint Handicrafts e a minha vida pessoal. Eu gosto da tranquilidade, de levar a vida com serenidade e um sorriso e quero que este estado de espírito se transmita nas minhas peças. Mas todos sabemos que nem sempre conseguimos afastar o stress das nossas vidas e, quando isso acontece, procuro a tal calma ao “agulhar”. Esta relação íntima entre ambos faz com que acabe por não conseguir evitar o clichê: todas as peças têm parte de mim. É por este motivo que não gosto de artesanato feito em modo de fábrica.
Quanto ao blog, infelizmente, não o actualizo há algum tempo por falta disso mesmo – o tempo, o tempo… Mas tenho que o voltar a fazer porque nele encontro outras duas das minhas paixões: escrever e fotografar. Vou publicando as fotografias na página de Facebook da marca, mas gosto mais de as ver contextualizadas no blog/site e na sua imagem.

 

Tribuna Alentejo: Se lhe pedíssemos para escolher uma peça, conseguiria fazê-lo?

Cristina Alves: Sem pensar muito – o Caçador de Sonhos. O primeiro que concebi foi para a minha pequena M. Ela estava a passar pela fase dos pesadelos e acordava durante a noite vezes sem fim. Além do mais estava a tentar deixar as chuchas (usava duas, uma para chuchar e outra para segurar) e acreditava que estas a protegiam dos pesadelos. Quis fazer alguma coisa que lhe transmitisse a sensação de protecção e incluísse as chuchas, sem que ela as conseguisse alcançar. Através de uma breve pesquisa, rapidamente cheguei ao caçador de sonhos tradicional. Não tinha penas, mas tinha um passarinho atento, a teia e os objectos pessoais (as chuchas). Desde então não parei de os fazer. Nem sempre mos compram conscientes do seu conceito, mas como peça decorativa. De qualquer forma tento sempre chamar a atenção para a sua utilidade tradicional.

Para melhor desempenhar as suas funções, faço questão de tecer a teia em ambiente tranquilo, a cantar ou a ouvir música. Mal não lhe fará e para mim funciona como uma espécie de meditação! (risos)

 

Tribuna Alentejo: Que tipo de peças lhe encomendam mais?

Cristina Alves: Não consigo precisar. Depende… durante estes meses tenho sempre muitas encomendas de lenços bordados para os casamentos e saem imensas sardinhas, no Natal saem as decorações temáticas e as peças em lã, entre as quais os xailes, muitos xailes! Seja como for, vendo sempre muitos acessórios e decorações (risos) …são as peças que produzo maioritariamente.

 

Tribuna Alentejo: Há alguma história interessante associada à Mint Handicrafts que queira contar?

Cristina Alves: Não me ocorre nenhuma história interessante, mas garanto que tenho conhecido muita gente interessante através da Mint Handicrafts, alguns anónimos e outros mais conhecidos do público.
Tenho contudo um facto curioso. Desde que bordei os primeiros lenços para casamento, tenho recebido dezenas de encomendas para ofertas aos pais e aos noivos. Das encomendas recebidas, cerca de 75% são feitas por noivas com o nome “Sofia”. É curioso, não é?

 

Tribuna Alentejo: Quem são os principais clientes? Nota que há um público específico para estas peças?

Cristina Alves: Não tenho um público específico. Online tenho um público muito variado, mas noto que em feiras, recebo mais atenção por parte de jovens e estrangeiros.

 

Tribuna Alentejo: O que espera para a Mint Handicraft a longo prazo? Há alguma peça que queira criar e ainda não tenha tido oportunidade?

Cristina Alves: O que espero? Que continue a crescer sempre! Isso é sinal que mantenho a criatividade e público para as minhas peças. Desde o início que há um tema que gostaria de tocar. Estremoz é o berço de uns bonecos de barro muito particulares. Há um deles cujo conceito me atrai – o amor é cego. Gostava muito de conseguir criar uma peça sob este mote. Um dia…

A curto prazo, pretendo colocar peças da Mint Handicrafts em lojas de artesanato. Brevemente iniciarei os contactos neste sentido.

 

Tribuna Alentejo: E em relação ao Alentejo. O que gostaria que acontecesse a longo prazo?

Cristina Alves: Gostaria que jamais perdesse a sua identidade. Que não deixassem de existir aldeias brancas genuínas com velhotes sentados às portas de casa ou reunidos em bancos de praças e crianças a brincar sem medo (do trânsito, de estranhos…).
Quero que seja atractivo, sem que seja alterado!