18 Julho 2015      20:36

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MANDELA – UMA GRANDE CAMINHADA PARA A LIBERDADE

Rolihlahla Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918, em Mvezo. O líder histórico sul-africano é conhecido por vários outros nomes além de Mandela e sim, Rolihlahla era o seu nome próprio “original”.

Sabia que tinha 6 nomes?  

1 - Rolihlahla - foi chamado Rolihlahla Mandela pelo pai. Em Xhosa, Rolihlahla significa agitador, o «que traz problemas». 
2 - Nelson - foi-lhe dado pela professora no primeiro dia de aulas na escola primária. em Qunu, e não se sabe de alguma razão especial, apenas que era um nome muito popular na altura. 
3 - Madiba - é o nome do clã Thembu a que Mandela pertencia e foi também o nome de um chefe Thembu no século XIX. Chamar Madiba a Mandela é sinal de carinho e respeito. 
4 - Tata - significa «pai» em Xhosa; como é considerado o pai da democracia na África do Sul, Mandela é carinhosamente tratado por «Tata». 
5 - Khulu - em Xhosa, Khulu é uma abreviatura de «Ubawomkhulu», que significa «avô» e também é sinónimo de grande e supremo.
6 - Dalibhunga - aos 16 anos, Mandela foi iniciado na vida adulta numa cerimónia tradicional Xhosa e aí recebeu o nome de Dalibhunga, «criador ou fundador da conciliação, do diálogo». Deve ser precedido por «Aaah!»: «Aaah! Dalibhunga».

 

A família de Mandela – um de treze filhos - era de nobreza tribal. A educação que recebeu na sua infância era, sobretudo, oral e aprendia perguntando coisas aos mais velhos.

Foi em 1925, com 7 anos, que foi para a escola primária, na vila de Qunu. Foi aí que recebeu – como era prática usual – um nome inglês: Nelson.

Em 1927, com 9 anos, o seu pai faleceu e Mandela vai para a vila de Mqhekezweni onde o regente do povo Tembu, Jongintaba Dalindyebo, se responsabiliza pela sua educação.

Foi na escola preparatória Clarkebury Boarding Institute - um colégio exclusivo para alunos negros da elite e que era dirigido por um reverendo branco – que Mandela ganha uma visão mais ampla do mundo e apertou a mão ao diretor Harris, branco, o primeiro a quem Mandela apertou a mão.

Mandela adaptou-se tão bem no colégio interno que concluiu em dois anos o curso de três.

 

Mais tarde, em 1939, Mandela foi para Fort Hare - a primeira universidade da África do Sul a ministrar cursos para negros – onde existiam só 150 alunos. Acabou por se tornar uma incubadora de líderes revolucionários que mais tarde formaria o núcleo de comando do Congresso Nacional Africano. Foi também lá que travou contato com a cultura clássica ocidental e começou a praticar atletismo e boxe.

Quando estava no segundo ano, Mandela participou de uma manifestação contra a baixa qualidade da comida; assim, em protesto, boicotaram a eleição do conselho de estudantes. Apesar disto, alguns alunos votaram e Mandela acabou eleito; confrontado com tal escolha, Mandela recusou e o reitor deu-lhe dado duas opções: assumir o cargo ou sair da faculdade. Mandela saiu.

Ao regressar a Mqhekezweni, Mandela poderia ter muito bem ter sido um chefe tribal, destino ao qual escapou – tinha então 23 anos - fugindo de um casamento arranjado pelo rei Jongintaba e foi para a capital, Joanesburgo, não porque a esposa arranjadas fossem feias, nem a viu, mas justamente porque, já conhecedor da cultura branca, desejava um casamento romântico. Na capital acabaria por iniciar a atuação política. Chegou a dizer que se não tivesse fugido "...hoje seria um chefe muito respeitado, sabe? Teria uma barriga bem grande, muitas vacas e carneiros.”

 

Passando do interior rural para uma vida errante nos primeiros tempos em Joanesburgo, a rebelde na faculdade, Mandela tomou consciência na capital sul-africana do abismo de direitos e deveres que separava brancos e negros no país. Este choque foi o dínamo na sua luta contra o racismo. Acabaria por transformar-se num jovem advogado e líder da resistência não-violenta da juventude, onde começou por participar informalmente de reuniões do Congresso Nacional Africano (CNA). Em 1944, casou-se com Evelyn Mase, a primeira das suas três mulheres, e, com Sisulu e Tambo, fundou a liga juvenil do CNA, a ANCYL e que pretendia mudar a postura subserviente do partido face aos brancos. Chocaram ao lançar o manifesto "Um homem, um voto" - onde denunciaram que 2 milhões de brancos dominavam 8 milhões de negros e detinham 87% do território.

Mandela começa a tornar-se cada vez mais popular e, em 1948, foi eleito secretário nacional da ANCYL, e executivo nacional do CNA, pela região do Transvaal.

 

Mas se os movimentos de libertação nos quais Mandela estava envolvido pareciam estar a ter um crescente, a vitória nas eleições presidenciais Partido Nacional (Nasionale Party, em africâner), um partido dominado pelos brancos de origem europeia, foi um rude golpe. O Apartheid (significa em africâner “condição de não fazer parte de algo” - um dos regimes mais violentos e simbólicos do segregacionismo e racismo do século XX – teve o seu início.

Uma das medidas foi a tomada de terras de negros, mestiços e indianos; num claro exemplo desta ação, mais de cinquenta mil negros moravam em Sophiatown, Joanesburgo, e foram todos desalojados.

Em 1952 teve início a Campanha de Desafio e o seu marcante Dia do Protesto. Mandela foi o seu porta-voz e o chefe nacional. Por toda a África do Sul, os negros foram convidados a usarem os espaços reservados aos brancos: casa de banho, escritórios públicos, correios, etc. A iniciativa resultaria na prisão de Mandela durante dois dias.

 

Em 1956 – apesar de já divorciados, ele e Evelyn viviam juntos – a sua casa é invadida e revistada pela polícia. Foram apreendidos documentos e Mandela é preso, em frente da mulher e dos filhos. No mesmo dia forma presos mais 144 pessoas foram detidas no mesmo dia.

Mandela era então um advogado bem-sucedido e tornara-se um bon vivant: frequentava restaurantes e deslocava-se num carro americano importado.

Após um segundo casamento, com Winnie, Mandela entrou para a clandestinidade, e o seu casamento era uma série de encontros furtivos planeados com a máxima segurança.

 

Os confrontos subiam de tom e o princípio da não-violência acabaria por terminar em 1960, quando o líder do CNA, o chefe Luthuli autoriza Mandela a levar a cabo a constituição de um movimento de resistência pelas armas o “Umkhonto we Sizwe” – "Lança de uma Nação" - também conhecido pela sigla "MK", o braço armado do CNA. Segundo o próprio Mandela, a instituição não poderia ser o começo de um militarismo; a organização deveria ser uma força militar totalmente subordinada a um órgão político central. O treino militar seria paralelo ao político, de forma a ficar bem definido que a revolução servia para tomar o poder, e não para habilitar militares.

"Nós adotámos a atitude de não-violência só até o ponto em que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não-violência e usamos os métodos ditados pelas condições. – declarara mais tarde.

 

Em 1960, um movimento opositor do Congresso Pan-Africano organizou um protesto para queimar os livros de controlo – os livros que impediam a entrada de negros em áreas do distrito de Sharpeville, no nordeste sul-africano. A manifestação que era pacífica no início, foi reprimida pela polícia e tornou-se num violento confronto, tendo as forças de segurança aberto fogo contra a multidão negra. Morreram 69 pessoas e 178 ficaram feridas. Passados uns dias, o Estado de Emergência é decretado pelo governo; em resultado disso, Mandela e outros revoltosos presos e o CNA foi proibido.

Um ano depois, Mandela sai da prisão e deixa o país em busca de apoio externo e treino militar. Mas em 1962 volta a ser preso e desta vez é condenado a cinco anos de prisão, por incentivo a greves e por viajar ao exterior sem autorização governamental.

 

Em 1964, novo julgamento. Mandela desta feita é condenado à prisão perpétua por sabotagem e por conspiração para promover uma invasão externa da África do Sul. Declarou-se inocente das acusações - mas confessou-se culpado por lutar pelos direitos humanos, pela liberdade, por atacar leis injustas e por defender o seu povo; admitiu ter feito sabotagens - podia ter omitido - desafiando o governo a enforcá-lo. Falou por quatro horas, e concluiu: "Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra o domínio branco, lutei contra o domínio negro. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática, na qual as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer."

 

Mandela viria a passar 27 anos na prisão - inicialmente em Robben Island onde lhe foi dado o número 46664. A sua cela tinha dimensões reduzidas: de 2,5 metros por 2,1 metros e uma pequena janela de 30 cm. Na Ilha de Robben ficou privado das informações do mundo exterior lá não eram permitidos jornais. 

A sua mãe visitou-o março de 1966; após esta última visita, ele teve a sensação que era a última vez que a veria. Nosekeni Fanny viria a falecer em setembro de 1968; morreu com a crença que o filho era um criminoso - nunca entendera sua luta.

Em 1969, Mandela recebeu na cela a notícia da morte do seu filho mais velho, Thembi. No dia seguinte Mandela teve um comportamento igual aos dos outros dias, trabalhando na pedreira. Queria mostrar a todos que o drama pessoal não o tinha inutilizado e que continuava forte.

Mais tarde, seria transferido para as prisões de Pollsmoor, de segurança máxima e de Victor Verster, seis anos depois, onde passou a morar numa cabana no complexo penitenciário.

 

A mudança para Pollsmoor foi um avanço considerável: situava-se na Cidade do Cabo e lá a família poderia visitá-lo mais facilmente. Ele e os companheiros Sisulu, Kathrada, Raymond Mhlaba e Andrew Mlangeni passaram a ocupar a mesma cela.

Em 1976 o Soweto revoltou-se e a rebelião resultou numa feroz repressão com centenas de mortos. As entidades internacionais e reprovaram e o isolamento internacional da África do Sul acentuou-se. As visitas de Winnie tornaram-se mais eram raras. A própria Winnie, de 1958 até 1985, recebeu ordem de restrição, expulsão e proibições por vinte e quatro vezes prisões. O isolamento de Mandela acentuava-se também e piorou quando não lhe concederam permissão de ver suas filhas Zinzi e Zenani, então com 2 a 16 anos.

Mesmo estando preso, Mandela foi homenageado pelo mundo fora: em 1983 recebe o doutoramento em Direito pelo seu "compromisso altruísta para com os princípios de liberdade e justiça" pelo City College de Nova Iorque e, no mesmo ano, é feito cidadão honorário da cidade grega de Olímpia.

 

Fora da prisão, em 1985, o CNA empreendeu uma campanha para tornar o país ingovernável; o presidente Botha chegou a declarar aos seu povo que precisavam "adaptar-se ou morrer".  No mesmo ano, Mandela foi operado à próstata num hospital fora da prisão. Quando voltou,  foi-lhe noticiado que não voltaria para a sua cela comum, e ficaria isolado dos demais. Mandela não protestou.

Mais tarde, Mandela confessou que aproveitou esse facto para fazer algo com que os seus companheiros de luta não iriam estar de acordo: negociar com o governo; iria agir por conta própria, sem consultar ninguém.

Escreveu ao ministro da Justiça, Kobie Coetsee, informando-o da sua posição e disponibilidade. A resposta chegou um ano depois.

 

Em 1985, rejeitou a oferta de liberdade condicional proposta pelo presidente Botha - em troca, Mandela tinha que prometer não incentivar a luta armada na África do Sul.

As eleições entre os brancos sul-africanos de 1987 voltaram a dar – massivamente - o poder ao Partido Nacional: 82% do eleitorado. Mesmo com este resultado, o governo de Botha continua a negociar com Mandela.

Mandela foi mesmo levado para fora da prisão para realizar uma viagem pelo país, num carro blindado, para que o conhecesse duas décadas depois de encarcerado. Ninguém o reconhecia; a sua última foto publicada datava de 1962.

Em 1989, Botha recebe Mandela em sua casa. Acabaram por descobrir que tinham ambos muito em comum. Passado pouco tempo, a saúde de Botha piora; de aí em diante seria Frederik de Klerk a assumir as negociações com “Madiba”. Nelson Mandela disse então que de Klerk “é o mais sério e honesto dos líderes brancos” com quem ele negociou.

 

No dia 11 de fevereiro de 1990, e após uma forte campanha internacional, Mandela é finalmente libertado. "Quando me vi no meio da multidão, alcei o punho direito e estalou um clamor. Não havia podido fazer isso desde há vinte e sete anos, e me invadiu uma sensação de alegria e de força."

Nos muitos encontros públicos que então se realizaram, Mandela gritava "Amandla!" ("Poder!), e a multidão respondia - "Awethu!" ("Para o povo!"). Os seus discursos já não eram inflamados; a revolta tinha dado lugar à vontade de conciliação, algo que desiludiu os mais radicais.

O mundo que Mandela descobriu cá fora foi um choque de inovações. Em 1958, quando foi preso, nem sequer existia a televisão e agora já havia telefones nos aviões.

Em 1991, foi eleito presidente do CNA e recebeu, de Portugal, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Mandela era agora um verdadeiro estadista.

 

Em 1992, um referendo entre os brancos deram ao governo, com mais de 68% de votos, o aval para as reformas e o que permitiu a realização de uma futura constituinte.

Um ano depois, Mandela e o já então presidente Frederik Willem de Klerk, foram condecorados com o prémio Nobel da Paz pelos seus esforços conjuntos pela reconciliação do povo sul-africano.

Em 1994, depois de mais de 40 anos, termina o Apartheid e Mandela é eleito presidente nas primeiras eleições multirraciais do país.

Fez uma nova Constituição sul-africana, e voltou a divorciar-se.  

Em 1998, casa com a viúva de Sambora Machel, Graça Machel e, em 1999, deixa a presidência sul-africana.

Dez anos depois, em 2008, já com mais a morte de um filho, a descoberta de cancro e a diminuição acentuada da sua vida pública, Mandela completava 90 anos e pedia que as gerações futuras continuassem lutando por uma sociedade mais justa.

A sua última aparição pública foi na cerimônia de encerramento do Campeonato do Mundo, realizado na África do Sul, em 2010.

Aos 95 anos, em sua casa de Joanesburgo, a 5 de dezembro de 2003, Mandela faleceu. O presidente sul-africano Jacob Zuma anunciou a morte do seu antecessor: "A nação perde seu maior líder".

Na página oficial de Mandela, na rede social Facebook, foi colocada uma mensagem sua, de 1996: "A morte é inevitável. Quando um homem fez o que considera seu dever para com seu povo e seu país, pode descansar em paz. Acredito ter feito esse esforço, e é por isso, então, que dormirei pela eternidade.”