10 Setembro 2015      19:03

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LOUSAL, SEMPRE LOUSAL

Final de julho. O dia acordou disposto à aventura, exposto à novidade. Rumei em direção ao Lousal instigada pela curiosidade de ver a mudança (de forma e conteúdo) acontecida neste antigo complexo mineiro.

Depois de passar a ribeira de Corona a estrada curva-se e surpreende-nos com a antiga paisagem mineira. Demorei o olhar nos imponentes edifícios que outrora secundavam a atividade da mina. Foi este o primeiro dos muitos “espetáculos de cortar a respiração” que o Lousal me proporcionou…

Apesar de a paisagem ser nitidamente diferente da típica planície alentejana, não estranhei o Lousal. Entranhou-se em mim desde o primeiro momento. Invasivo. Evasivo…

 Ali tudo é ocre, laranja, vermelho, quente… Sabor de fogo, odor a mina.

No meio do calor é quase impossível imaginar que, esta região, já tenha sido o fundo de um mar. São 350 milhões os anos que nos separam desses fundos marinhos pejados de atividade vulcânica que deu origem a importantes jazigos de sulfuretos maciços polimetálicos na forma de pirites e calcopirites. Foram estes e outros minérios que impeliram os homens a esventrar o solo para satisfazer a fome de conhecimento, ou de fama, ou de riqueza,  ou de pão…      

As horas sucedem-se doces e densas. Mergulhei numa galeria da mina, nesse outrora mar que agora é sólido e cheio de histórias. Deslumbrei-me com o vermelho gritante das águas das lagoas da corta. Aprendi um mineral, descobri o voo de um morcego…

Apenas o confronto com a crueza da vida dos antigos mineiros foi sufocante. Expirei os meus fantasmas questionando as mães e esposas desta terra: “Como é que conseguiam conviver com a partida diária, sem regresso marcado, dos vossos amores?”

Era natural – tranquilizaram-me…Filhas e irmãs de mineiros, facilmente passavam à condição de esposas e de mães de “homens toupeiras”. O esclarecimento não tornou menos lancinante aquela realidade, nem diminuiu a vontade de me vergar perante a bravura das gentes da mina.

Hoje, no Lousal, já não se procura pirite no âmago da Terra; exploram-se formas de difundir a Ciência, descobrem-se sorrisos nos visitantes...

À entrada do Centro Ciência Viva do Lousal pode ler-se a frase “Lousal, sempre Lousal”, ao lado dos múltiplos rostos que esculpiram esta localidade.

Da antiga mina continuam a ouvir-se os ecos, amplificados pelos novos “mineiros”, os monitores que nos recebem com a entrega que só o verdadeiro amor à Ciência permite.

As memórias das vidas desta terra ficarão gravadas em telas, máquinas, edifícios; os novos projetos cristalizarão as lembranças do trabalho fecundo que fez nascer o Lousal.

O tempo fossilizará a paisagem mineira.

O Lousal perdurará…