6 Dezembro 2015      17:08

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FELLIPA LOBATO: "CAMINHANDO" POR FINS HUMANITÁRIOS

Felippa Lobato nasceu em Lisboa em 1960, mas desde há muito que reside em Évora. É uma ativista política em defesa dos animais e da natureza e é a mais recente artista galardoada com o prémio “Mais Arte & Fotografia” da revista Mais Alentejo.
 
Realizou a sua primeira exposição em Lisboa, em 1984, e desde então já foram 30, essencialmente em Lisboa e no Alentejo. Tem obras em várias coleções particulares e em coleções e Museus como no Museu de Arte Contemporânea, no Centro de Arte Moderna da fundação Calouste Gulbenkian, nas Câmaras Municipais de Évora, Reguengos de Monsaraz e Oeiras, na Fundação AMI, na Fundação Luís de Molina, entre outros.
 

A sua mais recente exposição é “CaminhANDO” – composta por desenho e pintura - e está exposta no NERE, o Núcleo Empresarial da Região de Évora, até ao próximo 8 de janeiro, das 9h às 13h e das 14h às 18h. Esta exposição conta com 40 obras, de 1983 a 2015, e tem um objetivo solidário: ajudar a ANDO, a Associação Nacional de Displasias Ósseas.
 
As displasias ósseas são doenças raras de origem genética que afetam profundamente o desenvolvimento do esqueleto. Há mais de 200 tipos de displasias, também conhecidas por nanismo e todas as formas são crónicas, incapacitantes e irreversíveis.
 
A ANDO dá apoio às pessoas com displasias ósseas e aos seus familiares e tem como objetivos informar, criar pontes, melhorar as condições sociais, médicas, legais, jurídicas e humanas num ambiente de amizade e partilha.

O TRIBUNA ALENTEJO esteve à conversa com Fellipa Lobato:

 

TRIBUNA ALENTEJO (TA) – Como surgiu esta parceira com a ANDO? As obras em exposição surgiram antes ou já tiveram alguma inspiração na parceria?

Felippa Lobato (FL) – Esta parceria nasceu de forma muito natural. Acompanhei o nascimento da ANDO, pois a sua presidente é há vários anos, a médica veterinária dos vários gatos e cães que vivem comigo e de quem sou cuidadora. Desde logo disponibilizei-me em colaborar com esta instituição com fins humanitários pois há mais de 30 anos que o faço com outras instituições com o mesmo cariz. Sendo uma exposição de beneficência, deixo-vos algumas das imagens dos desenhos datados de 2015.

Algumas das peças (desenhos sobre tela), atualmente expostos no NERE, datadas de 2015, nasceram para este evento. Parte destes desenhos conjuntamente com outros também criados este ano, fazem parte de um livro intitulado FIOS DE LUZ e que vai ser lançado no próximo mês de janeiro, dia 6 às 18h, no belo Palácio D. Manuel. Lançamento este que terá como apresentadora do livro a escritora Sara Rodi. Para este lançamento deixo desde já o convite para os leitores da Tribuna Alentejo.

Dado que o auditório do NERE tem mais de 200 m2 recorri a peças (pinturas e desenhos) de grandes dimensões que fazem parte da minha coleção e que permitem aos visitantes terem uma ideia cronológica de meu percurso de mais de três décadas como pintora.

TA – Pode falar-nos um pouco da ANDO e do seu trabalho?

FL - Associação Nacional de Displasias Ósseas – ANDO Portugal é uma associação sem fins lucrativos que na área das DISPLASÍAS ÓSSEAS serve a comunidade, apoiando-a com 23 objetivos indicados no artigo 5º dos estatutos da associação. Para os leitores interessados em conhecer estes objetivos poderão ler detalhadamente neste link: https://andoportugalorg.wordpress.com/acerca/estatutos/

TA – Como surge o nome “Caminhando”?

FL - O título “CaminhANDO” nasceu da ideia de que a trajetória de cada ser humano é constituída pelo ato de caminhar pela existência, sendo que o verbo no gerúndio indica ação, exatamente o que se pretende que a ANDO venha a ter em Portugal. O ato de caminhar está associado a algo que tem dinâmica, que tem estrutura para existir, neste caso, com a determinação necessária para materializar os objetivos da ANDO.

TA – E, falando agora um pouco mais sobre a Felippa, quando e como sentiu a artista em si?

FL - Desde que tenho memória de mim mesma que senti que era diferente da maioria. Contudo só aos 16 anos é que tornei consciente que a minha natural área de expressão da alma era a pintura, o desenho e a escultura. Pintei as minhas primeiras telas em 1976 e desde ai não parei mais.

TA – Onde vai encontrar a sua inspiração?

FL – Encontro-a dentro de mim mesma. É no silêncio que mergulho e trago de lá imagens que materializo no suporte.

TA – Tem algum lugar preferido para trabalhar a sua arte?

FL - Sim, no meu atelier que atualmente está integrado na paisagem alentejana.

 

TA – Que marca própria consegue identificar nas suas obras?

FL - O que caracteriza a minha expressão é algo em que o observador é convidado ao mergulho no interior de si mesmo, para de seguida constatar que o que diferencia o macro do micro da estrutura da matéria, é a escala.

 

TA – Qual foi a obra, ou a exposição, em que se sentiu mais realizada?

FL – Como vivo o PRESENTE, a minha natural resposta é exatamente a de que é esta a exposição que mais me realiza. Os desenhos nascidos este ano são efetivamente a “escrita” do ser humano que hoje Sou. Cada momento que vivencio é sempre o momento que me permite cumprir-me como ser humano na Terra, dai ser chamado de Presente, algo que nos é oferecido.

 

TA – Além da arte, a Felippa é também uma ativista política e social. Consegue encontrar tempo para tudo?

FL - Desde 1974 que, na proporção da minha consciência, tenho tido atividade social e política. Quando naturalmente se nasce uma materializadora de sonhos, pois tudo o que o ser humano cria, nasce do mundo da não matéria (ideias) é uma consequência natural essa característica se manifestar em tudo aquilo que faço. Desde catorze anos que sempre senti que a sociedade se encontra fracionada, sendo esta realidade o espelho do estádio de consciência da maioria dos seres humanos. Dai as Artes não serem reconhecidas, pela maioria, como algo de essencial na existência da espécie humana.

Como a política está felizmente longe de ser expressa somente através de partidos políticos, sempre que me é possível, exerço ação política em tudo o que até hoje me é permitido criar ou participar.

Quando se faz o que se AMA nasce sempre TEMPO para realizar essa manifestação de AMOR.

 

TA – Que efeitos acredita que arte e a cultura têm na sociedade?

FL – Quando é efetivamente Arte, a sociedade humana recebe, consciente ou inconscientemente, a sua emanação vibratória, provocando no observador emoções de altíssima qualidade, ativando tudo o que nela há de mais sublima. É um momento de UNIDADE no ser. É um momento de plenitude. A Arte é intemporal pois é a manifestação da Consciência Maior, onde a sabedoria habita.

Se olharmos a “cultura” como algo composto de manifestação de hábitos; crenças; conhecimento; costumes; leis e do registo da consciência social através da técnica da pintura, da escultura e da música, teremos o “retrato” que é sempre temporal, da consciência coletiva.

Atualmente a sociedade humana, dita civilizada, está em profunda transformação. A mudança de paradigma está claramente em curso revelando de forma incontornável os efeitos desastrosos de como uma elite profundamente desestruturada pelo “cancro” do TER, tem vindo a desgovernar o mundo.

O ambiente é atualmente um dos elementos acelerador do despertar de consciência de milhares de seres humanos e é esse mesmo despertar que é, no agora, o grande motor da Mudança, rumo a uma sociedade do SER.

 

Imagens de João Pereirinha para TRIBUNA ALENTEJO