11 Novembro 2015      20:06

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EMPREENDEDORISMO – PARTE III

A questão é que o perfil de empreendedorismo em Portugal é diferente daquele que considero que deveria ser. Porquê?

Foi assim que terminou a minha crónica da semana passada. E a resposta, curiosamente, foi dada na véspera da saída dessa crónica. E não foi por mim, mas sim pelo meu colega (de profissão e de crónicas) Rodrigo de Passos. Portanto, esta crónica podia ser escrita a quatro mãos. E juro que não foi nada combinado! (o Rodrigo pode confirmar).

O grande mas que eu falava a semana passada era, de facto, a diferença entre empreendedorismo por necessidade e por oportunidade. (Re)Baralhando o que o Rodrigo disse, podemos identificar o empreendedorismo por necessidade como sendo o de “única alternativa”. Lá está, aquele que vai gerar, basicamente, o autoemprego. O empreendedorismo por oportunidade tem um cariz diferente, mais associado à inovação.

Existe um relatório, de seu nome Global Entrepreunership Monitor, que mede o empreendedorismo numa série de países. Em 2014 foram mais de 70 países analisados e divididos em três grupos: economias orientadas pelos fatores de produção (tendencialmente países em vias de desenvolvimento), economias orientadas pela eficiência (tendencialmente países emergentes) e economias orientadas pela inovação (tendencialmente países desenvolvidos). Os cinco países com maiores níveis de empreendedorismo foram: Camarões, Uganda, Botswana, Equador e Peru. Exatamente porque nestes casos a maioria dos empreendedores são-no porque não têm alternativa.

Portugal faz parte do terceiro grupo de países: é orientado para a inovação. No entanto, dentro deste grupo de países, está no grupo daqueles que apresentam uma maior percentagem de empreendedorismo por necessidade, como pode ser comprovado pela análise da Figura 1.

 

Figura 1. TEA e TEA por necessidade (países orientados pela inovação). Fonte: GEM

 

E este é, claramente, o nosso problema. E para o qual o Rodrigo utiliza um exemplo fantástico: para quê andarmos a “chover no molhado” ao apoiar um café que é igual a tantos outros? Não que o dono do café não tenha valor ou não mereça. Mas é que esse café, igual a tantos outros, muitas vezes apoiado por dinheiros públicos, não vai gerar valor. É necessário transformar um café num conceito completamente diferente!

Mas mudar estas mentalidades custa e tem que se recuar muito no tempo. Tem que se recuar anos. E não, não estou a falar em recuar ao passado: tem que se recuar aos bancos da escola. É que o empreendedorismo também se molda. E temos que, como indica e muito bem o Rodrigo, procurar o “tal” empreendedorismo… E isso passa pela formação do empreendedor. Dar-lhe as ferramentas para ele perceber que deve pensar em ser diferente.

Orgulho-me de poder dizer que, na minha humilde atividade como docente de Empreendedorismo na ESAE, acho que consigo puxar por este lado. Porque apesar de ter também os “cafés” iguais a tantos outros, também tenho “cafés gourmet”. As ideias que os meus alunos apresentam e materializam depois em trabalhos têm obtido prémios. Felizmente temos empreendedores dos tais, Rodrigo! E no nosso Alentejo…

As minhas últimas três crónicas apresentaram alguns números e algumas expressões relacionadas com a Economia. Confesso que muitas vezes esta profissão deixa muitas pessoas à nora. Nas próximas crónicas vou tentar desmistificar que faz na realidade um Economista. Que é muita coisa…