14 Dezembro 2015      19:42

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ECONOMIA DAS ALFACES: A TROCA

100 NOTAS DE ECONOMIA

Na minha crónica anterior falei sobre a importância da tolerância para que filosofias de produção sustentáveis e biológicas pudessem coexistir com lógicas empresariais e económicas, e de que este poderia ser um caminho para deixar para trás o estigma da autossuficiência e conseguir, efetivamente, criar valor para a nossa região.

A certo ponto disse até que era muito giro plantar alfaces em canteiros públicos, mas que não bastava para nos alimentarmos.

Hoje continuo o tema. Hoje será a parte II da economia das alfaces.

Por vezes no lugar de ler uma história ao meu filho quando chega a hora de dormir, falho-lhe de economia! E foi assim que uma vez lhe disse: sabias que dantes não havia moedas?

E de facto não havia euro, escudo ou outra moeda qualquer. Simplesmente não havia. As coisas trocavam-se, mercadoria por mercadoria, sem grande preocupação com a equivalência de valor. O pescador que tinha pescado mais do que precisava trocava o seu peixe em excesso com quem tivesse, por exemplo colhido milho a mais. Era a forma mais simples e elementar de comércio.

Atualmente este comercio só pode ser associado a povos primitivos, a economias rudimentares ou a uma interessante história de adormecer.

Mas será assim tão primitivo? “Olhe que não, olhe que não!”

Todos sabemos que o nosso Alentejo é uma região singular, que ainda preserva grande parte da sua identidade em “aldeias” mais pequenas ou em “aldeias” não tão pequenas. Trabalhei durante uns meses numa dessas “aldeias” pequenas, com pouco mais de 2000 habitantes! E consegui perceber que esta economia primitiva está a emergir, podendo ser encarado como um fenómeno muito interessante.

Será fruto do regresso à terra? Da crise económica e da diminuição dos rendimentos? Das preocupações ambientais ou até de saúde, que nos levam a optar cada vez por produzir e controlar o que ingerimos? Serão os tais novos rurais? Será de tudo isto?

Refiro-me em concreto ao facto das pessoas cultivarem e colherem o que a terra lhes dá. Plantarem pepinos, por exemplo. Mas em vez de os procurar vender, vão tentar trocar o seu excesso de produção por quem tenha por exemplo farinha a mais. Com a farinha pedem para utilizar o forno a lenha do vizinho e em troca dão-lhe uns pães. Os restantes pães depois vão ser trocados por ovos. E são estes, que quando chega a hora de ir à farmácia para comprar os medicamentos são deixados lá em troca!

Já imaginaram o caso de alguém que vai ao dentista ver o que se passa com o seu dente teimoso e que “paga” a consulta indo ver o que se passa com a porta do dentista que também sofre de alguma “chiadeira”?

O que é facto é que cada vez mais começam a surgir estas experiências de pessoas que tendo mais ou menos dinheiro na carteira, optam deliberadamente por a deixar em casa. Optam por produzir o que podem e consumir o que efetivamente precisam. Depois trocam…trocam o que produzem ou o que sabem fazer pelo que necessitam.

E será esta uma economia primitiva? Ou uma evolução?

 

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