9 Abril 2015      13:49

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Burro velho aprende línguas!

Quando em julho de 2014, o ministro da Educação, Nuno Crato, anunciou que o ensino do inglês passaria a ser obrigatório a partir do 3º ano de escolaridade já no ano letivo de 2015/2016, esta medida pareceu receber o apoio não só dos professores de inglês, dos pais e educadores, como também da sociedade em geral.

Se, por um lado, o conhecimento da língua inglesa é visto como um instrumento incontornável para o futuro profissional seja em qual for a área, existe também a ideia de que quanto mais cedo começamos a aprender uma língua, provavelmente seremos mais capazes de atingir níveis de competência elevados. Quanto ao primeiro argumento, não há dúvidas sobre a sua autenticidade, basta darmos uma vista d’ólhos nos anúncios de emprego; quanto à segunda asserção, existem vários estudos que parecem sustentar aquela ideia.

Em 1967, o linguista Eric Lenneberg, propôs a Hipótese do Período Crítico na aquisição de uma língua, que começa por volta dos 5 anos e dura até os anos da puberdade. Este conceito foi posteriormente aplicado à aprendizagem de uma segunda língua/língua estrangeira, ou seja, se uma criança for exposta a uma segunda língua durante este período, muito provavelmente conseguirá atingir um nível de competência semelhante às suas capacidades na língua materna.

Entretanto, apesar dos muitos estudos que têm sido feitos nesta área, a linguística contemporânea, mais especificamente a psicolinguística, não foi capaz de comprovar esta teoria, sem deixar qualquer margem para dúvidas. O que os linguistas tendem a concordar é que, para compreendermos o processo de aprendizagem de uma língua, materna ou estrangeira, teremos sempre que considerar fatores linguísticos, cognitivos e sociais para além de, simplesmente, a idade.

Por outro lado, uma das áreas de estudo na qual a linguística se tem debruçado ultimamente é justamente a aquisição de línguas estrangeiras por adultos. E os resultados tem sido extraordinários. Afinal, o cérebro de um adulto é uma estrutura altamente dinâmica, modificando-se e adaptando-se a novas experiências. Muitos destes estudos concluíram que, apesar da idade, somos sempre capazes de aprender algo novo; mas também que, quanto mais velhos, mais difícil será a aprendizagem.

Em termos de aprendizagem de uma língua, geralmente os adultos demonstram maior capacidade de adquirirem vocabulário do que os mais jovens. Já em relação à pronúncia, os adultos têm maior dificuldade em se aproximarem dos sons da nova língua. Mas, segundo alguns linguistas, é justamente este esforço na aprendizagem de uma língua em idade adulta que traz benefícios para a nossa saúde mental.

Por exemplo, estudos recentes indicam que aprender uma língua estrangeira pode ajudar a reduzir a perda de capacidades cognitivas ou, até mesmo, retardar a incidência de demência. Entretanto, não se sabe ainda se a idade em que se começa a aprender uma segunda língua, o nível de competência que atingimos ou a frequência com que usamos a língua no dia-a-dia são fatores decisivos que contribuem para acelerar os benefícios que a sua aprendizagem traz a nível cognitivo.

Mesmo que muitos destes estudos estejam apenas a descortinar as vantagens em se aprender uma língua em idade adulta, falar uma segunda língua mantem o nosso cérebro em atividade e isto, por si só, já é um bom caminho para uma vida saudável.

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                         

                                                                                                                                                                                                                                                                                   Luís Guerra

                                                        Diretor do Centro de Línguas da Escola de Ciências Sociais (CLECS),

Universidade de Évora