29 Novembro 2015      18:12

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BOLORES, ESSES SERES ENCANTADORES

Sempre que nos deparamos com alimentos, sapatos ou roupas com bolor sentimos uma repulsa que é justificável por todos os danos que esses seres nos podem causar.

Raramente temos consciência de que estamos perante um ser vivo que cresce, se alimenta e se reproduz, tal como nós.

Os bolores são seres vivos mas não se podem considerar nem animais nem plantas. Estão classificados, tal como os cogumelos ou como as leveduras, no grande grupo dos fungos.

Estes seres vivos não possuem clorofila, como as plantas, pelo que não conseguem utilizar a energia solar para produzir o seu próprio alimento. Alimentam-se de uma forma semelhante à dos animais, digerindo matéria orgânica e mineral do meio onde vivem. Por esta razão crescem sobre materiais a partir dos quais se podem alimentar (pão, fruta, couro, tecidos).

Uma das formas mais comuns de reprodução usada pelos bolores são os esporos. Um esporo é uma célula única, a partir da qual se pode desenvolver um novo organismo. Esses esporos são quase invisíveis aos nossos olhos. Detetamos a sua existência quando, do bolor, se soltam uns “pozinhos”. Estes esporos são transportados pelo ar se espalham-se pela nossa casa. Se pousarem num local húmido e escuro, onde possam encontrar a possibilidade de se alimentar, começam a crescer.

Quando aparecem na superfície de um alimento, de uma peça de roupa ou sapatos é porque a colónia já está bem desenvolvida no seu interior. Por esta razão é que as nódoas de bolor são tão difíceis de remover e que pode acontecer o pão ter sabor a bolor sem que consigamos detetar estes seres vivos na fatia que ingerimos.

Alguns fungos, além de causarem estragos por provocarem o apodrecimento dos alimentos, também produzem substâncias muito tóxicas (micotoxinas) que usam como meio de defesa. Apesar de nem todos os bolores terem capacidade de produzir estas substâncias, os que o conseguem fazer, podem causar efeitos muito danosos a nível económico e trazer complicações para a nossa saúde.

Os bolores, contudo, não são apenas seres vivos tenebrosos que povoam as nossas vidas. Antagonicamente, alguns deles são também uma dádiva para o nosso paladar ou importantes aliados no combate a doenças.

Vários bolores são utilizados na produção de alguns dos nossos alimentos e um dos mais deliciosos exemplos é o queijo.

A superfície aveludada dos queijos Brie e Camembert resulta do crescimento de bolores que formam uma crosta branca flexível e contribuem para a criação de uma textura lisa e viscosa, além de intensificarem o sabor desses queijos amadurecidos.

Também os voluptuosos Stilton e Roquefort devem o seu gosto intenso e memorável à inoculação de bolores na massa destes queijos.

O apreciado molho de soja e alguns deleitosos vinhos são também produzidos pela ação destes seres vivos arrebatadores.

Além de nos exortarem o palato, determinadas espécies de bolores são fundamentais no combate a bactérias patogénicas pois é a partir destes seres vivos que se consegue extrair muitos dos antibióticos, como as penicilinas, que usamos para nos digladiarmos com algumas das enfermidades que nos molestam.

Alguns tipos de bolor salvam vidas; outros matam. Alguns realçam o sabor de queijos e vinhos; outros envenenam os alimentos. 

Vivendo nas antípodas da nossa consideração, os bolores ocupam um papel preponderante no nosso quotidiano, podendo causar-nos horrores sem, por isso, deixarem de ser encantadores.