10 Dezembro 2015      11:39

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AUTO DA BARCA

A FERRUGEM DO SISTEMA
O processo eleitoral nos Estados Unidos sempre nos proporcionou momentos de entretenimento no mau sentido, relembro candidatos como a Sarah Palin, ou mesmo os candidatos do clã Bush.
Até ao momento nunca tínhamos tido nenhum candidato que me causasse tanto receio, a candidatura de Donald Trump, um self made men, sempre controverso elevou a fasquia a um nível nunca antes visto. Ao pé deste, George H Bush era um “perigoso radical esquerdista”, e nem o impacto financeiro nas suas empresas tem refreado o candidato.
 
Já nem falo nas posições mais radicais em relação a outros temas, basta-me o que tem sido dito e prometido face a construção de um muro a sul, para impedir a chegada de mexicanos (e outro sul americanos) á terra prometida, mas também em relação aos Muçulmanos, e ao perigo de ligar a religião aos atentados que tem sido efetivados em solo Americano, mas também Europeu.
Trump não entende, ou não quer entender, que o problema não é a religião mas sim a radicalização potenciada pelos discursos semelhantes ao dele, é no corte da comunicação entre as partes, é no jogo da diplomacia hipócrita que surgem as condições para poderem surgir lideres religiosos que manipulam os crentes no sentido de semear o terror.
 
Mas mais, nos Estados Unidos, grande parte dos atentados não é feita por radicais religiosos, mas por americanos que pura e simplesmente não estão integrados no seu próprio pais. Se juntamos isso, a possibilidade constitucional de deter armas (sem limite de quantidade ou calibre) permite que se assista a massacres como os que temos vindo a assistir.
Trump não diz, ou não quer dizer, que todos os atentados e massacres, que assistimos nos últimos anos, foram feitos por radicais “cristãos”, e não o vejo a defender limite de entrada a cristãos nos EUA.
 
 Vivemos tempos que recordam a década de trinta do seculo XX, e todos sabemos que efeitos, tiveram os discursos populistas e nacionalistas, nos anos seguintes. E com estes cada vez mais acho apropriado reler a alegoria de Gil Vicente:
 
“As duas barcas tinham encostado ao cais não muito longe uma da outra. A tripulação podia até trocar palavras entre si. 
 Mas isso não acontecia, pois os anjos e os demónios estavam proibidos de se relacionarem por 
causa de uma lei que, embora não fosse ratificada por ambas as partes, tinha o acordo implícito das mesmas. “ 
 
in Auto da Barca do Inferno.