29 Março 2015      14:44

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André Teixeira e o Surf Made in Alentejo

Chama-se André Teixeira, tem 36 anos e cresceu a olhar para o mar.

Aos 10 anos teve a primeira prancha de surf que “não era a sério”. Cresceu no surf numa altura que o surf praticamente não tinha importância desportiva, comercial e empresarial no país. Mas a mudança aconteceu e ele participou ativamente nela. De corpo e alma.

 

Tribuna Alentejo: Construíste com a Filipa Espada a Costa Azul Surf Alentejo. Como é que chegaste ao surf? Nasceu contigo ou aconteceu em alguma mudança radical?

André Teixeira: Nasceu comigo absolutamente.

O meu negócio é a minha paixão e a minha forma de olhar o dia-a-dia desde muito novo! A minha ligação com o mar começou muito antes de fazer surf.

Cresci em Vila Nova de Santo André, (desde os 2 anos de idade) sempre fui à praia durante todo ano com a minha família, o meu avô morava mesmo em frente da praia de Sines, habituei-me a olhar para o mar desde muito cedo.

 

Andre Teixeira

 

Tribuna Alentejo: A entrada no mar fez-se naturalmente. Mas quando começou o surf?

André Teixeira: Aos 10 anos ganhei uma primeira prancha feita de um material meio emborrachado. Tinha duas quilhas e um formato muito semelhante as pranchas de bodyboard, só que eu tentava sempre andar de pé. Queria uma prancha de surf de verdade!!!

 

Tribuna Alentejo: E entre querer uma prancha de surf de verdade e viveres do surf?

André Teixeira: Estive 2 anos a juntar moedas de 20 escudos numa garrafa de 1,5 de água, na altura deu pouco mais de 20 contos.

Vendi a primeira prancha a um amigo por 500 escudos e aos 13 anos a minha mãe ajudou-me a comprar a minha primeira prancha de surf a sério, que acabei por vender ao fim de um ano para comprar uma nova durante uma prova de surf em Viana do Castelo. Comprei-a um surfista profissional.

 

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Tribuna Alentejo: Antes de empresário foste praticante. Como foi feita a transição?

André Teixeira: Fui sempre fazendo o mesmo até hoje.

Aos 15 anos comecei a morar sozinho numa casa da minha mãe para poder continuar a fazer surf regularmente (a minha mãe tinha ido morar para Lisboa na altura). Comecei a sair da minha praia local (São Torpes) e a fazer competições nacionais.

Como morava sozinho e tinha uma casa grande comecei a alugar quartos com a permissão da minha mãe, o que me ajudava a comprar mais material de surf e a poder viajar atrás das ondas.

 

Tribuna Alentejo: Na altura muito dificilmente se percebia haver mercado para o surf.

André Teixeira: Não existiam na altura lojas de surf especializadas nem apoio aos surfistas. O surf era uma atividade vista com alguma discriminação. O surf não tinha rótulo, não existiam escolas, as lojas da especialidade contavam-se pelos dedos em todo território português.

O problema é que o surf não movimentava dinheiro. Por isso a sua importância era tão marginal.

 

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Tribuna Alentejo: E a mudança? A tua visão aconteceu quando?

André Teixeira: Aos meus 18 ou 19 anos surgiu-me um problema de saúde que me tirou do mar durante 2 anos.

Voltei a pôr uma prancha debaixo dos pés novamente, mas com objetivos muito diferentes.

Queria viver do surf e poder contribuir para o desenvolvimento da modalidade por que tanto me apaixonei. Ajudar crianças e jovens na sua formação como atletas, permitir que os acessórios fossem acessíveis a todos e tentar que este desporto de natureza fosse visto com bons olhos.

Tirei um curso de juiz com a federação portuguesa de surf e comecei a trabalhar em provas da modalidade por todo o país. Em simultâneo tirei um curso relacionado com turismo.

Em 2001 tirei uma formação de treinador de surf, numa altura em que morava e trabalhava no Algarve, na empresa de um grande amigo e mentor, Sérgio Wu.

Daí surgiu o meu negócio a sério, fruto do que tinha feito em todos os anos anteriores.

Em conjunto com a minha namorada da altura, Filipa Espada, decidimos lançar em 2002 o nosso projeto CostazulSurf Alentejo - Loja, Escola & Alojamento, pois no Alentejo não existiam lojas de surf especializadas nem escolas.

Vimos uma grande oportunidade de nos instalarmos na terra que nos viu crescer.

 

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Tribuna Alentejo: E como foi o arranque?

André Teixeira: Difícil. Muito difícil.

Tínhamos pouco dinheiro e voltámos para a casa dos pais de forma a podermos andar com o projeto para a frente.

Recebemos o nosso primeiro ordenado ao fim de 2 ou 3 anos. Todo o dinheiro que ganhávamos era para investir no desenvolvimento e crescimento da empresa.

No início não estavam bem regulamentadas as escolas de surf o que nos fez gastar bastante tempo e dinheiro para termos sempre tudo legal.

 

Tribuna Alentejo: E o que vos diferencia das lojas e escolas que já existiam antes e das que foram aparecendo?

André Teixeira: Durante 10 anos a CostazulSurf Alentejo estava muito focada em desenvolver atletas locais para chegarem ao topo de competições nacionais. 

Temos a referência de atletas nacionais de topo que começaram connosco. Lembro alguns como o André Faria, o Vasco Mónica, o João David, o Gustavo Matos, entre outros...

Hoje em dia estamos mais direccionados para o turismo e para a formação de crianças e jovens que pretendam aprender a fazer surf em segurança e todos os truques do nosso oceano.

O respeito, partilha e segurança são pontos-chave para o sucesso e crescimento da nossa empresa.

 

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Tribuna Alentejo: E como está organizado o negócio? Que serviços presta a empresa?

André Teixeira: A Filipa hoje está responsável pela Loja de Surf e Alojamento em Porto Covo e eu estou responsável pela escola de surf, na praia da Vieirinha e Zona Sul Da Praia de São Torpes.

Para além da venda de artigos de Surf e alojamento a CostazulSurf Alentejo organiza aulas de surf para grupos de crianças locais que iniciam a prática do surf a partir dos 4, 5 anos de idade e de acompanhar o seu crescimento e evolução da modalidade até chegarem ao topo de competições nacionais.

Estamos empenhados em encontrar talentos e ajudá-los a “ganhar asas”.

Para além disso temos ATL’s de Verão, parcerias com hotéis, turismos rurais, organização de festas, actividades com o movimento associativo e as escolas.

Trabalhamos também com crianças autistas ou com deficiência.

 

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Tribuna Alentejo: Já te sentiste impelido a sair do Alentejo?

André Teixeira: Tento sempre viajar pelo menos uma vez por ano para fazer surf, trocar contatos e conhecimentos. E uma coisa garanto: Nenhum sítio é melhor que o nosso Alentejo!

O Alentejo tem muita coisa boa, tanto no litoral como no interior, muito para fazer e desenvolver. O Alentejo é um desafio.

Precisamos de acreditar em nós e nos nossos sonhos. Precisamos de ter cá pessoas ativas e com boas ideias!

Apenas falta água do mar um pouco mais quente!!! (Risos).

 

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Nota do Tribuna Alentejo: O André Teixeira integra o movimento Open Coffee Alentejo e está a promover o empreendedorismo na Região.

www.costazulsurf.com

costazul@costazulsurf.com

Facebook:https://www.facebook.com/pages/Costazul-Surf-Alentejo/200227566656876?ref=hl