25 Novembro 2015      22:01

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ALENTEJANO FINALISTA DO "PRÉMIO NAÇÃO INOVADORA"

Desde que Gonçalo Fortes se apercebeu, na empresa de eletromecânica do pai, que tinha encontrado a sua vocação e que as ideias que lhe surgiram na cabeça tinham que tornar-se realidade passou algum tempo.

Hoje, em 2015, com 34 anos, Gonçalo Fortes – natural de Évora - é o fundador e CEO da Prodsmart - um sistema de controlo, gestão e otimização da produtividade direcionado para linhas de manufatura e que pretende acabar com o uso de papel.

Tendo-se licenciado em Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico, onde começou a projetar e desenvolver aplicações, criou após terminar a licenciatura a sua primeira empresa - a Crazydog - que estaria na origem da Prodsmart.

O software criado por Gonçalo Fortes equipa hoje fábricas que produzem para marcas como a Audi, Volkswagen, Mercedes, Louis Vuitton, Chanel ou Hermès e que aumenta a produtividade dos trabalhadores ao facultar-lhes, para cada passo, tablet. A eficácia do software desenvolvido é tal que se estima que o desperdício de papel ronde os 75 a 80% e com reflexos na eficiência industrial na ordem dos 10 a 20%.

O seu projeto é um dos três finalistas do Prémio Nação Inovadora, promovido pela Audi e pela SIC Notícias, competindo com a investigadora Ana Patrícia Ferraz e o fundador da Color Add, Miguel Neiva.

Ana Patrícia Ferraz desenvolveu um protótipo para determinar testes pré-transfusões de sangue, que podem ser essenciais em situações de emergência médica. Este novo sistema permite que seja administrado no paciente o tipo de sangue que é compatível com o seu em apenas 5 minutos.

Já Miguel Neiva, o fundador da Color Add – quiçá o projeto mais conhecido do público em geral - criou um sistema de leitura de cores que pretende ajudar os daltónicos a identificar as cores através de um código universal para cada tonalidade. A revista brasileira Galileu já considerou este projeto como uma das 40 melhores ideias para melhorar o mundo.

O vencedor será conhecido a 30 de novembro e pode votar no seu preferido aqui.

 

O Tribuna Alentejo esteve à conversa com este jovem alentejano:

TRIBUNA ALENTEJO (TA) – Como surgiu o gosto, a aptidão por esta área da eletromecânica? Foi uma revelação ou foi surgindo com o tempo?

Gonçalo Fortes (GF) - Sendo filho de industriais, acabei por crescer nesta área. Durante a adolescência, ajudei na empresa do meu pai como moço de recados. Posteriormente, já a estudar Engenharia Informática, fui desenvolvendo aplicações que ajudaram a melhorar a empresa. Fiz também a implementação do Sistema de Gestão da Qualidade. De alguma forma, estive sempre ligado a esta área da manufactura e aos Sistemas de Informação, o que acabou por se consolidar no actual projecto Prodsmart.

 

TA – Recorda-se do seu primeiro projeto?

GF - Se por primeiro projecto estivermos a falar de projecto profissional, então terá sido o desenvolvimento do Portal de Gestão do Departamento de Matemática da Universidade Nova de Lisboa. No entanto, já desenvolvia sistemas de Algorithmic Trading como projectos pessoais antes da existência da empresa, isto sem contar que queria inventar uma bicicleta voadora e uma cana de pesca automática quando era criança.

 

TA – E após terminar a sua licenciatura, já sabia o que queria, já tinha projetos para criar a sua empresa ou foi algo que surgiu depois?

GF - A empresa surgiu ainda durante a licenciatura, pelo que não houve grande alteração.

 

TA – E este seu projeto ex-libris da Prodsmart, como surgiu?

GF - A Prodsmart surge naturalmente como uma evolução da minha primeira empresa, a Crazydog, sustentada numa ambição de crescimento. A Crazydog era uma software house pura, uma empresa de serviços. Numa procura de criar uma abordagem mais sustentada e escalável, sustentada num produto, acabou por ser natural procurar um problema sobre o qual eu tivesse muito conhecimento e domínio. Isto acabou por ditar a estratégia que viria a estar na origem da Prodsmart.

 

TA – Qual será o próximo passo da Prodsmart? É segredo ou pode revelar?

GF - Estamos em modo de crescimento, pelo que os nossos próximos passos passam por reforçar as vendas e a nossa posição no mercado português, bem como dar o salto para o Reino Unido e a Alemanha.

 

TA – Conhece os outros dois projetos finalistas e os seus projetistas?

GF - Pessoalmente, não. Apenas através do concurso.

 

TA – E o Gonçalo, que outros projetos/planos tem para o futuro? Alguma invenção na calha?

GF - Costumo dizer que um dos elementos essenciais para o sucesso é foco. Neste momento, o meu único projecto de vida é a Prodsmart. Temos uma ambição global, pelo que vai ser necessária muita dedicação para o conseguirmos.

 

TA – E como vê a tecnologia e o desenvolvimento científico em Portugal e, em especial, no Alentejo?

GF - Acho que há muita capacidade e talento técnicos em Portugal, algo que estamos a “exportar” muito. “Exportar” entre aspas, porque não me refiro à saída de pessoas, mas sim ao facto de ser uma proposta de valor exportada através de produtos feitos cá, que actuam no mundo inteiro. Penso que o ponto fraco da tecnologia em Portugal não é a capacidade técnica, mas a capacidade de a comercializar. Quanto ao desenvolvimento científico, acho que devia haver uma ligação muito mais forte e realista entre as universidades e as empresas. Há um desligamento muito grande entre o que é a tecnologia no mundo académico e a sua “produtização” no mundo real.

 

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